UNIVERSO


ESTA SESSÃO FOI CRIADA ESPECIALMENTE PARA AQUELES QUE APRECIAM POESIAS, VERSOS E CONTOS COM A TEMÁTICA ESPACIAL. ESTRELAS, COMETAS, GALÁXIAS... ASSIM COMO TUDO RELACIONADO AO ESPAÇO/TEMPO. ABRA A SUA IMAGINAÇÃO E VENHA CONOSCO CONSTRUIR UM NOVO MUNDO, REPLETO DE SONHOS E FANTASIAS.

LIZ.



Queria viajar sem traje e aterrissar noutro planeta,

Onde haja chão pra deitar, orquídeas e violetas;

Nuvens como dossel e conexão sem senha.

Onde dois corações batendo não seja violência;

Onde o cúpido não use instrumentos letais

E a gente então dê um tempo nos pesadelos pessoais.

Onde ninguém se arrependa

nem menos nem mais - querer não é só andar pra frente, é não tentar voltar atrás.

Eu não tô me despedindo -

"i don't know how to say good bye",

só tô deixando escrito o que da boca não sai.

 

JEAN LAWRENZ


SE...
 
"Se, de repente,
o Sol se extinguisse,
eu quereria morrer abraçado a ti
ouvindo o teu sussurrar na orelha já fria,
a última ideia bonita,
o último desejo louco,
o último toque dos teus dentes
na cartilagem gelada...
Se um dia, tal acontecer,
guarda um pouco do teu calor,
para mim
meu amor!..."
 
VÍTOR COSTEIRA

O SOL E A LUA

O Sol e a Lua
dois astros em peculiar.
Ele todo esplendoroso,
numa beleza fenomenal.
Ela muito pequena, porém bela
em torno deste gigante
fazia o seu curso orbital.

Antes que dia e noite existissem
eles viviam junto com as estrelas,
numa atmosfera universal.
Eram dois apaixonados,
tão lindos, tão jovens
com um amor que não se via igual.

Mas um dia eles foram separados:
Ele foi reinar de dia
e ela de noite, triste e vazia,
dependente sempre de seus raios
e de noite vivia, sem alegria.

Tornou-se pois lua minguante
outrora que era deslumbrante
de coração também flamejante
agora triste, contudo elegante.

E aconteceu a fase nova
em que a esperança se renova,
frente a frente estavam os dois:
A Lua e o Sol: Amor à toda prova.

Os dois amantes se viram,
e o Sol, a Lua a admira-la;
Sonhava o sonhador de dia:
Como poder abraçá-la???

Esta fase acabou em nada,
e a Lua toda enamorada
reuniu as forças do seu amor
numa crescente apaixonada!!!

A Lua cheia de paixão se pusera
pelo seu Sol, sempre a sua espera:
toda brilhosa lhe aprouvera
como se fosse uma linda esfera.

Ela pensava no seu amado
de estar juntos, lado a lado,
tornou-se pois o símbolo
de quem tem um coração apaixonado.

Até que um dia o Criador resolveu
unir este amor antítese,
promoveu um grande evento
o qual deu-se o nome de Eclipse.

Finalmente agora o Sol e a Lua
puderam então se encontrar
tão somente por alguns instantes
e todo o Universo a testemunhar.

Hoje em dia, o Sol e a Lua
ansiosos por mais um grande momento
vivem à espera do eclipse do sol
como um grande acontecimento.

Poema: W@ndy


 
O que é a distancia?


A distancia pode ser tudo 
a longitude, ou a altura.
   A profundidade
Ou posso chama-la de mundo,
 ou apenas essa loucura
..."Que me causa tamanha saudade."
 
Ou talvez a distancia seja o tempo...
 
Que se mantém de braços abertos,
entre o sol e a lua.
"Na verdade ela é esse amor "
...Este que sinto, "que de tão certo
me faz sentir tanto (saudades tua)"

(Lourisvaldo Lopes da Silva)

 
APENAS ISSO ME CHEGA!
 
