DECLARE-SE...

ESTE É NOSSO ESPAÇO EM COMUM. AQUI ENCONTRAMOS TEXTOS DIVERSOS ENVIADOS E COMPARTILHADOS POR TODOS AQUELES QUE APRECIAM LER E CRIAR. SEMPRE INSPIRADOS EM NOSSOS GRANDES MESTRES LITERÁRIOS QUE TAMBÉM POSSUEM UM CANTINHO GARANTIDO ENTRE NÓS. PARTICIPE! leebr2015@gmail.com     Estarei esperando seu texto. LEE 


BR 153  BELÉM/BRASÍLIA

 

Esse texto não é meu. Mas, não importa. Eu o teria escrito da mesma maneira....

 

 

              Às vezes eu fecho os olhos, inspiro e procuro sentir a presença de quem já não está por perto. É um método que eu inventei tempos atrás..., e uso sempre quando o amor se transforma em saudade.

         Os grandes amores existem. As grandes paixões existem. Eles existem. Eles simplesmente existem. Eu desejo que todo ser humano possa sentir o que eu um dia já senti. Somente uns poucos minutos daquele entorpecimento juvenil, daquela inundação de sentimentos que enlouquecem, daquela loucura toda que te envolve, te amedronta, aquela confusão monstruosa que vivi quando amei. E quando fui amado. Uma paixão avassaladora que me fez acreditar que eu ainda permanecia vivo. Vivo e amando. E amado. Mas, agora, eu fecho os olhos para dormir. A cama cresceu tanto de tamanho, o meu peito cada vez está menor. E muito mais vazio. Ninguém a me ninar. A minha mão não encontra a sua. Quem foi que viu a minha Dor chorando?! (Augusto dos Anjos, "Queixas Noturnas". Mas, no meu caso, diurnas também). Eu quero uma receita para se esquecer um grande amor, o senhor tem aqui para vender? O preço não me interessa, eu só quero poder seguir em frente. Nem precisa ser em frente..., basta seguir. Porque A minha vida sentou-se/ E não há quem a levante (Mário de Sá-Carneiro, "Serradura"). 
             E o vazio logo aparece, não dá um minuto de folga (“meter a cara no trabalho” é algo que também não tem funcionado). O telefone não toca naquela hora, a minha caixa de e-mails não tem pena de mim, já não tem novidade boa a me contar. Uma sensação leve e prematura de derrota logo se apodera da gente. Depois ela cresce. Já não é mais sensação, é derrota mesmo. Eu não tenho mais para quem escrever os meus defeituosos poemas, a quem dedicar meus pensamentos, quem vai me acalmar quando a agonia aparece sem avisar? Eu me sinto tão sozinho. Por vezes eu nem me sinto. Meus olhos não vertem lágrimas, o meu coração não dispara. Será mesmo que estou vivo? Ainda nem maldisse toda a minha sina e mazela, nem afoguei minhas (agora) crônicas mágoas na cachaça libertadora, também não há outro perfume no meu corpo. Viver é amar, um dia me explicaram direitinho. Eu era inocente e acreditei. Só inocentes e tolos crédulos aprendem isso, eu tive o azar de ser um deles. Nem ouso reclamar. 
                   Quando acordei foi em você que eu pensei. Provavelmente pensei em ti durante toda a noite também, mas dessa vez tive a sorte de não recordar. Não importa como minha vida esteja seguindo, é sempre em seu sorriso que meus pensamentos se convergem. Não há fuga nem plano B. Eu aprendi que não é te esquecendo que irei me livrar de você. Não importa quanto tempo transcorra, jamais me esquecerei daquela noite, aquela, quando estupefata você ouviu minha curtíssima e derradeira declaração de amor. Metade do tempo eu reflito sobre o que ela significou e o que ela irá se tornar em alguns parcos anos. Logo, meu coração será de outra, as suas coisas queimarei no quintal (afastando a cachorra para que não se queime) e essa frase eu voltarei a dizer. Mas não para ti, jamais para ti, nunca mais para ti... Você será apenas uma lembrança, feito tantas outras, e eu serei apenas uma lembrança para você... feito tantas outras. Já não me amas? Basta! Irei, triste, e exilado/ Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho (Olavo Bilac, "Desterro"). 
                Quem errou mais? Isso não importa agora, logo, posso ficar com toda culpa pelo nosso fracasso. Sempre sonhei com algo diferente, como nos contos de fadas e nos pagodes de três notas (e se me perguntam Que era mesmo que eu queria?/ ”Eu queria uma casinha/ Com varanda para o mar/ Onde brincasse a andorinha/ E onde chegasse o luar”, Vinicius de Moraes, "Sombra e Luz"). A realidade foi deveras distinta disso, só Deus é testemunha das minhas queixas. Mas, nesse momento, nada disso importa, nada do que doeu agora importa. Eu vou ficar aqui, sozinho, com minhas lembranças e nosso fracasso. Vou lembrar das partes boas, para me emocionar com a saudade. Não lembrarei de nenhuma briga, nem nada disso! Eu quero uma receita para esquecer dos momentos ruins, dos bons eu não preciso. Não preciso e não quero. Para que esquecer do que me orgulho? Do que me fez feliz? Deixa a saudade me machucar, meu anjo, uma hora ela se cansa. Eu não abro mão de recordar o quanto fomos felizes. Acabou, mas não sem muito amor. É o fim, mas não antes de muitas promessas de eterna felicidade. É isso o que vale, afinal. Eu busco isso a cada instante de minha vida. 

