ONTEM, HOJE E INCERTEZAS!


ONTEM
Ontem, 
Meus olhos brilharam
Tanto quanto o Sol, 
Que sereno tocou a minha pele 
Na melancolia do dia.
Passando,
Ontem as flores se abriram
E suas pétalas inalaram o próprio
Perfume renunciando ao 
Orvalho um novo aroma.
O vento soprou...
Pássaros? Não sei... não vi!
Mas borboletas descoloridas voaram
Estupidamente o jardim de meus pensamentos 
Fazendo-me companhia.
Um grito nunca antes
Pretendido quis liberta-se
Como tempestade grotesca na escuridão...
Mas, na curvatura do momento,
Rendeu-se em silêncio
Como quimera em contradição.
Num instante febril,
O ontem irrompeu 
As margens estéricas 
Que afugentavam as propriedades do meu eu...
Asperoso e incompassivo,
O ontem se fez certame em nó.
Compadeci paralisada ao pó 
Que sou... que fui... 
Fragilizei-me... e adormeci.
Petrificada, mas na ânsia de ressurgir,
Despertei-me 
Pelo derradeiro tropeço do ontem
Diante da maciça esperança de não
Desistir... 
E, nesse amanhecer, 
Que conciso se fundamenta,
Desemboca entre meus dedos
Os versos de uma nova história.
O ontem, passou
E o novo hoje,
Pode ser de glória!

AROMA DE ORVALHO
Imagem: Kays Thoughts


HOJE...

Hoje tenho os olhos tristes
Não estão rasos d’água, mas... quase!
Ponho-me a contemplar
As belezas à minha volta,
Mas não me tocam
Como deveriam...
Como, simbolicamente, tocariam!
São flores, pássaros, Sol... som...
Nada!
Sinto a falta de uma luz,
Algo do meu eu... 
Luz que aqui dentro está apagada
Me deixando assim...
Desencantada!
Minhas mãos não querem escrever
O que meus lábios gostariam de dizer...
E tudo fica ligeiramente
Guardado num coração cansado
De viver... só por viver!

AROMA DE ORVALHO
Imagem: Ileana Hunter

 
TALVEZ?...

Entregaste-me um coração cheio de aroma e afeto?
... Talvez!

Entregaste-te às ocasiões na qual deixaste-me embriagada por teu sabor?
...Talvez!

Entregaste-me a desordenada passagem dos ardentes beijos pelo céu da tua boca?
...Talvez!

Entregaste-te aos arrepios degustados ao toque do meu calor?
...Talvez!

Entregaste-me o sussurrar da alma rendida ao som de satisfação do maior de teus desejos?
...Talvez!

Entregaste-te ao momento de suspiro desprendido do tempo na calada da noite?
...Talvez!

Entregaste-me o brilho das estrelas refletido no teu olhar faceiro interagindo no meu corpo inteiro?
...Talvez!

Entregaste-te ao calor incondicional, transbordado a efeito dos desafogados abraços apertados?
...Talvez!

Entregaste-me o Sol da manhã depois de desvendar os segredos da Lua ao anoitecer?
...Talvez!

Entregaste-te ao despertar de um sonho que te quer pertencer?
...Talvez!

Entregaste-me tuas fantasias reviradas às loucuras de todo apetecido prazer?
...Talvez!

Entregaste-te ao sorriso desmedido pela satisfação de repousar em meu horizonte sem fim?
...Talvez!

Entregaste-me o encanto sereno de junto a ti desvendar o mistério do que é infinito tornando-o gigante e pleno?
...Talvez!

Ao entregares-te, entregaste-me...
... como se não houvesse outra vez... talvez!

AROMA DE ORVALHO

ÉS ESPECIAL!


Não importa o tempo, 
Importa-me que a minha lembrança o faça voltar. 
Não importam as feridas, 
Importa-me que existes, mesmo que pareça um sonho.
Não importa a distância, 
Importa-me o calor das palavras sentidas, esperando para serem ditas. 
Não importa a partida, 
Importa-me o sorriso de um recomeço, de uma nova vida. 
Não importa a dificuldade, 
Importa a certeza de um caminhar em liberdade. 

Não importa a relatividade da existência, 
Mas os segundos de um abraço infinito
Aconchegado a um beijo que pareça impossível. 

