Anjo Negro -parte 2

 
O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.       (apetecido)
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.

Autor: Manoel de Barros
Imagem: Grégoire A. Meyer

MORADA VAZIA

 

É incrível como estas coisas começam,

simples troca de carinho, afeto

E a gente se torna réu confesso,

de crimes que muitas das vezes nem cometemos.

 

O meu pecado,

mesmo o maior e mais horrendo,

não fica por aí se escondendo,

Pelo contrário, ele é bem descarado.

Me acompanha pra todo lado.

 

Ah, como era boa aquela vida de rei.

Viver a vida assim à toa,

sem ter que seguir ordens ou lei…

Eu não vou mentir,

eu já fui um vagabundo,

irresponsável, vadio…

e no melhor significado de amante do mundo.

 

Mas, minha vida nunca foi um mar de rosas.

Enfrentei guerras, lutas, dores e muitas provas.

Então, você insensível me diz:

E daí? O que tenho eu haver com isso?

Nesta hora eu te digo:

Nada amigo!

Minhas dores eu trago comigo!

Só não te surpreendas quando chegar a minha vez de bancar o insensível.

E acredite!

Este instante sempre chega,

seja lá o que te suceda!

 

Pois, eu sei que esta estrada é uma jornada vazia.

Nos pintamos de herois para suportar a labuta do dia.

Quando na verdade, o que mais nos corroi,

é a certa de que tudo não passa de pura fantasia.

Porque o que mais nos destroi,

não nos ataca de fora para dentro.

 

Habita em nós!

E nos derrota sem o menor arrependimento.

 

…Anjo Negro…


 
ODE TRIUNFAL   (Alvaro de Campos)   

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  
Tenho febre e escrevo.  
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!  
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!  
Em fúria fora e dentro de mim,  
Por todos os meus nervos dissecados fora,  
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!  
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,  
De vos ouvir demasiadamente de perto,  
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso  
De expressão de todas as minhas sensações,  
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical - 
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força - 
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,  
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro 
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas  
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, 
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, 
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, 
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,  
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, 
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!  
Ser completo como uma máquina!  
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!  
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,  
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento  
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões  
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas! 
Promíscua fúria de ser parte-agente 
Do rodar férreo e cosmopolita 
Dos comboios estrénuos, 
Da faina transportadora-de-cargas dos navios, 
Do giro lúbrico e lento dos guindastes, 
Do tumulto disciplinado das fábricas, 
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas 
Entre maquinismos e afazeres úteis! 
Grandes cidades paradas nos cafés, 
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas 
Onde se cristalizam e se precipitam 
Os rumores e os gestos do Útil 
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo! 
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares! 
Novos entusiasmos de estatura do Momento! 
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas, 
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos! 
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific! 
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis, 
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots, 
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram 
Pela minh'alma dentro!

Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule! 
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras! 
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos; 
Membros evidentes de clubes aristocráticos; 
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes  
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete  
De algibeira a algibeira!  
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!  
Presença demasiadamente acentuada das cocotes  
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)  
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,  
Que andam na rua com um fim qualquer;  
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;  
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra  
E afinal tem alma lá dentro!

(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,  
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,  
Agressões políticas nas ruas,  
E de vez em quando o cometa dum regicídio  
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus  
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,  
Artigos políticos insinceramente sinceros,  
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -  
Duas colunas deles passando para a segunda página!  
O cheiro fresco a tinta de tipografia! 
Os cartazes postos há pouco, molhados!  
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!  
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,  
Como eu vos amo de todas as maneiras,  
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto  
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)  
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!  
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!  
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!  
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,  
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,  
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos! 
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! 
Olá grandes armazéns com várias secções! 
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem! 
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!  
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!  
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!  
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!  
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.  
Amo-vos carnivoramente. 
Pervertidamente e enroscando a minha vista  
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,  
Ó coisas todas modernas,  
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima  
Do sistema imediato do Universo!  
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,  
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -  
Na minha mente turbulenta e encandescida  
Possuo-vos como a uma mulher bela,  
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,  
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!  
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!  
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!  
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,  
Orçamentos falsificados!  
(Um orçamento é tão natural como uma árvore  
E um parlamento tão belo como uma borboleta).