Recebe-me…
não necessito de euforias,
flores ou fantasias,
apenas preciso
que me recebas de alma aberta,
sem nenhuma palavra certa
mas com um simples e lindo sorriso…

Recebe-me no teu universo,
sintetiza-me num só verso,
idealiza-me como teu querubim,
deixa-me aconchegar em ti,
permite-me pernoitar
onde o Sol se costuma aconchegar,
e, assim, manter o calor
que ele amanhã virá buscar,
precisamente a este mesmo lugar
onde restará apenas o meu odor…

Como um doce licor,
saboreia a minha chegada
como se não houvesse amanhã
e o amanhã não tivesse uma madrugada,
para que a partida não seja desejada
nesta ventura pura e sã…

Recebe-me…
aconchega-me…
apenas isso me chega!
VÍTOR COSTEIRA

Assim como as estrelas são o Sol que iluminam galáxias, os amigos são o Sol que ilumina as nossas vidas!

 

"Medi a distância entre a Terra e Plutão,
previ o tempo entre uma noite e outra,
juntei as latas todas da minha rua
e senti, num momento,
a mais linda ideia louca:
a partida para o Espaço
dentro de um veículo nunca antes concebido,
com tudo aquilo que sonhei,
com tudo aquilo que quis,
que desejei,
mas que, no fundo, não tive...
Das flores que nunca me deste
usei-as como decoração;
as palavras que nunca me disseste
usei-as como lição;
dos ideais que nunca viveste
usei-os como computador;
da compreensão que sempre negaste
usei-a como combustível
e, com as latas que juntei,
construí um foguetão
e parti em busca das flores,
das palavras, dos ideais,
da compreensão, do amor...
E aqui ando eu eternamente girando,
em órbita dos séculos que já vivi,
fugindo de um mundo que não quis
sem flores,sem palavras,
sem ideais, sem compreensão,
sem amor..."

 

Vitor Costeira

As the stars are the Sun illuminating galaxies, friends are the sun that illuminates our lives!


Em um futuro, não muito distante...
O passado é o presente se encontrarão.
As lembranças são como fieis amantes...
E escondidos entre as recordações se abraçarão...

Deve muito a si mesmo o próprio homem
mas o presente muitas vezes não o mostra!
É no passado grandes sonhos somem
quando chegar no futuro adiante (não terá mais volta)

Nem mais espaço para um novo compor
ainda que te sobeje inspirações (não haverá mais tempo)
Quando versos não se respondem, poetas sentem dor...
É os anseios desejados se encontram no relento!

"Portas que se abrem, não se despeça delas deixando-as trancadas!"

Houve um amor que foi desprezado
depois de usufruída serventia
Como se não bastasse foi maltratado!
Existem sementes que quando caem no chão
voltam, "São os carvalhos de Jurupa em sua valentia! " 
Nenhum sentimento é fraco, se este provém de um solo coração...

Atitudes que não rimam
palavras dispersas sem rumo...
"O futuro se aproxima"
É na sua mão traz o prumo...

É na sua voz o recitar
de cada poema!
O malhete da justiça faz soar...
"Cada verso vale sua pena!"

Viver é desenhar nas nuvens
é pontilhar estrelas...

É reconhecer que sou eu, que faço as escolhas,
posso amar até o universo...
É me limitar ao azul desta bolha
tudo o que eu fizer me seguirá bem de perto!

Viver deve ser como o entrosar das noites e dias
palavras, silêncios e sonhos!
Viver é a arte de se descrever em poesias...
É ser pequeno, médio, grande ou não ter tamanho...

Pois os grandes são os capazes dos próprios pesos...
Como o amor esperado, que se reencontram na velhice!
Olham nos olhos e não sentem medo...
É dos pequenos? Nunca mais duvide!

Unir Versos é corrente de mãos dadas
é orbita solar!!
"Paixão, para sonhar de madrugada"
É a resposta que vem nos encontrar!

 Autor: Lourisvaldo Lopes da Silva


 
Moro na Lua...

Moro no interior da lua
Onde as ruas me levam sempre ao mesmo destino
Mora na lua, sou um eterno peregrino
A lua encantada me faz cada vez mais apaixonada
Sempre procuro uma estação mas é em suas fases que encontro sedução
Lua branca, lua azul, lua dourada, lua vermelha e lua prateada
Parece solitária mas vive povoada
Cheia de poetas, de amantes e eternos viajantes
Moro nessa lua onde o sol é bem distante
Mas é um eterno apaixonado por essa lua insinuante
Lua sombria as vezes quase fria ...
Lua brilhante de eterna magia
Moro no mundo da lua!
Pois, é a Lua que me guia!!

P@ty

STAR

Descobri que sou poeira estelar
Deva ser por isso que passo horas o céu a contemplar.
Sinto faltas em meu íntimo
De coisas que nem sei explicar.
Em algum lugar no espaço infinito
Deve estar o restante de mim a me procurar.