Não importa que seja imperfeito... 
Mesmo o céu se faz presente no mar! 
Não importa o horizonte, 
Importa-me o teu olhar no meu olhar. 
Por ti espero... 
Contigo ponho-me a sonhar.

AROMA DE ORVALHO 


 
... PENSA EM MIM! 

Vem comigo, 
Mostra-me a tua face 
Tão desejada...
Não se esconda mais,
Não me esconda nada!
... Pensa em mim!
Chama-me com o teu olhar,
Navega no meu sorriso,
Sinta o meu perfume...
Cala-me a voz com o teu calor
Requintado ao aroma
Que tanto almejo.
Pensa em mim e
Sacia o meu desejo.
Invadindo meus pensamentos,
Enlaça-me num abraço
De arrancar delírios.
Aos suspiros, 
Deixa-me aconchegar no teu regaço
E em ti adormecer...
Pensa em mim!
Do encanto de um sonho
Ao indomável prazer,
A felicidade pede para nascer,
Pede para nos pertencer!
Pensa em mim e,
Leva-me nas tuas asas!
Deixa o sonho acontecer...
Ao sabor do rebuçado a
Mel e canela,
Provemos da Lua,
Do Sol... e até das estrelas!
Está pensando em mim?...
Ao toque de nossos lábios
A satisfação de um beijo
E o arrepio, 
Que só aumenta o meu desejo.
Continue pensando... e
Nessa loucura de céu e cor
Sintamos a explosão da paixão
Num redemoinho de amor!
Apenas tu e eu...
Já pensou?

AROMA DE ORVALHO
Imagem: Internet

BRISA E RAIO DE SOL - 1ª PARTE

Distante, bem próxima à linha do horizonte, Brisa olhou para o céu e, radiante com o que viu, logo se encantou por nada menos que... Raio de Sol. Para Brisa, aquele momento foi marcante e, não tardou a enamorar-se por ele... tão brilhante, reluzente, aconchegante... envolvente.

Como poderia ela, uma leve e simples brisa, ser por ele percebida?

Aquele Raio de Sol, tão nobre, tão esperado por todos, dia após dia... definitivamente, para ela, jamais olharia... pensou. Mas, Brisa não desistia e, todas as manhãs,  lá estava suavemente soprando do mar para a terra... em vão.

Foi, então, que Brisa decidiu subir as montanhas e, com tamanha doçura e suavidade, viajou por entre os vales...

Raio de Sol nada via... indiferente ao movimento, continuava o que sempre fazia... encantar com o seu esplendor como quem sabiamente, escreve poesia desde o amanhecer ao findar do dia.

A noite chegava e, do seu querido Raio de Sol, Brisa se despedia, voltando suavemente para o mar, seu amigo terno... sua fiel companhia.

Os dias foram passando... Brisa foi deixando pra trás os seus sonhos... suas vontades e fantasias. O luar a incentivava para que nunca deixasse de sonhar, mas quem poderia imaginar que algum dia Brisa e Raio de Sol poderiam se encontrar? ... Brisa foi perdendo a sua esperança...

Passando pelos vales, Brisa retornou às montanhas para se despedir pois, não queria mais estar ali... Deixando a sua face ainda mais radiante, uma gota de orvalho se formou em seu olhar brilhante e... caiu. Neste instante, sentiu abandonado o seu coração apaixonado.

No canto de um canto, lá estava Brisa... sentida, refugiando e buscando coragem para continuar seguindo em frente. Ainda hoje, ela caminha gentilmente, soprando um ventinho suave, em todo lugar... levando ternura e acariciando as montanhas, os vales, a terra... e o mar.

E o Raio de Sol?... Bem, este permanece fazendo companhia ao dia, sempre a iluminar, e, por vezes, sorrateiramente, desce e abraça um ventinho refrescante, capaz de suavizar o seu coração e também a sua mente. Um ventinho tão gentil e envolvente... Raio de Sol não sabe, mas é a Brisa que ele não vê, mas sente... e a deseja misteriosamente. 

Em ambos, o toque que não se vê... o desejo que não se pode conter... o sentido de um ao outro pertencer... a vontade de sonhar junto, sem se perder... Estariam eles se amando, sem saber?

(...) 

AROMA DE ORVALHO


 
O GRANDE DIA CHEGOU

Estou tão nervosa, como uma noiva em polvorosa. 
Eu lutei tanto para evitar este momento,
mas, agora não tem mais volta...
Vou me casar com o esquecimento.