                  Mas agora você está lá e eu aqui. Está lá seguindo com a sua vida, e eu estou aqui, seguindo a minha. Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte (Neruda, "Aqui eu te amo"). Ela esta lá vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Acho, realmente não sei dizer (Teus olhos são duas silabas/ Que me custam soletrar./ Teus lábios são dois vocábulos/ Que não posso,/ Que não posso interpretar (Fagundes Varela), "Canção Lógica"). Eu aqui, não triste, mas saudoso. Às vezes eu olho para os céus para descobrir se sinto algo de novo. Quem sabe um daqueles meus suspiros. Passo horas olhando as estrelas, sem entender por que elas brilham. Elas deveriam fazê-lo somente quando você fosse minha, não em qualquer situação. Mas você segue a sua vida, almoça feliz e se diverte enquanto procuro a receita para te esquecer. Sei que não irei sofrer, o que me castiga é a saudade. Não irei chorar, nem lamentar, tampouco desejar a morte. Irei apenas seguir em frente, sozinho agora, às vezes pensando: o que será que ela faz nesse momento?, agora que chove lá fora! O que será que ela faz? Será que pensa em mim? Será que sorri? Eu abro os braços para envolver a minha vida. 
                  Lembra da música da Elis? Vou querer amar de novo e se não der eu não vou sofrer...? Preciso te dizer a verdade: se isso acontecer, eu vou sofrer sim, meu coração só existe para amar de novo, espero que você entenda. Eu sigo a minha vida por aqui, você continue a sua por aí. Se conseguir a receita para se esquecer de um grande amor! Não, parece que isso não existe mesmo. A minha sina é seguir em frente, então, e quando não der, chorar, não há problema nenhum nisso, quem aprende a amar, aprende a chorar também (Paulinho da Viola, "Amor Amor") . Eu aprendi, pratiquei contigo, jamais te esquecerei. 
Cantemos a canção da vida,/ na própria luz consumida... 
(Mario Quintana, "Inscrição para uma lareira")

Autor: Daniel.Veríssimo. eyes blue    11/03/2011

 


Madrugada, estrada, tantos caminhos, um só destino: O Amor!

Amor tão distante...

Tantas estradas, tantas madrugadas...

Amor tão próximo...

Tanto afeto, tantos carinhos...

Madrugadas, estradas, 

Estrada, madrugada...

Um só destino: O Amor! 

Imagem e Autoria:

Daniel Veríssimo - eyesblue 27/10/2008

Já enfrentei batalhas para as quais não estava preparado, já perdi, me machuquei. Em alguns momentos achei que não ia sobreviver, mas sobrevivi...talvez não! Talvez tenha morrido... Mas ressurgi! E hoje me sinto mais forte, até mais feliz. Talvez tenha sobrevivido, talvez ressurgido, só Deus sabe! Mas estou aqui. Vivo, integro, e, com certeza, mais forte!

 

Imagem: Arcanjo Uriel

Autor: Daniel.Veríssimo. eyes blue

26/07/2015


SEREIA

Serei o momento,
serei o caminho e o tempo
de que a vida se quiser fazer…
Serei o prazer,
serei o sorriso e o cansaço
em que soubermos transformar o amor…
Serei o fervor,
serei a chama e o refrão
com que as manhãs docemente te acordarão…
Serei as mãos,
serei o colo e o amparo,
a carícia, a espera e o afago…
Serei a voz,
serei a ternura que te segredará
e que te fará sentir não estares só…
Serei o teu diário,
serei o teu amante, amor e amigo,
serei um teu rio, um teu sonho, o teu abrigo
e aquele que em ti se enleia e ateia…!

Sereia!...
Tudo em ti serei, sereia!

Autor: Vitor.C

24/07/2015


 

O TEU BEIJO...

 

Foi uma nesga de Sol,
foi um conto de fadas,
foi um si bemol,
foram palavras aladas,
foi um prelúdio maravilhoso,
foi um pêndulo esquecido,
foi um gesto formoso,
foi um olhar querido,
foi um movimento electrizado,
foi um sopro de sonho,
foi um saudoso fado,
foi um amanhecer risonho,
foi uma vida completa,
foi um cometa,
foi um vulcão,
foi um risco,
foi um trovão,
foi um asterisco,
foi um desejo!
Foi tudo isto,
foi o teu beijo...

Autor: Vitor.C
Julho de 2015


 
ABRAÇA-ME!...
Se eu continuar a dormir,
se eu me fechar e calar,
se eu bater com a porta e fugir,
se eu constantemente me flagelar,
não me digas muitas coisas,
simplesmente, abraça-me
e permite que no teu peito
eu viva toda uma eternidade
e desperte em ti homem refeito,
com um novo brilho no olhar
que tu possas traduzir por felicidade…

Acorda-me, se eu me esquecer de sorrir
quando a primavera florir,
quando o primeiro raio de sol eclodir
em cada dia que nascer,
quando o voar de uma andorinha
desenhar suaves espirais no céu,
quando o teu olhar procurar o meu
ao raiar de cada amanhecer,
para que a cada dia eu possa ser
sempre um, cada vez, melhor ser…