Tornei-me lunático catador de estrelas
Sentado na lua vendo partes de mim a brilhar
Meu coração é o mais incompleto de meu ser
Sinto um vácuo profundo em meu peito a doer.
Esta busca incessante de mim mesmo
Trouxe-me tantos infortúnios...

Já pensei ter enfim me encontrado
Quando por ela eu fui amado.
Ouvi canções que diziam
Que valentes estrelas brilham 
Em pétalas de rosas em lindos jardins
Só não pensei que teria que suportar os espinhos.

Se ela era rosa ou estrela eu não sei
Mas aquela garota sabia fazer sentir-me rei.
Delicada como flor, ofuscante como o sol
Seu olhar se fez o meu farol.
Ao lado dela as constelações eram meu véu 
E nos seus braços eu senti que ganhava o céu.

...Anjo Negro...


AMAR-TE...


Amor…
mar, amar, amar-te,
aqui ou em Marte,
em qualquer parte,
imaginar-te,
desenhar-te,
pintar-te,
esperar-te,
olhar-te,
falar-te
desejar-te,
agradar-te,
conquistar-te,
abraçar-te,
beijar-te,
arranhar-te,
amar-te,
cansar-te,
fatigar-te,
presentear-te!!!
Adorar-te,
venerar-te
com arte!
Enfim, sonhar-te!

Autor: Vítor. Costeira


 
O INFINITO

Na magia de cores do infinito 
o manto das estrelas cobrem o nosso amor 
tudo é transcendental e bonito
onde o Sol não pode se por.

O horizonte do universo pode testemunhar
de que o amor é a maior força 
nele o espaço tempo faz-se parar 
nem mesmo que ele se distorça.

Nas estrelas o nosso amor está escrito
na galáxia mais brilhante 
todas as letras em negrito 
em um colorido extravagante.

Vamos voar neste infinito 
escrevendo o nosso nome no céu 
tornando o infinito finito
como se fosse o nosso véu.

O infinito são os teus olhos...meu amor 

Texto: W@ndy

 
GIRA-GIRA

Lá no céu, olha que moda,
Fica o sol grande e brilhoso.
Em volta, brincam de roda
Oito amigos... que gostoso!

Cada amigo é um planeta,
Que é também corpo celeste.
Já o sol é uma estrela,
Que de rei sempre se veste.

Um rei que não tem coroa,
Mas tem muita energia.
Se ele usasse coroa...
Num segundo se derreteria!

Coleção Poesias para Crianças

 
O TEMPO

O Tempo:
uma serie interrupta
e eterna de instantes, 
enquanto temos ansiedade
ele não para de trabalhar
e ela não nos leva a lugar algum...
Não precisamos de coisas 
e sim de tempo, tempo para vivermos 
tempo para nós mesmos, 
tempo é essencial 
até porque quem pode comprá-lo 
ou colocá-lo numa capa de jornal?
O tempo é sensacional.
Ele não tem ciúmes
ele tem o suficiente: nós.
Não dá pra fazer um chá inglês 
ou mesmo ou café para ele,
ele não pára para tomá-los, 
ele muda a todo instante:
não é o mesmo de ontem 
o que ele é hoje, 
e nem o será de amanhã 
ensinando-nos também a mudarmos 
para simplesmente sermos 
melhor do que a nós mesmos ...
O tempo passa enquanto 
escrevo este poema...
O tempo passa enquanto você o lê...
                                                                     e não volta jamais!!,

                                                                   Poema: W@ndy

 
FAÇA UM PEDIDO...

As estrelas tão longe pontilham seus mapas
no céu desnudo de um olhar perdido!
Nossa vontade por descobertas, que nunca passa
grande universo em silêncio se parece comigo!
 
Foi olhando pra cima
que me coloriu a lembrança...
Dos dias distantes, quando a saudade se aproxima
tê-la ao longe me fez enxerga-la mais que antes!
 
"Foi a saudade,essa lua minguante
me acenando com o brilho passado!"
Daquele teu sorriso distante
que em minha solidão tenho guardado...

Até mesmo a imensidão, deixa decidir
as escolhas, liberdade para as estrelas cadentes!
Mais uma vez me vi sofrer a vê-la partir
cada noite que passa teu brilho é mais ausente...
 