Eh-lá o interesse por tudo na vida, 
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras 
Até à noite ponte misteriosa entre os astros 
E o mar antigo e solene, lavando as costas 
E sendo misericordiosamente o mesmo  
Que era quando Platão era realmente Platão  
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,  
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.

Eu podia morrer triturado por um motor  
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.  
Atirem-me para dentro das fornalhas!  
Metam-me debaixo dos comboios!  
Espanquem-me a bordo de navios!  
Masoquismo através de maquinismos!  
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!

Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,  
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!

(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!  
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!  
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.

E ser levado da rua cheio de sangue  
Sem ninguém saber quem eu sou!

Ó tramways, funiculares, metropolitanos,  
Roçai-vos por mim até ao espasmo!  
Hilla! hilla! hilla-hô!  
Dai-me gargalhadas em plena cara,  
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,  
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,  
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!  
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!  
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,  
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,  
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto  
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!  
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,  
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome  
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos  
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas  
Nas ruas cheias de encontrões!

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,  
Que emprega palavrões como palavras usuais,  
Cujos filhos roubam às portas das mercearias  
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! - 
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada. 
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa  
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão. 
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães  
Que está abaixo de todos os sistemas morais,  
Para quem nenhuma religião foi feita,  
Nenhuma arte criada,  
Nenhuma política destinada para eles!  
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,  
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,  
Inatingíveis por todos os progressos,  
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!

(Na nora do quintal da minha casa 
O burro anda à roda, anda à roda, 
E o mistério do mundo é do tamanho disto. 
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. 
A luz do sol abafa o silêncio das esferas 
E havemos todos de morrer, 
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, 
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa 
Do que eu sou hoje...)

Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! 
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus. 
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios 
De todas as partes do mundo, 
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,  
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.  
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!  
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!

Eh-lá grandes desastres de comboios!  
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!  
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!  
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,  
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,  
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,  
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,  
E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto  
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,  
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje? 
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,  
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,  
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,  
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes  
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,  
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,  
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, 
Engenhos brocas, máquinas rotativas!

Eia! eia! eia!  
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!  
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!  
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!  
Eia todo o passado dentro do presente!  
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!  
Eia! eia! eia!  
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!  
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!  
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.  
Engatam-me em todos os comboios.  
Içam-me em todos os cais.  
Giro dentro das hélices de todos os navios.  
Eia! eia-hô! eia!  
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!

Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!  
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!

Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!  
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!  
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

                        Londres, 1914 - Junho. 

 
ANTOLOGIA DE UM PLEBEU - PARTE II - RECEITA PARA ESQUECER UM GRANDE AMOR!

Esse texto não é meu. Mas, não importa. Eu o teria escrito da mesma maneira....


Às vezes eu fecho os olhos, inspiro e procuro sentir a presença de quem já não está por perto. É um método que eu inventei tempos atrás..., e uso sempre quando o amor se transforma em saudade.

Os grandes amores existem. As grandes paixões existem. Eles existem. Eles simplesmente existem. Eu desejo que todo ser humano possa sentir o que eu um dia já senti. Somente uns poucos minutos daquele entorpecimento juvenil, daquela inundação de sentimentos que enlouquecem, daquela loucura toda que te envolve, te amedronta, aquela confusão monstruosa que vivi quando amei. E quando fui amado. Uma paixão avassaladora que me fez acreditar que eu ainda permanecia vivo. Vivo e amando. E amado. Mas, agora, eu fecho os olhos para dormir. A cama cresceu tanto de tamanho, o meu peito cada vez está menor. E muito mais vazio. Ninguém a me ninar. A minha mão não encontra a sua. Quem foi que viu a minha Dor chorando?! Augusto dos Anjos, "Queixas Noturnas". Mas, no meu caso, diurnas também. Eu quero uma receita para se esquecer um grande amor, o senhor tem aqui para vender? O preço não me interessa, eu só quero poder seguir em frente. Nem precisa ser em frente..., basta seguir. Porque A minha vida sentou-se/ E não há quem a levante Mário de Sá-Carneiro, "Serradura"