Agora, abraça-me, feliz,
para eu em ti, feliz, adormecer…

Autor: Vitor.C
Julho de 2015



 
Recebe-me…
não necessito de euforias,
flores ou fantasias,
apenas preciso
que me recebas de alma aberta,
sem nenhuma palavra certa
mas com um simples e lindo sorriso…

Recebe-me no teu universo,
sintetiza-me num só verso,
idealiza-me como teu querubim,
deixa-me aconchegar em ti,
permite-me pernoitar
onde o Sol se costuma aconchegar,
e, assim, manter o calor
que ele amanhã virá buscar,
precisamente a este mesmo lugar
onde restará apenas o meu odor…

Como um doce licor,
saboreia a minha chegada
como se não houvesse amanhã
e o amanhã não tivesse uma madrugada,
para que a partida não seja desejada
nesta ventura pura e sã…

Recebe-me…
aconchega-me…
apenas isso me chega!

Contribuição de Vitor. C
Janeiro de 2015


 
Apenas hoje...
Deixa-me sentar a teu lado,
sentir que hoje sou o teu protegido,
o teu menino querido,
aquele que perto de ti estaria
e para quem tu olharias com carinho,
num desvelo meigo e terno,
bem para além do eterno
de onde sinto que, finalmente, me vês…

Deixa-me sentar perto de ti,
sentir que o calor do teu corpo
se fez nascer todo ele para mim,
que os teus braços são fitas de cetim
esvoaçando, truque ilusionista,
enlaçando-me como oferenda de Natal,
e fazendo com que os meus olhos infantis
fiquem maravilhados perante a magia
e recusem deixar de fazer parte da ilusão
e do momento inesquecível que criaste…

Deixa, apenas hoje, eu ser o teu único
e sentir que nasci para estares comigo…

 * Contribuição de Vitor C.
Abril de 2015

Jogo de contrastes
Tu és o Sol e eu sou a Lua,
és fechadura e eu sou gazua…
eu sou a noite e tu és o dia,
és alegria e eu melancolia…
tu és o calor e eu sou o gelo,
tu és a pele e eu sou o pelo…
eu sou a sombra e tu és a luz,
tu és a face e eu sou capuz…
tu és um mar e eu sou um rio
tu és amar e eu sou o cio…

Tu és sinônimo e amor ameno,
eu sou antônimo, eu sou veneno…
és Universo e eu sou apenas
um verso inverso dos teus poemas…
somos diferentes, somos iguais,
somos sementes e nada mais!
E é assim que somos os dois,
um sempre antes e um já depois…
um que diz não, outro que diz sim,
a algo lindo que não tem fim!!!

* Contribuição de Vitor C.

Maio de 2015


 
FOTOGRAFIA
Enquanto passeava,
num atapetado de folhas
 que se desfazia sob o meu calçado,
o meu olhar distraído e vago
foi desperto para ela...

Ali estava ela,
diferente de todas as outras…bela!

E, neste meu encanto,
de tanto que ela era diferente,
eu fui-lhe completamente indiferente…
nem uma só vez senti
que ela me quisesse
mas eu tomei-a nas minhas mãos
e apoderei-me dela
como se minha ela quisesse ser,
não querendo...

Toquei na sua pele,
virei-a do avesso,
senti seu cheiro a mel
apaixonei-me, confesso!
Protegendo-a com mil cuidados,
evitando o olhar alheio,
os meus passos tresloucados
fugiram do meu passeio…

Finalmente, em porto seguro,
abraçando-a febrilmente,
fiz de mim um homem puro
e desejei-a ardentemente!
Deitei-a e fiz-me sua glória
sem saber se o desejava ou queria
e guardei o momento numa memória
chamada fotografia.

Aqui está ela!
A folha que, não sendo minha, sou eu dela...

 * Contribuição de Vitor C. Maio de 2015

Eu sou a folha que o vento não levou...

Liz Nascimento


Raios e trovões. Canção celestial!

De repente um clarão,

Dando início a orquestra do céu!

O estrondo poderoso do trovão,

Logo rasga o firmamento.

Raízes brilhantes, 

Como cordas de um instrumento colossal, vibram energizantes. 

Arrancando arrepios da gente!


Autor: Lee 

Fevereiro de 2015

 


 
AUTOFAGIA
Incendeio-me, para me extinguir,
mas volto a incendiar-me.

Anseio, para me desiludir,
mas volto a ansiar.

Invento-me, para me destruir,
mas volto a inventar-me.

Choro, para sorrir,
mas volto a chorar.

Ausento-me, para me descobrir,
mas volto a ausentar-me.

Sonho para me desiludir,
mas volto a sonhar.

Escrevo, para me alimentar
de fogueiras e combates,
de ansiedades e desilusões,
de ausências e invenções,
de afirmações e negações,
de sonhos e desilusões.

Alimento-me de mim,
das palavras que digo e me ouvem dizer
e das que digo sem me ouvirem,
mesmo que chore
e volte a chorar…
para, de novo, sorrir!