Até que a memória nos separe!
Foi a promessa que fizemos.
Elevar-me-ei pelos ares!
Como uma singela lembrança,
levada sutilmente pelo vento.

Sim, é verdade!
Não farei nenhum alarde!
Meu coração está em estado de graça.
Quero preservar as boas lembranças.
Aprendi que nesta vida tudo passa, e,
Bom mesmo é preservar a esperança.

Star Fênix
Imagem: Josephine Wall

JAMAIS TE PODERIA ESQUECER...!


É para ti que eu escrevo, neste momento…
Para ti, ser humano inventado
num intervalo de tempo
onde o teu corpo foi criado,
amassado, moldado e trabalhado em suor
pelo labor de dois corpos em conjunção,
na demanda pelo gérmen do amor!

É para ti que eu escrevo, neste momento…
Para ti que floriste vida
num campo aberto ao sonho e à ilusão sã
onde a noção de espaço era reduzida
a simples canteiros de salsa e hortelã…

Escrevo-te, neste momento,
apenas para te dizer que o esquecimento
não tem molde de fabrico para as minhas mãos
e não é a cor da tinta
com que eu gosto de escrever o teu nome
nos bilhetes e cartas que não recebes de mim!

Autor: Vítor Costeira

Imagem: Karol Bak


E que ironia,
me desnudo quando não sou.
Tenho dores de membro amputado.
Tenho medo que a amnésia que se aproxima apague tudo e todos,
menos você, que ficou mais do que eu queria
por todos os momentos fugazes,
por todos os dias e noites que se diluíram na teia de sonhos e realidade,
por todas as frases sem voz, sem timbre
mas sólidas...
Por todo esse sentimento de ópera
Por todo esse rasgo na razão quase perdida.
Tenho medo que a amnésia apague tudo... 
Menos você.

Amora Amaro

Imagem: Joel Robison


A ESTRADA QUE ME LEVA!

Hum... Que ironia essa minha!
Esta estrada nunca definha!
Quanto mais fujo de ti
Mais de mim tu te aproximas.
Nada mais faz sentido.
Estou farto de mim mesmo.
Perdi minha bússola do bom senso,
Rasguei meu mapa moral
Destruí meus pontos cardeais.
Estou preso em armadilhas fatais
que eu mesmo criei.
A calamidade se apoderou de mim.
Eis que eu já fui o lado irracional e malévolo,
Hoje temo o destino que tracei. 
Viajante sem rota
Sem guia, sem rumo,
Sem lei!
O vento favorável não me foi outorgado.
Tudo o que me resta é sentar
e observar pela janela
o desenrolar dos fatos!
Ai de todos nós
Peregrinos desta vida!
Tomara que ainda achemos uma saída!

Lee Brasil


 
AH VIDA!...

Nada como balançar ao vento,
Ser amigo do tempo,
Respirar mananciais,
Mergulhar em sonhos,
Desativar vulcões
Laçar dragões,
Desviar dos furacões... e
Sorrir para a vida!
Vida que, por vezes, ávida,
À chuva ou ao deserto convida...
Ah! Vida... dividida!
Como chuva...
É estrada, sem poeira...
É caminho, sem porteira...
É um mergulho em respingos de cachoeira...
É do céu um véu, desfazendo fronteira.
É pra fantasia uma feliz brincadeira
Onde ao molhar...
Desliza ao cantarolar, dançar e pular na lamaceira...
Ah! Vida amiga...
Mas como no deserto o frio é incerto!
A poeira na estrada 
Faz da chuva um sonho na caminhada... 
A porteira da ilusão
Se torna ao Sol parceira da solidão.
Os respingos de cachoeira
São apenas grãos de areia... 
E a fronteira do tempo
Não se limita às dunas do vento.
Para além da miragem,
O tudo no nada vira uma brincadeira de passagem.
Ah vida, que vindo se faz de ida!
Na partida nos convida à intervida, 
Mas pela dádiva desmedida,
Em chuva-deserto se revida...
Também faz-se desentendida? 
Ah vida... atrevida!
Nesse duelo que invade
O ir e vir do sentir e ver,
Mediada está na suavidade 
À face do que dá prazer.
Ah vida!...
Pra entender é preciso viver!

AROMA DE ORVALHO
Imagem: Jazz-minh Moore

 

DANÇAS, DE NOVO, COMIGO?