E o vazio logo aparece, não dá um minuto de folga (“meter a cara no trabalho” é algo que também não tem funcionado). O telefone não toca naquela hora, a minha caixa de e-mails não tem pena de mim, já não tem novidade boa a me contar. Uma sensação leve e prematura de derrota logo se apodera da gente. Depois ela cresce. Já não é mais sensação, é derrota mesmo. Eu não tenho mais para quem escrever os meus defeituosos poemas, a quem dedicar meus pensamentos, quem vai me acalmar quando a agonia aparece sem avisar? Eu me sinto tão sozinho. Por vezes eu nem me sinto. Meus olhos não vertem lágrimas, o meu coração não dispara. Será mesmo que estou vivo? Ainda nem maldisse toda a minha sina e mazela, nem afoguei minhas (agora) crônicas mágoas na cachaça libertadora, também não há outro perfume no meu corpo. Viver é amar, um dia me explicaram direitinho. Eu era inocente e acreditei. Só inocentes e tolos crédulos aprendem isso, eu tive o azar de ser um deles. Nem ouso reclamar. 

Quando acordei foi em você que eu pensei. Provavelmente pensei em ti durante toda a noite também, mas dessa vez tive a sorte de não recordar. Não importa como minha vida esteja seguindo, é sempre em seu sorriso que meus pensamentos se convergem. Não há fuga nem plano B. Eu aprendi que não é te esquecendo que irei me livrar de você. Não importa quanto tempo transcorra, jamais me esquecerei daquela noite, aquela, quando estupefata você ouviu minha curtíssima e derradeira declaração de amor. Metade do tempo eu reflito sobre o que ela significou e o que ela irá se tornar em alguns parcos anos. Logo, meu coração será de outra, as suas coisas queimarei no quintal (afastando a cachorra para que não se queime) e essa frase eu voltarei a dizer. Mas não para ti, jamais para ti, nunca mais para ti... Você será apenas uma lembrança, feito tantas outras, e eu serei apenas uma lembrança para você... feito tantas outras. Já não me amas? Basta! Irei, triste, e exilado/ Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho Olavo Bilac, "Desterro"

Quem errou mais? Isso não importa agora, logo, posso ficar com toda culpa pelo nosso fracasso. Sempre sonhei com algo diferente, como nos contos de fadas e nos pagodes de três notas (e se me perguntam Que era mesmo que eu queria?/ ”Eu queria uma casinha/ Com varanda para o mar/ Onde brincasse a andorinha/ E onde chegasse o luar”, Vinicius de Moraes, "Sombra e Luz". A realidade foi deveras distinta disso, só Deus é testemunha das minhas queixas. Mas, nesse momento, nada disso importa, nada do que doeu agora importa. Eu vou ficar aqui, sozinho, com minhas lembranças e nosso fracasso. Vou lembrar das partes boas, para me emocionar com a saudade. Não lembrarei de nenhuma briga, nem nada disso! Eu quero uma receita para esquecer dos momentos ruins, dos bons eu não preciso. Não preciso e não quero. Para que esquecer do que me orgulho? Do que me fez feliz? Deixa a saudade me machucar, meu anjo, uma hora ela se cansa. Eu não abro mão de recordar o quanto fomos felizes. Acabou, mas não sem muito amor. É o fim, mas não antes de muitas promessas de eterna felicidade. É isso o que vale, afinal. Eu busco isso a cada instante de minha vida. 

Mas agora você está lá e eu aqui. Está lá seguindo com a sua vida, e eu estou aqui, seguindo a minha. Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte Neruda, "Aqui eu te amo". Ela esta lá vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Acho, realmente não sei dizer (Teus olhos são duas silabas/ Que me custam soletrar./ Teus lábios são dois vocábulos/ Que não posso,/ Que não posso interpretar Fagundes Varela, "Canção Lógica". Eu aqui, não triste, mas saudoso. Às vezes eu olho para os céus para descobrir se sinto algo de novo. Quem sabe um daqueles meus suspiros. Passo horas olhando as estrelas, sem entender por que elas brilham. Elas deveriam fazê-lo somente quando você fosse minha, não em qualquer situação. Mas você segue a sua vida, almoça feliz e se diverte enquanto procuro a receita para te esquecer. Sei que não irei sofrer, o que me castiga é a saudade. Não irei chorar, nem lamentar, tampouco desejar a morte. Irei apenas seguir em frente, sozinho agora, às vezes pensando: o que será que ela faz nesse momento?, agora que chove lá fora! O que será que ela faz? Será que pensa em mim? Será que sorri? Eu abro os braços para envolver a minha vida. 