Afirmo-me, para me negar,
mas volto a afirmar-me.
Autor: Vitor C.
Julho de 2015

POEMA DO DESEJO
É o momento,
é o instante,
são os desenhos
que os dedos filigranam nos corpos,
são as palavras
que as bocas ávidas de vida mordem,
são os olhares
sob as felizes pálpebras cerradas,
são os odores
libertados pela pele na pele,
são os sabores
que a sudação segrega nos palatos,
são as valsas
que os sôfregos sentidos dançam,
são as cores quentes
que denunciam o mais secreto dos segredos,
são os calores ardentes
que são sedentos de água que os arrefeçam
e o desejo pode começar
e terminar com um beijo…

Autor: Vitor.C Agosto de 2015


FUI VER O MAR... (Poesia)
Hoje fui ver o mar…
já há muito tempo que não o ia visitar,
precisava conversar,
saber das últimas novidades…
o que seria que ele tinha para me dizer,
precisava falar-lhe de mim,
deixar a suave brisa secar-me os olhos
e a água lavar-me as palavras.

Não calquei muita areia…
assim que a comecei a acariciar
os meus pés pararam serenos
e ali descansei o corpo…
detivemos-nos frente a frente
como amigos de longa data
apreciando o que havia de diferente
no olhar de cada um de nós
e apenas eu estava envelhecido…

Hoje fui ver o mar
mas apenas eu falei
apenas eu tinha algo para contar
e ele simplesmente ouviu,
respeitosamente silencioso
nunca me interrompeu,
quase nem se mexia,
tamanha era a sua atenção
ao que eu dizia.

Adoro o mar...
visto de terra, não é bem o mar…
visto de terra é apenas um bilhete postal...
mas amar o mar é viver o mar!
Estar nele, viver nele,
respirar o odor das águas,
sentir as suas emoções,
os seus anseios e lamentos
e entender que o que nos diz
é tão-só o que queremos ouvir!

Na sua própria voz,
o mar somos nós!

Autor: Palavras Livres


ADÁGIO PARA UMA NOITE DE INSÔNIA
Se chegares enamorada,
levitando como um anjo,
descalça e cansada,
ligeiramente embriagada
e com um perfume adulterado
volatizando do teu corpo…
simplesmente, não digas nada,
faz de conta que não reparas
que eu finjo estar a dormir
e que não ouço o teu bocejar
nem as roupas a despir,
um pouco antes de deitares
o teu corpo abandonado,
ao lado do meu já deitado,
meio trôpego, desajeitado,
e adormeceres o teu fado,
sem saberes do meu sorrir,
nem medires o meu prazer,
na hora de eu adormecer
a insônia já cansada,
doce e esperada madrugada…

Autor: Vitor.C


O ANTI-EU... (Poesia)
Aqui estou eu,
no topo de um mundo que eu criei.

Fora de mim,
a realidade desenrola o guião da vida
que outros seres,
como eu,
aceitam ou negam…

Dentro de mim,
existe alguém
que, cada vez mais,
menos reconheço
naquele que conhece
o que está fora de si…

Sou-me desconhecido,
e começo também
a ser aprendiz
de mim mesmo,
mas, ou eu sou um péssimo aluno
ou um incompetente mestre…
nada fica em mim
ou, se algo se incrustou,
alojou-se como um anti-corpo…

Sou eu e o meu oposto,
somos dois com o mesmo rosto!...

Autor: Palavras Livres

Julho de 2015


É por Ti que Vivo


Amo o teu túmido candor de astro 
a tua pura integridade delicada 
a tua permanente adolescência de segredo 
a tua fragilidade acesa sempre altiva 

Por ti eu sou a leve segurança 
de um peito que pulsa e canta a sua chama 
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro 
ou à chuva das tuas pétalas de prata 

Se guardo algum tesouro não o prendo 
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto 
que dure e flua nas tuas veias lentas 
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar 

Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva 
para que sintas a verde frescura 
de um pomar de brancas cortesias 
porque é por ti que vivo é por ti que nasço 
porque amo o ouro vivo do teu rosto 

(António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto')
Início de 2015

 



UM DIA NA VIDA DE AMELIA

Não precisei de luz, para acordar… hoje especialmente, mas não há noite sem luz para mim. Passo-as todas em claro, eu e uma outra que habita em mim e que teima em não me abandonar. Talvez ela seja a única que ainda não me abandonou… todos acham que estou louca mas o que eles não sabem é que somos duas: eu a querer sossegar eternamente e a outra eu a acordar-me de cada vez que adormeço. Por isso, nunca preciso de luz, nas manhãs que os outros nem sabem que existem. Estou sempre vigilante e ausente… estamos!

Mas hoje, especialmente hoje, não haveria luz nem ruído algum de que eu necessitasse para me acordar, caso tivéssemos adormecido. Improvável, mas…

Ainda ninguém tinha chegado para pôr para fora da cama os meus companheiros de final de caminhada, neste Lar de (chamam assim) Idosos, já eu andava de um lado para o outro, atarefada em encontrar a roupa que melhor me assentaria. Mas, claro, se uma mulher dificilmente escolhe, logo à primeira, o conjunto de trapinhos que melhor se adéqua à sua personalidade ou a um dado momento, imagine-se agora duas mulheres para uma única opção! E que duas! Sim, pois eu hoje também estava bastante interventiva e contrariava facilmente a minha companheira… no fundo, parecia-me que, embora não o dizendo, ela também se alegrava com a minha desenvoltura, o meu arreganho inesperado! Eu estava surpreendendo-a e este inesperado, até para mim mesma, satisfazia-me sobremaneira… satisfazia-nos, sei bem!