A solidão revela brilhos
que nem mesmo a  maior das distancia pode ocultar!
Fechando os olhos busquei um abrigo
 
"e um leve sono me sobreveio, a influência do universo me fez sonhar"...
 
"Contos estelares"    (Faça um pedido)

Saíram as portas todas as estrelas
empunhavam nas mãos uma tocha...
O clarão do luar, refletia uma fogueira
É os cometas se alinhavam a nossa volta!

A escuridão estendia-se como um carpete negro
um brilho imenso se aproximava abrindo a escuridão!
Os guardas do tempo aprisionaram os medos
ela voltava ao meu encontro é me estendia as mãos...
 
Da terra vinha o som de uma valsa envolvente
regendo o universo!
Não mais sentiria a sua falta, existia em tudo a gente
as saudades se apagavam, é os sonhos anunciavam o teu regresso!

"Ela veio, noite nua a me encontrar
ela veio, sorria a lua!"
 
Mas antes que a pudesse abraçar
despertei diante de um universo que tem o tamanho
da saudade tua!

Já era tarde, 
é o frio, tem o toque da realidade!
A noite estrelada
a cor da saudade...
"Da mulher amada"
 
Quando me levantei do chão para ir embora
uma grande estrela se separava do céu...
CONTOS ESTELARES
LORISVALDO LOPES

       
RESTOS DE ESTRELAS      (conto)

Acordou com o barulho do ladrar dos cães, nos terrenos próximos de casa. Envolto na penumbra do quarto, originada pela entrada de uma luz ténue, através das persianas mal fechadas da janela do quarto, rolou ligeiramente para o lado de dentro da cama. A cama de casal estava, uma vez mais, àquela hora, vazia. Como ele próprio.

Levantou-se penosamente e dirigiu-se para a casa-de-banho. Acendeu a luz e deu de caras com o reflexo da sua imagem no espelho. Ali estava ele… ou o que ainda restava dele. Estava velho! Pior, sentia-se mesmo velho! O tempo atropelara-o já depois de ele ter atropelado o tempo. Não havia nada a fazer, quanto a isso, a não ser que aprendera mais uma lição. E, uma vez mais, tarde demais…

Depois de tomar o pequeno-almoço sozinho, começaria um novo dia, igual a outros, fazendo companhia às horas que passassem e entretendo os pensamentos com algumas atividades que lhe preenchiam os dias e acabavam por lhe dar algum prazer. Mas nem sempre assim fora… houve tempos em que achava que ia ser feliz para sempre e que ia conseguir fazer, todos à sua volta, também, muito felizes! Tempos houve em que fora mesmo muito feliz! Mas ele não sabia tudo, como qualquer ser humano, claro, e uma das coisas que não sabia é que há um conceito utilitarista da vida e das relações humanas, seguido por muitas pessoas, que origina a perda de valores sentimentais e de afetos, de proximidade, de carinho, de toques… e ele estava, precisamente, no centro dessa ausência.

Ninguém o tinha afastado, nem repelido, era apenas um processo normal em sociedade e ele tinha vivido com a esperança que assim não fosse ou que não fosse ele a ser um dos escolhidos para essa provação. Era bem tratado, tinha sempre a roupa pronta e asseada, nada lhe faltava e só não tinha companhia, nem palavras, nem afeto.

Quanto à família, todos se tinham já habituado a vê-lo distante, ausente e metido com ele próprio. Tinha horários e hábitos que não encaixavam nos deles e, quando falava, dizia coisas sem grande sentido, sem grande utilidade.

Nos últimos tempos andava cada vez mais fechado e rabugento, como se todos tivessem culpa de algo que não percebiam. Começava por se opor, por se intrometer em questões e decisões que nunca tinham passado por ele antes e, assim, chocava constantemente com tudo e com todos. Quase sempre as conversas perdiam sentido e acabavam em clima de guerrilha familiar! Tudo isso corroía as ligações que os deviam ligar até que, finalmente, ele percebera qual era o seu papel, aquilo que a mulher e os filhos esperavam dele.

Tinha estado muitos anos intermitentemente ausente e era esporádica a sua aparição em casa. Nunca os problemas anteriores tinham tido a solução a passar por ele, da mesma forma que havia grande parte deles que nem chegaram ao seu conhecimento.