Lembra da música da Elis? Vou querer amar de novo e se não der eu não vou sofrer...? Preciso te dizer a verdade: se isso acontecer, eu vou sofrer sim, meu coração só existe para amar de novo, espero que você entenda. Eu sigo a minha vida por aqui, você continue a sua por aí. Se conseguir a receita para se esquecer de um grande amor! Não, parece que isso não existe mesmo. A minha sina é seguir em frente, então, e quando não der, chorar, não há problema nenhum nisso, quem aprende a amar, aprende a chorar também Paulinho da Viola, "Amor Amor" . Eu aprendi, pratiquei contigo, jamais te esquecerei. 

Cantemos a canção da vida,/ na própria luz consumida... 
Mario Quintana, "Inscrição para uma lareira"

Autor: Daniel Veríssimo (eyes blue) 11/03/2011

 
-QUANDO ACABOU, MEU MUNDO PAROU!

E, de repente, me fiz mudo.
Não tenho mais nada a dizer.
Aquela bala fulminante que atravessou minha vida,
certamente era você.
Hoje me fiz quieto, parado, calado.
Aquela sensação de que o mundo era meu,
de repente desapareceu, adormeceu...
Quem sabe...
Não sinto mais nada.
Somos apenas a solidão, o vazio e eu.
Nem faço ideia de como tudo aconteceu.
Você chegou no momento mais difícil da minha vida.
Fez do seu horizonte minha única saída.
Despertou em mim sentimentos incomuns,
estranhos até!
Sim, eu não esperava te amar desse jeito.
Me apaixonei até pelos seus defeitos!
Recriei em meus pensamentos suas manias.
Decorei seus tiques e quis realizar todas as suas fantasias.
Sempre fui sincero contigo!
Te avisei que eu sou um caso perdido.
Não sou do tipo que fica em cima do muro,
sou mais como um tiro no escuro! Hum!
Tanto faz!
Nada disso importa mais!
Estou fugindo de mim, dos meus sentidos.
Quero ser novamente um entorpecido.
Não posso e não quero conviver com os ecos da tua voz.
Imaginar aquele futuro que nunca existiu entre nós!
Você sabe, eu sou totalmente sem conserto
e não enxergar isso antes pode ter sido seu pior defeito.
Tantas palavras perdidas ao vento!
Tanta demonstração de sentimento!
Mas, agora tudo acabou.
Nada mais restou do que poderia ter sido um grande amor!

...Anjo Negro...

ALÉM DE MIM, O MAR!

Quando o sol penetrou sorrateiro as frestas da persiana, espreguicei meu corpo amarrotado pelo peso do teu.
Ah! Bem queria eu acordar sempre assim,
com você perto de mim,
até o apagar da velha chama
Como bem cantava Tom Jobim.
Abri as cortinas do nosso quarto
Respirando o ar fresco da manhã.
Você sonolenta me puxa reclamando,
Alisa meu corpo, como se já estivesse me amando. 
Te faço um carinho sossegado,
No corpo completamente extasiado.
Queria dar uma volta no remanso da praia. 
De mãos dadas espiar o mar,
Mas, não resisto aos teus apelos,
Volto à cama pra te amar!

...Anjo Negro...


 
DESPIDA PELO OLHAR!

Ela descobriu,
que eu sei despi-la com os olhos.
E o que minha mente vislumbra,
é de tirar o fôlego!
Cabeça baixa, olhar evasivo,
eu fico apreensivo, quieto no meu canto.
Luto desesperadamente,
para resistir a tanto encanto.
Com seu jeitinho recatado,
ela me olha meio de lado,
e eu quase morro sufocado.
Deliciado com tamanho deleite.
Involuntariamente,
eu molho os lábios para aliviar minha sede.
Tenho pressa!
Urgência!
Meu corpo queima, minhas mãos suam.
Olhar para ela é algo indescritível!
Estudo sua reação,
esperando pelo sim ou pelo não.
Quero tocá-la, senti-la, prová-la...
Meus olhos acompanham cada movimento.
Meu corpo responde com todo o atrevimento.
Quero ser dela!