Assim, bem cedo, às horas a que se chama de madrugada, já eu estava despachada! O vestido tinha sido eu a escolher, de acordo com o acontecimento, e os sapatos, a malinha de mão, o cinto e o perfume tinham ficado para escolha da minha parceira, que se sentira honrada em fazer parte do lado de fora das duas! O banho, as pinturas, o cabelo e as unhas, permiti-me guardá-las para uma dessas senhoras, a Cristininha, que aqui vem lembrar-nos de que ainda respiramos e que a nossa cruz não é aquela pendurada em todas as paredes deste enorme casarão, por onde deslizam sombras que se designam por seres religiosos que, de vez em quando, nos atormentam mais do que o mafarrico! A nós as duas, claro! Os outros… esses, já nem dão pela existência deles, muito menos pela nossa! E nós, constantemente, sentimo-nos vitoriosas! Pensam que também já não existimos, mas enganam-se! Redondamente e a dobrar!

Assim que a alvorada soou, não causamos grande alarido por já estarmos a pé mas, sim, pela beleza que exibimos! Gostaríamos que vocês os vissem! Pareciam fantasmas assustados!!! E nós? Nós sempre com uma postura muito digna, muito vertical, quase senhorial, saboreando o momento, como se ele fosse eterno! E o colar! O colar que a Cristininha me escolhera para usar mais logo, ficava-me mesmo bem! Devo confessar, eu estava linda!

Mas, como em quase tudo na vida, nada dura para sempre, passado o assombro inicial, já ninguém se interessava por nós, excepto alguns dos companheiros que ainda não se tinham apercebido que já estavam fora da cama, com os olhos fixos no nada, talvez pensando o mesmo que nós, noutros dias, mas hoje… hoje seria impossível, tal é o nosso aparato e agitação! Estávamos vistosas e facilmente avistáveis!

O pequeno-almoço passou num repente e tivemos imenso cuidado em não sujarmos a linda roupa que nos aprimorava o corpo e embelezava a alma! Lavamos muito bem a dentadura, fizemos umas quantas caras tolas para o espelho que nos respondeu na mesma moeda e treinamos algumas poses corporais de que nunca nos esquecêramos! Ainda temos escondidos os nossos truques femininos, nas mangas de toda a nossa roupa! Eh! Eh!

A manhã foi passando muito dificilmente… os minutos pareceram horas e as horas pareceram séculos, enquanto nós esperávamos encostadas ao vidro da porta do Lar! Sabíamos que, mais minuto menos minuto, a minha filha, o genro e os netos aí apareceriam sorridentes e felizes por me verem tão linda e feliz por eles e por mim mesma e nos levariam para casa. Hoje, especialmente.

Eu sei que eles não me podem ter lá em casa, durante todo o tempo. A vida está difícil, o espaço é reduzido, não há cama para mim, os netos vão crescendo, já são dois os animais domésticos e o dinheiro não dá para tudo! Sei que não é por vontade deles que aqui estou, acredito neles, apesar da minha companheira de alma me contrariar e dizer que eles usam o meu dinheiro da reforma para usufruto deles! Eu acho que é a vida! É…! Eu entendo-os…

Assim, com as minhas ansiedades e sobressaltos momentâneos, a hora do almoço chegou num ápice mas eles ainda não tinham chegado! Coitados, deviam estar preocupados, pelo atraso… alguma coisa acontecera, eu tinha a certeza! A minha amiga estava sempre a enervar-me, a envenenar-me, dizendo que eles se tinham esquecido de nós mas eu sabia que não! Sabia que não poderia ser assim!

Estávamos encostadas ao vidro da porta e daí via tudo o que se passava na rua, todos os que entravam e saíam… tinha a certeza de que eles estariam a chegar, não tardaria nada! Tinha a certeza de que seria uma consoada consolada! Eu tinha esperado por aquela noite sagrada, em família, junto de quem tanto amava e que tinha a certeza de que também me amavam, de tal forma que até já me tinha recordado de todos os cânticos de Natal da minha meninice, para cantar aos meus netos! E eu sabia que eles iriam adorar! Parecia-me já os estar a ver, surpreendidos por eu cantar tão bem e por ainda me lembrar de tanta coisa bonita! E mais… eu estava segura de que eles ainda iriam pedir mais! “Mais uma vez, avozinha!”, diriam eles e eu, eu claro que lhes faria as vontades! E o dia seria assim passado em felicidade! A noite seria quente e vivida em volta da mesa, rindo e celebrando com amor, com muito amor!

E ali continuava eu e a minha companheira de alma, com a cara encostada ao vidro, esperando pela minha família, que estaria prestes a chegar! O que eu já não conseguia, agora, suportar eram aquelas pessoas de volta de mim, dizendo tontices e palermices!!! A convidarem-me a sair dali, de onde podia ver a rua e de onde iria ver a minha família chegar, a qualquer momento… diziam-me para desistir de esperar! Mas eu negava-me a sair de onde estava, porque o meu coração não admitia outra coisa que não fosse, de um momento para o outro, ver aparecer aqueles sorrisos que eu tão bem vincara na minha imaginação! A minha companheira também não me ajudava nada! Não me dava a paz que eu precisava! Mas eu sabia que eles viriam, apenas estavam atrasados... acontece, por vezes! Seria impossível a minha filha esquecer-se de mim! Não! Isso seria impossível, de todo!

