Seleção de poesias publicadas no Facebook de Vítor Costeira - 2016

TENHO PALAVRAS...
Tenho palavras, meu amigo,
que te servirão de abrigo,
te darão força e coragem
para seguires viagem,
para enfrentares o caminho
sabendo que não viajas sozinho…

Tenho palavras, meu amigo,
que te acompanharão,
que te darão a mão
sempre que te sentires perdido,
confuso e derrotado,
e a vida te fizer sentir
como um pesado fardo…

Tenho palavras, amigo,
que não preciso delas, agora,
aqui comigo
e que sei que mas devolverás,
com um sorriso
mais largo do que o mundo,
mais fundo do que o mar,
se, um dia, eu delas precisar…

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

QUE NOME TEM A TUA FELICIDADE?...
E o mar…?
E o Sol…?
E as flores que te esperam?
E o aroma dos sorrisos?
E os frutos silvestres?
E o abraço dos amigos? 
E as aves das manhãs?
E as manhãs?
E a liberdade?
E o sonho?...

Que nome terá a tua felicidade
se não saboreares
o instante chamado vida?!

E quem serás tu
no fim desse instante,
viajante?

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Kingabrit

LUA NOVA DO MEU DORMIR
Quem és tu,
depois de fechares a porta da noite
e te ausentares
daquela que me deixou um sorriso
e a promessa
de nos voltarmos a encontrar
na manhã seguinte?

Sorris e imaginas
quanto tempo fico na mesma posição,
esperando uma noite breve,
ou encostas o corpo na cama
e esperas o momento
em que a porta abra generosa
e me permita a passagem
até te descobrir na surpresa?

Por qual das frestas me adivinhas,
no sussurro dos meus passos
que se movem ansiosos
na desesperançada espera dos teus?

Fizeste-te Lua Nova do meu dormir
e as minhas noites não têm luar…

… em que fase da noite te posso encontrar?...

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

COMO VELEIRO SEM VELA
Ondulante
a onda ondula,
airosa e arrogante,
em crescente constante,
obrigando o meu olhar
a viajar nela,
como veleiro sem vela,
de dentro para fora de mim,
do leito para a margem
de uma viagem
sem fim!
AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

COMO UM NOME POR DESCOBRIR
Senta aqui,
bem junto a mim,
por mim e por ti,
e fala-me de algo lindo,
mortal mas infindo,
doce, mesmo sendo bravio,
fala-me de uma flor,
de um rio,
de uma cor,
ou de um abraço
e desagua em mim o teu sorrir,
como um nome por descobrir,
sem tempo nem espaço…

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Vladimir Kush

VENS...?
Vem comigo
percorrer o trilho
das minhas palavras,
no pó
que os meus pés
levantam,
ao caminhar,
por não saber
ainda andar só…

só andar…
vens?

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

QUANDO CHEGAR O ENTARDECER...
Diz-me…
que trilhos secretos
terei que percorrer,
que veredas pedregosas
terei que desbravar,
por que calvários dolorosos,
por que penitências
terei eu que sofrer,
para de novo ver
os trevos a dançar,
no teu olhar,
quando se cruzar
com o meu olhar,
que virá ver o acontecer,
o chegar do entardecer
para em ti se abrigar…
Diz-me…?

TEXTO: Vítor Costeira
IMAGEM: Vítor Costeira


SOU MEU BARCO E MEU BARQUEIRO
Da mágoa, fiz-me prisioneiro…
em prisioneiro, desfiz-me em água…
na água, encontrei um madeiro…
do madeiro, fiz uma jangada…
na jangada, encontrei a salvação…
da salvação, fiz uma estrada…
na estrada, encontrei um balão…
com o balão, inventei uma quimera…
da quimera, fiz uma enorme asa…
com a asa, voei para uma Primavera…
na Primavera, construí uma casa…
da casa, fiz um poderoso castelo…
do castelo, fiz uma medonha prisão…
na prisão, surgiu a triste mágoa…
da mágoa, fiz-me prisioneiro…
em prisioneiro, desfiz-me em água…
e na água, encontrei um madeiro…
do madeiro…

Basta! Não quero mais mágoa,
nem quero ser o meu prisioneiro!
Quero ser o barco e o barqueiro
e que a estrada se faça água
e eu rume a um porto de abrigo
que me receba doce amante,
no aconchego do instante,
que me receba eterno amigo!