...Anjo Negro...

 
PAZ E LUZ!

Na hora mágica da madrugada, 
quando a mente enobrece os mais acalantos sentidos,
Todos os sonhos se expandem na penumbra da noite.
Ela visita meu quarto trazendo o aroma adocicado de seu perfume,
No corpo a leveza de uma pluma pairando no ar.
A paz de uma fada encantada vestindo-se de luz prateada.
A sua pele arrepiando-se na emanação divina de nossos desejos.
Num fleche de luz angelical a vejo bela e perfeita.
Ela se faz minha luz, a paz que me conduz,
E eu sou inteiramente dela, minha preciosa donzela. 
Imperfeito e impuro não sou digno de tal elevação sublime.
Quando ela toca meu corpo extasiado, 
sou transportado para o seu universo radiante
de magia e encantamento.
Seu cheiro de inocência e paixão deixa-me louco, perdido.
Tudo nela me atrai, me cativa, me satisfaz! 
Minha bússola interior se desgoverna.
Perco totalmente a noção de norte e sul.
O mundo fica vazio, somos apenas nós!

...Anjo Negro...


 
MEDO

Eu não sei qual é o meu maior tormento,
Você tornando-se defensora da minha causa;
Ou aprendendo a ler os meus pensamentos!
Faz-me sentir mais em falta.
Eu juro que não aguento!

Quando éramos uma aliança rebelde e unida,
Fui capaz de tudo na vida,
descobrindo o que te apetecia.
Nossa amizade era fortalecida,
E nosso amor te satisfazia!
O que foi que aconteceu?

Não sou mais o homem dos sonhos teus?
Pusestes outro em meu lugar?
Não acredito que o amor morreu!
Não aceito deixar de te amar.
Tudo não passou de um terrível engano.

Mesmo assim... Ainda te amo!

...Anjo Negro...
Imagem: Karol Bak

 
COISAS QUE EU NÃO SEI DIZER...

Queria poder dizer que até aqui tem sido fácil.
Poder dizer que meus passos nunca vacilam.
Ou que os anos têm me feito mais hábil...
Mais amável!!!
Improvável!
Há cada instante me sinto mais distante,
mais ausente, mais deprimente!
Tão diferente daquele que fui.
Pensei que seria um sonho viver assim.
Não foi! 
Não está sendo o que imaginei.
A verdade é que, todos os dias,
eu conheço uma nova fração de mim.
E quanto mais conheço as pessoas,
mais me assombro comigo mesmo.
Com as metamorfoses que sofro!
Eu não sei outra forma de te dizer isso...
Te amo! 
E estou tentando te demonstrar,
de todas as maneiras que conheço.
Mesmo que para isso, muitas vezes,
eu mal me reconheço!
Tudo parte de um acordo selado pelos olhos.
Sem pautas, ou palavras...
Na confiabilidade de lábios calados,
acalantados por sentimentos que atravessam a razão do existir.
Você e eu temos um motivo por estar aqui.
E meu motivo não vai me deixar desistir. 
Seguirei firme até o fim...
mesmo desconhecendo onde tudo isso vai dar.

...ANJO NEGRO... 
Imagem: Pat Brennan

 
OUTONO

Quero apenas cinco coisas... 
Primeiro é o amor sem fim 
A segunda é ver o outono 
A terceira é o grave inverno 
Em quarto lugar o verão 
A quinta coisa são teus olhos 
Não quero dormir sem teus olhos. 
Não quero ser... sem que me olhes. 
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda
Imagem: Leonid Afremov

O VALOR DA AMIZADE

Engraçado como a vida nos ensina.
De mansinho, paciente, levemente nos domina.
Eu já refleti sobre tantos assuntos.
Já cheguei a dar várias voltas ao mundo,
E aqui me encontro no mesmo local de partida,
indagando sobre amores, paixões e a vida.
A cada segundo, descubro mais. Vou mais fundo.
É tão gostoso me sentir evoluindo.
Perceber que cresço enquanto vou me extraindo.
Mas, o mais extraordinário disso tudo na verdade,
É ver o valor do peso em ouro de uma amizade.
Sim. Disso posso dizer com propriedade!
Tenho amigos que são verdadeiras raridades.
Meus amigos são minha maior fartura,
Parceiros que me apoiam nas maiores loucuras. 
Sou um ser rico e privilegiado,
Por ter amigos assim tão abençoados,
Convivendo comigo lado a lado.
Nos sonhos, nos ideais, somos todos iguais.
Seres malucos e sobrenaturais! kkkkk

Obrigado meus amigos! 