“Larguem-me!”, gritava eu para quem me queria arredar dali, junto ao vidro, olhando para a rua cada vez com menos gente. Já tinha passado a hora de almoço! Os meus familiares deviam estar aflitos, pobrezinhos… deviam estar preocupados comigo, pensando que eu estava a sofrer pelo seu atraso casual, mas eu acreditava neles, eu acreditava… Não! Não sairia dali! O relógio maldito também estava a ser meu inimigo e teimava em não parar e os seus ponteiros corriam ainda mais depressa à volta do mesmo ponto! Já toda a gente tinha almoçado no Lar e estavam todos em redor do ponto onde eu estava, mas não estavam à espera de ver chegar ninguém… apenas eu ainda acreditava! Eles olhavam e esperavam ver até quando eu aguentaria ficar ali.

Que teria acontecido de tão grave? Deviam ter tido algum acidente! Nem queria pensar naquilo, nessa triste ideia que acabara de ter tido! E as pessoas à minha volta estavam cada vez mais teimosas… não me largavam, não me deixavam em paz, esperando os meus queridos! Eles deviam saber que os familiares não esquecem familiares! Os filhos não esquecem os pais, pois não? Eu nunca esqueci os meus! Nunca esqueci a minha filha… seria impossível ela esquecer-se de mim… eu não sou uma coisa, não sou um objecto!

Mas o tempo estava a derrotar-me. Confesso… a minha companheira também estava a vencer-me… e se me esqueceram mesmo? Não podia ser verdade, pois não? Ouvia, agora, atrás de mim, alguém ter telefonado… sim, parece que se esqueceram mesmo… que tinham perdido muito tempo nas compras de última hora… e eu não compreendia bem como podia isso ter acontecido… eu nunca me esqueci, nem dos pais, nem da filha… devia ser engano…

Mas não, afinal, não era mesmo engano… desisti, recolhi. Este ano já não haveria Natal, nem cânticos, nem consoada, nem alegria, nem felicidade, nem família… já não haveria mais Natal algum.

Desisti… dei o comando dos passos à minha companheira… certamente ela não saberia o que fazer, o que era bom… voltaria a não ser notada, seria igual a todos os outros que nem sabem que já morreram… seria apenas mais uma na noite a que vão chamar de Natal, este ano aqui, juntamente com vários outros que as famílias se atrasaram em vir buscá-los em anos anteriores!

Mais tarde, ouvi dizer que queriam vir buscar-me ainda nessa tarde… mas eu disse que não. Eu já tinha esquecido os cânticos, já despira e guardara para sempre a roupa onde cabiam duas de mim, as pinturas já tinham ido com a água e o perfume desvanecera por completo! Agora, era eu que não queria ir! Sou uma mulher digna! Sempre o fui! Sempre fui uma senhora com honra! Agora, não! Agora, fico à espera de um Natal que não vai passar por aqui! Que não vai entrar por aquela porta onde estive, a olhar pelo vidro, para a rua, esperando que a minha família chegasse!

 

Ainda continuo bonita… gosto muito deste colar!

 

Autor: Vitor C. 26/07/2015


Você já se sentiu um corpo estranho no mundo?

 

Como se você fosse parte dessas coisas que não fazem o menor sentido?

 

Ou que suas ideias e pensamentos andam na contramão de tudo o que é comum e normal?

 

Bem vindo ao clube!

 

A imagem abaixo me faz refletir nesse meu lado até o momento desconhecido, mas, que anseio conhecer. 

 

Lee.

Arches National Park, Utah.




"...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo."

(Clarice Lispector)


Always On My Mind

Maybe I didn't treat you

Quite as good as I should have

Maybe I didn't love you

Quite as often as I could have


Little things I should have said and done

I just never took the time

You were always on my mind

You were always on my mind


Maybe I didn't hold you

All those lonely, lonely times

And I guess I never told you

I'm so happy that you're mine


If I made you feel second best

Girl I'm so sorry, I was blind

You were always on my mind

You were always on my mind


Tell me

Tell me that your sweet love hasn't died

Give me

Give me one more chance to keep you satisfied

Satisfied


Little things I should have said and done

I just never took the time

You were always on my mind

You were always on my mind


You were always on my mind

You were always on my mind

Sempre na minha mente

Talvez eu não tenha lhe tratado

Tão bem quanto deveria

Talvez eu não tenha te amado

Tanto quanto eu poderia


Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito

Eu simplesmente nunca encontrei tempo

Você esteve sempre na minha mente

Você esteve sempre na minha mente


Talvez eu não tenha te abraçado

Em todos aqueles solitários, solitários momentos

E eu acho que nunca te disse

"Sou tão feliz por você ser minha! "


Se eu te fiz sentir-se em segundo lugar

Garota, eu sinto muito, eu estava cego

Você esteve sempre na minha mente

Você esteve sempre na minha mente


Diga-me

Diga-me que seu doce amor não morreu

Dê-me

Dê-me mais uma chance para deixá-la satisfeita

Satisfeita


Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito

Eu simplesmente nunca encontrei tempo

Você esteve sempre na minha mente

Você esteve sempre na minha mente


Você esteve sempre na minha mente

Você esteve sempre na minha mente

ELVIS 

 



  • Distância.....
Coração inquieto
Que procura num olhar,
A razão de ser feliz.
Pensamentos que não sossegam
Sentimentos travessos
Que alimentam o coração.
Pode chover…
Uma tempestade surgir
Mesmo aqui dentro
O meu coração chama por ti.
E a minha alma vai ao encontro com a tua presença...
Fazendo da distância um simples detalhe.
Detalhe insignificante
Para um coração apaixonado...
                                                                                                                      (Marisa Oliveira Souza)
    

Identidade

Preciso ser um outro

para ser eu mesmo

Sou grão de rocha

Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando

o sexo das árvores

Existo onde me desconheço

aguardando pelo meu passado 

ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro

No mundo por que luto nasço.