Na época, a sua profissão era conhecida como “caixeiro-viajante”. Andava de terra em terra, com uma caixa que continha amostras de objetos em cristal. Eram lindas aquelas peças e ele tinha tido algum sucesso com as vendas! Sempre que expunha os cristais, sentia enorme prazer no toque, no manuseamento e exposição daqueles artigos que, de tão reluzentes, brilhantes e atrativos, ele chamava ternamente “estrelas”… sim, ele vendia estrelas e iluminava os olhos e a vida a quem as comprava!

Quando regressava a casa, era como se chegasse, também ele, uma estrela cheia de luz, de brilho e de calor: a família mostrava-se feliz, ele esquecia as vendas e todos viviam aqueles curtos dias como se não existissem outros!

Os tempos modernos trouxeram inovações tecnológicas e novas formas de transportes que arrasaram o seu modo de vida. Para além disto, a sua idade, embora parecesse bem mais novo, por esta altura, começava a ser preocupante para se encontrar novo emprego. E ele sempre tinha tido como atividade profissional aquela que tanta felicidade lhe tinha trazido…

Com o seu afastamento laboral, encheu-se de esperança no conforto, na paz e no amor que poderia agora dar e receber, em família. No entanto, cedo se apercebeu que as coisas não funcionavam assim: a mulher não era a mesma com quem tinha casado e jurado amor terno e eterno, os filhos tinham crescido e estruturado personalidades sólidas e independentes e ele não encontrava nem o lugar nem a missão que julgava estar guardado para si… ninguém estava preparado para ele!

Foi assim que o ex-caixeiro-viajante concluiu que tinha perdido as suas estrelas e que nunca chegaria a ser nenhuma, na verdade.

Isolara-se, fechara-se e definhara. Implodia, aos poucos. Começou, então, a vaguear pelas proximidades da casa, nos campos e montes próximos. Primeiro, a qualquer hora do dia e, por fim, apenas ao entardecer, até a noite cair. A família sabia por onde ele andava e sabia que voltava sempre com um saco de serapilheira com objetos a tilintar lá dentro, na maior parte das vezes, que dizia serem restos de estrelas caídas do céu. A mulher e os filhos perdoavam-lhe as palavras e justificavam-nas com o estado semi-senil com que ele vivia. Assim que chegava, dirigia-se imediatamente para um anexo, no quintal, onde ninguém mais lá entrava porque achavam que ele assim o quisesse. Mesmo quando parecia que nada trazia no saco, ficava lá dentro algum tempo e, depois, entrava em casa para petiscar qualquer coisa que lhe tivessem deixado.

O dia chegava ao fim sem grandes conversas e apenas sentiam os olhos dele cravados em cada um, com um olhar que não entendiam mas a que já estavam tão habituados que não lhe davam muita atenção.

Certo dia, como consequência natural da vida, faleceu. Este momento não foi sentido como especial, nem diferente, pois aquela família era tão racional que se poderia dizer, injustamente, que eram indiferentes. Quando chegaram a casa, ele ainda estava na cama fria. Como ele…

Sem drama, realizou-se o funeral e tratou-se de recolher os objetos e roupas do defunto para poderem ser distribuídos pelos mais necessitados da sociedade. A esposa era uma mulher prática e sabia que a vida não ia parar. Não valia a pena chorar os momentos bons nem os maus porque, um dia, seria assim, também, com ela.

O último compartimento a preparar para os novos tempos que aí vinham foi o anexo do jardim. Finalmente, iam todos entrar no verdadeiro mundo dele. Não esperavam encontrar nada de especial, antes temiam enfrentar um verdadeiro caos de cacos velhos e artefatos inúteis.

Acenderam a lâmpada pendente do centro do teto, como um pequeno Sol e pararam. Em silêncio, com as lágrimas a fugirem dos olhos e o corpo a tremer de emoção descontrolada, sentiram que tinham entrado num ambiente único e maravilhoso, digno de apenas alguns mortais: a luz pendente, difusa e fraca, incidia os seus raios em inúmeros pequenos pontos que refletiam essa mesma luz, como se fossem estrelas! Por todo o anexo, encontravam-se fotografias da mulher, do casamento e dos filhos e, no centro de todas elas, uma única imagem sua, sorridente e feliz! À volta de cada fotografia, os pequenos pontos intensamente brilhantes eram pedaços coloridos de vidro que ele colecionava todos os dias do chão dos montes e dos campos e, por cima da bancada de trabalho, estava pendurada uma tarjeta onde estava escrito “Estas são as minhas estrelas!”

Autor: Vítor Costeira