Enquanto a música se fazia senhora e rainha
por entre o aroma do rosmaninho e alecrim,
simplesmente, eu era teu e tu eras minha
e, naquele instante, tudo começava assim…

Olhos nos olhos e mão na mão,
feitos éter, levitávamos os nossos corpos
e, suavemente, fugíamos do chão!

Os dois colados éramos um só,
eu sussurrava-te perfumes apenas nossos
e tu oferecias-te num sorriso,
sem espera, sem mácula, sem aviso,
numa brisa com sabor a eternidade
que eu devorava em instantes!

E entre sonhos e felicidade,
éramos muito mais do que dois amantes
que olvidavam os passos da dança
e trocavam os pés pelas mãos,
ao ritmo de uma esperança criança
que alimentava sentimentos doces e sãos!

E, assim, continuávamos o bailado,
seguindo apenas o pulsar do coração,
olhos nos olhos, mão na mão,
até que a música deixava de ser rainha
mas eu continuava teu e tu eras minha
e naquele instante de rosmaninho e alecrim,
percorrias a minha pele com um sorriso
e sem que mais nada fosse preciso,
sussurravas-me eternidade, assim…

“Meu amor, minha paixão, meu amigo,
danças, de novo, comigo?”

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Leonid Afremov

 
(NA) MADRUGADA FRIA
… e o solitário chocolate derretia
na paisagem diluída e ausente
que se fazia longa e fria…

… após uma noite tão quente,
chegara novo dia
mas no ar ainda havia
aroma a orquídeas envergonhadas
que as asas de um anjo deixara,
como símbolo protector,
numa noite inteira e clara,
toda ela sabor,
toda ela suor,
toda ela odor…

… toda ela de vermelho vestida,
num fundo branco transpirante
que coroou o instante
no húmido da roupa enrugada
e surpreendeu a madrugada,
que acordou calma e cansada
e distraída se fez dia…

… mas, de novo, o dia…

Que sabor teria o chocolate
que, em cima da mesa, jazia?
E que interesse, saber o sabor, teria,
se apenas uma boca o trincaria,
no clarear de um novo dia?

… mas, no novo dia,
todo o olhar refém da memória
foi levado de forma inglória
pela água da chuva desperta
que cristalizou uma noite sem sonhos
num sonho doce em doce alerta
no silêncio de corajosos segredos
e do entrançado suave dos dedos,
na força do tudo ou nada,
restou um mundo quase tudo,
no acordar da fria madrugada…

… mas, de novo, o dia
diluía toda uma noite de sentinela
no orvalho que escorria da janela
enquanto o cinzento do céu arrefecia,
naquela madrugada fria…

Autor: Vitor Costeira

 
COMO ELA NÃO HÁ... PODE PROCURAR!

Na sua determinação,
Se faz valente,
Poderosa... sem igual!
Mas não dispensa
Companhia,
Trata de fazer folia
Com o seu encantador visual.
Pode revelar muitas histórias
Pois traz em sua memória
Mergulhos deveras profundos....
Sejam rasos ou lá do fundo
Abriga sorrisos 
que em lágrimas despencam
e na imensidão do espaço 
que alcança... goteja.
Acolhendo ou se  ofertando,
Vai seguindo.... se expandindo... 
ou mesmo escondendo...
Mas onde quer que ela esteja,
Enriquece o  lugar
Causando prazeres
Despertando desejos
À luz do Sol... do luar.

Quem conhece  seu esplendor
Dela nunca se esquece...
Contempla com amor
Tudo aquilo que oferece.
Ao seu lado, todos
Querem ficar...
Com tanta doçura,
Até os pássaros
Se aproximam para cantar...
Perigosa?... Não!! 
Deliciosa...  festeira!
De águas puras e cristalinas...
Segue naturalmente faceira!
Como é bom degustar
De um banho junto a ela... à sua beira!
Com tanto encanto,
Só poderia estar falando
Da majestosa cachoeira
Que aprendi a contemplar
Sentada a sombra,
na encosta de uma figueira...
Duvido que  nela mergulhar 
Haja alguém que não queira.

... Como ela não há!
É  acolhedora... faz sonhar...
E naturalmente apetecida,
é  também companheira... amiga!
Ah! Cachoeira!!
Que naquela vigorosa costeira,
Deixa transbordar aromas orvalhados...
Em ti quero mergulhar por inteira
arriscando um gentil sorriso
numa feliz brincadeira.