...Anjo Negro... 


 

Não sou cristão, nem judeu,
Nem mago, nem muçulmano.
Não sou do Oriente, nem no Ocidente,
Nem da terra, nem do mar.
Não sou corpo, não sou alma.
A alma do Amado possui o que é meu.
Deixei de lado a dualidade,
Vejo os mundos num só.

Rumi

www.leebr2015.jimdo.com


 
Eu amo, tu amas, ele ama...

Teus olhos são duas sílabas
Que me custam soletrar,
Teus lábios são dois vocábulos
Que não posso,
Que não posso interpretar.

Teus seios são alvos símbolos
Que vejo sem traduzir,
São os teus braços capítulos
Que podem,
Que podem me confundir.

Teus cabelos são gramáticas
Das línguas todas do amor,
Teu coração – tabernáculo
Muito próprio,
Próprio de ilustre cantor.

O teu caprichoso espírito,
Inimigo do dever,
É um terrível enigma
Ai! que nunca,
Que nunca posso entender!

Teus pezinhos microscópicos,
Que nem rastejam no chão,
São leves traços estéticos
Que transtornam,
Que transtornam a razão!

Os preceitos de Aristóteles
Neste momento quebrei!
Tendo tratado dos píncaros,
Oh! nas bases,
Nas bases me demorei.  
 
CANÇÃO LÓGICA 
FAGUNDES VARELA

 
Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces 
Estendendo-me os braços, e seguros 
De que seria bom que eu os ouvisse 
Quando me dizem: "vem por aqui!" 
Eu olho-os com olhos lassos, 
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) 
E cruzo os braços, 
E nunca vou por ali... 

A minha glória é esta: 
Criar desumanidade! 
Não acompanhar ninguém. 
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade 
Com que rasguei o ventre à minha mãe 

Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: "vem por aqui!"? 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, 
Redemoinhar aos ventos, 
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, 
A ir por aí... 

Se vim ao mundo, foi 
Só para desflorar florestas virgens, 
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! 
O mais que faço não vale nada. 

Como, pois sereis vós 
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem 
Para eu derrubar os meus obstáculos?... 
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, 
E vós amais o que é fácil! 
Eu amo o Longe e a Miragem, 
Amo os abismos, as torrentes, os desertos... 

Ide! Tendes estradas, 
Tendes jardins, tendes canteiros, 
Tendes pátria, tendes tectos, 
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... 
Eu tenho a minha Loucura ! 
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, 
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... 

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém. 
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; 
Mas eu, que nunca principio nem acabo, 
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! 
Ninguém me peça definições! 
Ninguém me diga: "vem por aqui"! 
A minha vida é um vendaval que se soltou. 
É uma onda que se alevantou. 
É um átomo a mais que se animou... 
Não sei por onde vou, 
Não sei para onde vou 
- Sei que não vou por aí! 

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo' 

A CARTA E A FLOR

 

Eu a conheci no porto de Maceió.

Linda e delicada como uma flor.

Estávamos em viagens opostas,

Nossos destinos não faziam a mesma rota.

Segurei em sua mão apenas por um momento,

O suficiente para fazer nascer aquele sentimento.

Um ano depois aconteceu!

Nos reencontramos num velho museu.

Ela mais bela do que meus olhos eram capazes de admirar.

Segurei em sua mão novamente.

Senti meus pés dormentes.

Minha boca salivando

Meu coração acelerando

E meu corpo todo amando.

Fui dela naquele momento.

Hoje,

Recebo pelo correio uma carta de amor.

Perfumada pelo sublime aroma de uma singela flor.

Vou me encontrar com ela seja onde for!

Ambos somos agora enamorados desse amor!

 

…Anjo Negro…


 
TE DEI TUDO DE MIM 

Eu também sonhei,
Com um tempo precioso e distante,
onde gentilezas não eram assim tão incomuns,
e nós dois éramos mais que felizes amantes! 