(In "Raiz de Orvalho e Outros Poemas")

   Autor: Mia Couto


 Amor!

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor? 

Camões


...Será talvez,

Que minha ilusão,

Foi dar meu coração,

Com toda força pra essa moça me fazer feliz...


Flor de Lis (Djavan)


O Poder da Mulher!

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta e nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pelos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Vinícius  de Morais

 


 

Lembra-te 
que todos os momentos 
que nos coroaram 
todas as estradas 
radiosas que abrimos 
irão achando sem fim 
seu ansioso lugar 
seu botão de florir 
o horizonte 
e que dessa procura 
extenuante e precisa 
não teremos sinal 
senão o de saber 
que irá por onde fomos 
um para o outro 
vividos

(Mário Cesariny, in "Pena Capital")

 Em Todas as Ruas te Encontro

Em todas as ruas te encontro 
em todas as ruas te perco 
conheço tão bem o teu corpo 
sonhei tanto a tua figura 
que é de olhos fechados que eu ando 
a limitar a tua altura 
e bebo a água e sorvo o ar 
que te atravessou a cintura 
tanto tão perto tão real 
que o meu corpo se transfigura 
e toca o seu próprio elemento 
num corpo que já não é seu 
num rio que desapareceu 
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro 
em todas as ruas te perco

(Mário Cesariny, in "Pena Capital")



Kenny Rogers e Bee Gees You And I

"Pelo fato da vida ser, relativamente, tão curta e não comportar “reprises”, para emendarmos nossos erros, somos forçados a agir, na maior parte das vezes, por impulsos, em especial nos atos que tendem a determinar nosso futuro. Somos como atores convocados a representar uma tragédia (ou comédia), sem ter feito um único ensaio, apenas com uma ligeira e apressada leitura do script. Nunca saberemos, de fato, se a intuição que nos determinou seguir certo sentimento foi correta ou não. Não há tempo para essa verificação. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com carinho muito especial."

(Milan Kundera)



Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol, 
que é feito de ternura amarrotada, 
da frescura que vem depois do sol, 
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade! 
Há restos de ternura pelo meio, 
como vultos perdidos na cidade 
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente, 
e é ternura também que vou vestindo, 
para enfrentar lá fora aquela gente 
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós a despimos assim que estamos sós!

 

(David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"



"O amor é mestre, mas é preciso saber adquiri-lo, porque se adquire dificilmente, ao preço de um esforço prolongado; é preciso amar de fato, não por um instante, mas até o fim."

                                    Fiodor Dostoievsk



"A Esperança não murcha, ela não cansa,

Também como ela não sucumbe a Crença, 
Vão-se sonhos nas asas da Descrença, 
Voltam sonhos nas asas da Esperança..."

 

(Augusto dos Anjos)


Não Estejas Longe de Mim um Dia que Seja

Não estejas longe de mim um dia que seja, porque, 
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia, 
e estarei à tua espera como nas estações 
quando em algum sitio os comboios adormeceram.

Não te afastes uma hora porque então 
nessa hora se juntam as gotas da insônia 
e talvez o fumo que anda à procura de casa 
venha matar ainda meu coração perdido.

Ai que não se quebre a tua silhueta na areia, 
ai que na ausência as tuas pálpebras não voem: 
não te vás por um minuto, ó bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe 
que atravessarei a terra inteira perguntando 
se voltarás ou me deixarás morrer.

(Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"

Solidão

Imensas noites de Inverno, 
com frias montanhas mudas, 
é o mar negro, mais eterno, 
mais terrível, mais profundo.

(...) 
A noite fecha seus lábios 
- terra e céu - guardado nome. 
E os seus longos sonhos sábios 
geram a vida dos homens.

Geram os olhos incertos, 
por onde descem os rios 
que andam nos campos abertos 
da claridade do dia.

(Cecília Meireles, in Viagem")

Não Digas Nada!

Não digas nada! 
Nem mesmo a verdade 
Há tanta suavidade em nada se dizer 
E tudo se entender — 
Tudo metade 
De sentir e de ver... 
Não digas nada 
Deixa esquecer

Talvez que amanhã 
Em outra paisagem 
Digas que foi vã 
Toda essa viagem 
Até onde quis 
Ser quem me agrada... 
Mas ali fui feliz 
Não digas nada.

(Fernando Pessoa, in "Cancioneiro")

O Amor é um Acidente,

Uma Renúncia,

Um Hábito,

Uma Maldição

(...) O amor é uma renúncia. Amar alguém é desistir de amar outros, é desistir por esse amor do amor de outros. Eu desisti de tudo. A partir desse dia dei-lhe todos os meus dias. Entreguei-lhe os meus sonhos, os meus segredos, as minhas convicções mais profundas.(...)

(José Eduardo Agualusa, in 'A Educação Sentimental dos Pássaros


Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida, 
Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa ténue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida! ...

Sou aquela que passa e ninguém vê ... 
Sou a que chamam triste sem o ser ... 
Sou a que chora sem saber porquê ...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou!

(Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

"E quanto à beleza? Você acha que ela é um componente importante nas relações?

- Eu acho que a beleza das palavras é fundamental. Se você sabe falar no ouvido, no ritmo certo do vento, fazer pausa, criar melodia, você vai se tornar automaticamente bonito. Porque a mulher fecha os olhos para sentir prazer, a voz são os olhos abertos da mulher."

               

 (Fabrício Carpinejar)


Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

(Cecília Meireles)

Recordação

E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.

Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.

E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.

(Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens")
Tradução de Maria João Costa Pereira


.lindo Rafn



Outro dia sentado a beira da estrada, além do horizonte avistei o infinito.

Muito triste era o céu quando o sol o deixava, um oceano de estrelas formou-se em segundos...

E em meio alguns versos pensando na vida, amarga tristeza então eu senti.

Pouco era capaz nem sequer eu de vê-la. Nas trevas da noite rendi meus anseios...

Senti muita paz entre o céu e a terra. Passei a entender que  noite é preciso.

Olhando para dentro de mim percebia, que somente depois do chorar vem o riso. 


Existem imagens que dialogam com o nosso interior!



 


Lagoa Bonita - Campinorte - Goiás

CANÇÃO DO EXÍLIO – Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

 

Coimbra – julho 1843.


Uma revoada de pássaros
Pairando acima
Apenas uma revoada de pássaros
É assim que você pensa no amor
E eu sempre olho para o céu
Rezo antes do amanhecer
Porque eles sempre voam
Às vezes, eles chegam
Às vezes, eles se vão
Voam
Uma revoada de pássaros
Pairando acima
Em meio à fumaça eu me viro e ascendo
Seguindo-os
Ainda assim, eu sempre olho para o céu
Rezo antes do amanhecer
Porque eles sempre voam
Num minuto eles chegam
E logo depois se vão
Voam
Então voe, cavalgue
Um dia talvez eu voarei ao seu lado
Voe, cavalgue
Um dia talvez eu possa voar com você
Voe      (Fly On Coldplay)

O Passado é o Presente na Lembrança

"Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes."

"Ricardo Reis, in "Odes"
Heterônimo de Fernando Pessoa )

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

(Mario Quintana) 



Amo-te Sem Saber Como

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio 
ou seta de cravos que propagam o fogo: 
amo-te como se amam certas coisas obscuras, 
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem 
dentro de si, escondida, a luz das flores, 
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo 
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, 
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho: 
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és, 
tão perto que a tua mão no meu peito é minha, 
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

(Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor")

O Motivo da Rosa

"A ROSA, bela Infanta das sete saias
E cuja estirpe não lhe rouba, entanto,
O ar de menina, o recato encanto
Da mais humilde de suas aias,
A rosa, essa presença feminina,
Que é toda feita de perfume e alma,
Que tanto excita como tanto acalma,
A rosa... é como estar junto da gente
Um corpo cuja posse se demora
- brutal que o tenhas nesta mesma hora,
Em sua virgindade inexperiente...
Rosa, ó fiel promessa de ventura
Em flor... rosa paciente, ardente, pura!"

"Mario Quintana 
In: Apontamentos de História sobrenatural)




Quantos segredos não devem existir no cosmo onde somente as estrelas são capazes de contar!



Liz no faz de contas encantado!

Biblioteca Municipal Abril de 2015


Se Me Esqueceres

Quero que saibas uma coisa.

Sabes como é: 

Se olho a lua de cristal,

O ramo vermelho do lento outono à minha janela,

Se toco junto do lume a impalpável cinza ou o enrugado corpo da lenha, 

Tudo me leva para ti, 

Como se tudo o que existe, aromas, luz, metais, 

Fosses pequenos barcos que navegam até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora, se pouco a pouco me deixas de amar deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito me esqueceres não me procures, porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco o vento de bandeiras que passa pela minha vida e te resolves a deixar-me na margem do coração em que tenho raízes, 
Pensa que nesse dia, a essa hora levantarei os braços e as minhas raízes sairão em busca de outra terra.

Porém se todos os dias, a toda a hora, 

Te sentes destinada a mim com doçura implacável, 

Se todos os dias uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 

Ai meu amor, ai minha amada, em mim todo esse fogo se repete. 

Em mim nada se apaga nem se esquece.

O meu amor alimenta-se do teu amor, 

E enquanto viveres estará nos teus braços sem sair dos meus.

 

(Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda")


Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibifinem di dederint, Leuconoe, nec Babyloniostemptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,quae nunc oppositis debilitat pumicibus mareTyrrhenum: sapias, vina liques et spatio brevispem longam reseces. dum loquimur, fugerit invidaaetas: carpe diem quam minimum credula postero.

Tu não indagues (é ímpio saber) qual o fim que a mim e a ti os deuses tenham dado, Leuconoé, nem recorras aos números babilônicos. Tão melhor é suportar o que será! Quer Júpiter te haja concedido muitos invernos, quer seja o último o que agora debilita o mar Tirreno nas rochas contrapostas, que sejas sábia, coes os vinhos e, no espaço breve, cortes a longa esperança. Enquanto estamos falando, terá fugido o tempo invejoso; colhe o dia, quanto menos confia no de amanhã.


CARPE DIEM  -  Odes (I, 11.8) do poeta romano Horácio (65 - 8 AC)