AROMA DE ORVALHO
Imagem: Jim Warren

"Libertária"

 

Esperei, mesmo querendo ir! 
Fui, mesmo querendo ficar! 
Minhas escolhas são contradições! 
Direções dispostas nos momentos! 
Caminhei, com indecisão, receio e eu no erro, 
Esperei o destino interferir
E percebi que sempre 
Joguei-me sem medo
diante do mundo
Gritei meus segredos
E o destino nada pode fazer! 
Verbalizei minha dor,
Minhas vontades vãs,
Meus delírios febris,
Fiquei, mesmo precisando ir!
Fui, mesmo precisando ficar! 
E fiquei tão sozinha no mundo,
E o mundo eu tentando abraçar, 
E de nada adiantava tentar! 
E por fim, 
Fiquei ali parada
Precisando ir
Sem saber se deveria ficar!

 

Diane Tolentino

Imagem: Andrew Gonzalez


DESEJO VIVO

 

No seu caminho havia uma fonte

e dentro de teu coração,  corria um rio

em teus olhos rasos, tragos ao horizonte

o mundo em um espiral, a se lançar no vazio. 

O sentido que a apraz

são tinos de um sorriso  distante

Teu silencio (imita uma falsa paz)

Desditas lamurias -silenciosas bradam 

nada mais é! Ou será! Como d'antes!

Teu devoto em sigilo a cavar valas 

nessa fonte d'onde as dores são mais claras 

Os momentos brincam de multidão

dentro de um espaço abandonado.

Ah minha amiga segure em minhas mãos

no reflexo do poço -um rosto -calado!

Quem ainda amas mesmo estando sozinha?

Quando este teu som se fizer falador

a voz que ouvir falar não será a minha.

Essa fonte não conhece o mar, mas subverte a dor.

Colhas este teu sorriso

dormindo em aguas calmas,

e bebas deste teu olhar mais distante,

quando se dissolve entre suspiros

o que nos sobra chama-o de alma,

conhecendo ela -nada mais será como antes!

 

(Lourisvaldo Lopes da Silva)


QUE ÁGUA QUERES TU COMIGO RESPIRAR?

 

Por onde andam os teus pés?
Por que mares?
Por que marés?
Que mergulhos tens ousado?
A que profundidade te tens aventurado?
Que ar respiras tu
na água que o teu peito ingere?
Qual a sabedoria dos teus olhos
que sabem ver através da salmoura
das moléculas da água salgada,
sem que a íris do teu olhar
se negue a repetir o espasmo?

Ultrapassas a barreira dos corais
sem que as moreias te molestem,
sem que as caravelas te inflamem a pele,
sem que a escuridão te esmoreça?
Quais os fluídos que te atraem?
Serão aqueles que mais te maltratam?
De que sonhos te alimentas tu?
Porquê essa urgência tão premente
em testares as leis da gravidade,
em te aproximares do que já sabes
que inevitavelmente te ferirá
e que descobrirás, uma vez mais,
a sua diminuta importância?

Por onde andam os teus pés
que nunca têm chão?
De quanta inocente coragem
é revestido o teu atrevimento?
Por que maravilhosas metamorfoses
já os teus dias passaram?
Em que posição adormecem os teus sentidos
quando extenuados cedem ao cansaço?
Como consegues tu descansar a alma?
Que calma ofereces tu ao teu viver?

Se me levares contigo a passear,
será à beira-rio ou à beira-mar?
Que água queres tu comigo respirar?

Autor: Vitor.COSTEIRA


#Poesia #Marginal #Aventura #Romance #Abismo 


 
PRECISO DE VOCÊ...