Eu também sonhei,
com uma convivência harmoniosa,
te devotando tudo de mim,
tendo-a como minha joia mais preciosa.

Eu também pensei,
que este sentimento me alimentaria,
e mesmo sem ter qualquer mérito, crédito ou favor,
você veria com bons olhos e compreenderia
que tudo o que eu fiz foi por amor.

Te dei tudo de mim... Errei na medida?
Ou fui pouco?

...Anjo Negro...
Imagem: Sculture kyuin shimon

 
HERANÇA

De meu pai herdei o caos,
De minha mãe, vendaval.
De meus avós a sabedoria,
e da vida, nada do que eu queria.

Olho tudo sem proveito.
Nesta carcaça oca e fria,
nenhuma glória vejo em meus feitos.
Permaneço com a mesma vida vazia.

É estranho olhar para trás e perceber,
que nada muda. Ainda sou o mesmo.
Apenas mais uma peça da genealogia a corroer.
Só mais um caminhante a esmo!

Herança!
Inocência na infância!
Rebeldia na adolescência!
Maturidade em decadência!
À espera de uma velhice de clemência!

Não maldigo minha herança,
mesmo que em mim se perpetua o que não quero.
Apenas desejaria mais um pingo de esperança.
e quem sabe, ter mais fé no futuro de meus netos!

...Anjo Negro...
Imagem Surrealista de Igor Morski

A CARCAÇA QUE ME PASSA!
Ai, ai! Eu cansei!
Vou me debulhar em lamúrias outra vez!
Perdoe-me se o meu intimismo te cansa.
Não estou aqui tentando ser nenhum demagogo,
muitos menos querendo que meu verso te alcança.
Não posso me dar ao luxo que ouças meu rogo,
Nesta estrada sou ainda muito criança.
Só falo de mim mesmo sem pretensões!
Como dizia a grande Frida Kahlo:
"Falo de mim pois sou o assunto que melhor conheço!"
Ademais, rejeito tudo que não tenho apreço!
Como esta minha carcaça marginal!
Dura, fria, politicamente incorreta.
Salva pelo verniz dos meus dentes!
Deixo de ser humano para ser casca.
Oca, estúpida e infeliz!
A casca que me veste!
A casca que me molda!
A casca que me mata!
A cada dia sinto-a tomando a vida que me pertence.
A cada dia, sinto-me deixando de ser gente!
Sou um produto do meio!

...Anjo Negro...
Imagem: Igor Morski

 
EM SILÊNCIO...

E até parece,
que esta minha passagem foi sentida.
"Que isso gente boa!"
Nunca fui e nem serei alguém em sua vida.
Eu não me iludo!
Quase nem me sinto deste mundo.
Vê também e não se iluda!
Aqui sempre será este Deus nos acuda!
Cada um por si e Deus... Nem ouso comentar.
Então vamos nessa, tenho pressa.
Pena que nem todos sabem caminhar.
Eu pensei fingir estar tudo bem,
seguir arrastando, quase caminhando...
Uns pensariam até que eu estava avançando...
Pura ilusão.
Meus rastos me condenam!
Sou minha maior decepção.
Meus sonhos não me alimentam.
Tenho uma alma mendiga e em degradação.
O pior é que, por vezes,
sinto ser este meu maior triunfo...
Não dá para se oferecer muito a alguém que nada espera.
Em silêncio eu sigo...
Qualquer velha cabana me ser de abrigo.
Só peço perdão para aqueles,
que eu não soube ser um bom amigo.
Meus rabiscos ficam perdidos,
assim como eu...
Quem sabe algum dia,
eu volte para o que é meu.

(Se é que é meu... de fato!)

...Anjo Negro...

Eu nunca vou me esquecer que a culpa não foi das estrelas...
Foi da fotografia e do sofá! Hahahaha...
Poesias!
Oh iscas boas de me fisgar!


 
"... E quando se indagarem a meu respeito, digam apenas que eu fui o pequeno príncipe na calda de um grande cometa...
Digam, que eu fui o teimoso, o chato persistente que ficou por derradeiro, só para ter a certeza de que, talvez, o amor realmente nunca tenha um fim."
Eliz...