Preciso de você,
Como o mar precisa das ondas
Para acariciar a praia...
Preciso de você,
Como a árvore precisa do vento
Para distribuir ao ar a sua plenitude.
Preciso de você,
Como a abelha precisa das flores
E num mosaico de sabores oferecer o seu Mel.
Preciso de você,
Como o céu precisa da luz
Para envolver a lua, as estrelas e o infinito,
Dando aconchego aos sonhos...
Preciso do teu beijo
Como os lábios apetecem pelo sorriso da manhã.
Preciso de você
Como os raios que se aliam ao Sol para formar o dia
Agitando o orvalho da paixão que ilumina...
Por você,
Deixaria de ser aroma
Tornando-me a mulher que para ti se faz menina!
Preciso de você,
Como a noite precisa do luar
Para o encanto acontecer.
Preciso do teu calor
Que, entregue ao desejo,
Despe a alma deixando na pele
O suspiro... a doçura... o complemento...
Que rendido ao encanto do prazer
Traspassa à loucura, a explosão do momento.
Preciso de você,
Como um anjo precisa de asas
Para satisfazer a ânsia de um sonho a mais reviver.
Preciso de você...
Constante,
Sereno,
Ofegante,
A também se fazer menino pra mim.
Preciso de você,
Simplesmente assim...
Faceiro,
Sorridente,
Valente,
Cantante...
Confidente,
Confiante!
Aventureiro a desbravar o Ocidente.
Acelerado,
Atrevido,
Amante,
Faminto!
Preciso de você,
Cativante... arrebatador...
Tão ardente quanto um vulcão,
A rodopiar, agarradinhos, subiríamos aos céus
E rolando, juntinhos, voltaríamos ao chão...
Preciso de você
E, mesmo não entendendo porquê,
Apeteço nesse querer.

AROMA DE ORVALHO

 
QUER QUE EU TE ESQUEÇA?...

É possível ganhar o céu
Sem se arriscar a voar?
É possível sentir o perfume das flores
Sem antes admirar suas cores?
É possível mergulhar no mar
Sem nas águas tocar ou sem as ondas sentir?
É possível provar do melhor vinho
Sem antes degustar do seu aroma?
É possível o barulho da cachoeira
Sem elevar-se à sua queda na capoeira?
É possível ganhar sem que algo se perca?
É possível sorrir sem o aconchego da alegria?
Estar presente na ausência de um improvável instante de loucura
Apetecido por um sonho, mais que sonhado?...
Adentrar-se à doçura de um pensamento fecundo
Na mesma liberdade que circulam os raios solares?...
Interromper uma tempestade
Raptando dela os chuviscos dos vendavais?
É possível calar-se diante de uma alma teimosa, ousada e gritante?...
Plantar flores no final de uma estrada que não vê?
Possível?... Pode até ser...
Menos esquecer você!

AROMA DE ORVALHO

 
COM VOCÊ...

Aprendo com você a cada dia...
a sutileza das palavras,
o significado de "pés no chão",
o arrepio do coração a fabricar brilho no olhar,
a rasura dos sentimentos, 
sacudindo a poeira para recomeçar...
o calor da conquista na vitória
ou a força para levantar... 
Estando aqui ou lá, 
em toda parte e por todo lugar,
o tempo faz-se de momentos
que indo e vindo... passam! 
Aprender com você
é encontrar abrigo no sereno,
é escutar o barulhinho do vento a dizer
baixinho "Vem comigo?" 
... É estar presente num presente ausente
que, por vezes, enlaça saudades...
Com você, embarcar no espaço
é sentir... fluir, vibrar, se fortalecer... 
é sorrir, arriscar, escolher... aprender!
É viver!
Muito tens a oferecer
e... na paciência,
me fazes florescer. 
Como é bom estar contigo!
És amor,
amado...
Meu precioso amigo!

AROMA DE ORVALHO


 
SEM PALAVRAS!...
Entrando em contradição e
Segredando comigo mesma,
Devoro as palavras que insistem dizer-me que...
És tu, meu doce verbo
Associado à conjugação do sonhar...
Numa colocação pronominal,
És o primeiro a invadir meus pensamentos
Sem licença pedir...
Com tanto espaço por aí,
Escolhestes justo o meu cantinho sereno
Para se aconchegar?...
Meu mundo ficou pequeno!
Aqui, dentro,
Ninguém, além de ti, consegue ficar!
Tens a chave que o meu aroma invade e...
Sabes tão bem como tudo revirar!
Resistir?...
Nesse segredar,
Apenas rendo-me,
Feito bola de sabão
Flutuante e sensível,
Indo e vindo ao toque do coração.
Do desejo da pele à falta de razão,
Serias tu,
Apenas uma doce ilusão?
Despertar? ... Sei não!
Ao ver-te, tropecei
No teu olhar que atravessou o meu... e
Olha eu na tua vida!...
Ou será que estás na minha?
Ainda esbarro num redemoinho
De desejo que...
Em palavras, não sei dizer...
Então... sem palavras,
Decifra-me!

AROMA DE ORVALHO