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

... E AS CEREJAS...? (Poema quase-erótico)
Rosas…
pétalas…
o ar doce e inebriado,
todo ele chamamento,
embriagado,
tal como eu estou…
e sigo o caminho do perfume,
adentro-me no trilho do vapor
e sei que vou encontrar-te,
pois sei que me esperas
entregue a um momento já nosso…

mas… para que quero eu pétalas,
ou rosas,
ou perfumes…?
para quê?
se de olhos vendados
e os outros sentidos acordados
eu te encontraria
e saberia que és tu que aí estás,
pelo perfume do teu corpo,
pelo teu odor,
pela fragância que te veste nua,
pelo traçado da roupa
que docemente tentadora
deixaste espalhada pelo chão…

mas, hoje, não…
hoje, deixa ficar as velas,
aromatizadas a quente canela!
Atapeta a água morna com rosas e pétalas,
para receber o instante mais belo
quando nos olharmos desnudos,
porque só nós agora somos o tudo!
As palavras também ficam lá fora
porque agora
nada impedirá este instante
de desejo amante
e ambos sabemos ler
no toque da pele
e no fresco do hidromel
de que me fiz surpresa…

Também trouxe comigo… cerejas…
cerejas da cor do sangue fervente
que aumenta a paixão e a faz ardente
e nos incita a ter fome de amor!
Cerejas para dependurar nas tuas orelhas
e aí as ir colher,
num gesto tão puro e são,
de que a Natureza tão bem é sabedora,
como quem te conta os segredos que já conheces
no húmido da minha boca
e, depois, ambos as trincaremos na mesma dentada
e permitiremos que o suco ferva na pele quente
e colore a espuma da água que nos une…

no fim, se é que o fim existe,
os copos continuarão sem beberem
o moscato espumante que se faz espera,
pois seremos cristais um do outro,
flores de qualquer Primavera,
um do outro amante,
e líquidos um do outro seremos
e beberemos, um no outro,
o líquido em que no outro nos diluiremos!

Rosas,
pétalas,
chocolate…
óleos e perfumes…
hidromel para inebriar…
tu e eu…
num prazer meu e teu,
num delírio de sons
que apenas nós ouviremos,
bailando num oceano de espuma para amar…

... e as cerejas?
Ficará alguma por trincar?

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

SÊ O CISNE E O CANTO!
Sempre que o teu mundo encolher,
as paredes do quarto te asfixiarem,
o ar que respiras te faltar,
o teu olhar se perder,
as tuas mãos maltratarem o teu corpo,
a pele transpirar solidão,
o cabelo se desgrenhar,
o equilíbrio do corpo se perder,
os passos hesitarem
e a tua própria raiva te morder,
por repetidos erros que juraste evitar…

descansa, primeiro, o corpo exausto,
cerra os olhos suavemente,
desamarra-te dos braços que te ferem,
inspira todo o ar de que precisas
e não tentes esquecer,
tenta apenas perdoar-te,
reconcilia-te, entendendo-te…

Depois, arranja o teu cabelo,
limpa o rasto das lágrimas que já não choras,
fixa os olhos na pessoa que és,
passa as mãos em ti, sente-te,
e sai de ti
e, de ti, para a rua…
Caminha, olha em teu redor
de cabeça erguida e sorri!
O mundo precisa de ti
tanto quanto tu precisas dele!
Tu és parte de um todo
e, o todo, não está completo sem ti!

Simplesmente…ama quem és!
Sê o teu cisne e o teu canto,
nunca o canto do cisne,
e, como por encanto,
porque o direito à felicidade te pertence,
tudo o resto acontecerá simplesmente…

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

NÃO SEI SE FIZ BEM OU SE FIZ MAL (brincadeira quase-poema)
A cueca da minha vizinha
caiu em cima da minha
que estava a secar no estendal!
Sem vergonha, destemida,
queria algo, a atrevida,
num despropósito total!

Achei-a algo enrugada,
descosida e até descorada,
numa posição fetal!
Deixei-a lá pendurada,
triste, só e abandonada,
não sei se fiz bem ou se fiz mal…

Quando reabri a janela,
fogosa estava ela,
saboreando um abracinho!
A saudade foi mais forte
e procurou a sua sorte,
a cueca do vizinho!

Qual Romeu e Julieta,
como arco e como seta,
naquele enlace especial!
Olhei para eles embevecido,
até um pouco comovido…
não sei se fiz bem ou se fiz mal…

Recatado e respeitoso,
percebi quão delicioso
aquele momento estava a ser!
Então, lá os deixei ficar
felizes a namorar,
até o dia amanhecer!

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

MESMO QUE AÍ NÃO ESTEJAS...
Não sei se estás a chegar
ou se estás a partir…
não sei se a maleta que tens na mão
traz esperança ou leva mágoa…
não sei se estás a chorar
ou se estás a sorrir,
pois mesmo quando sofrias
amavelmente, também sorrias…
não sei se crispas os dedos
nervosa por seres descoberta
ou ansiosa por descobrir…
não sei se queres cansar o corpo
ou apenas descansar a alma…
não sei se esse abraço é para ficar
ou se é para despedir…
não sei se olhas para mim
ou se tentas ver além de mim…
não sei se sou quem ainda queres
ou se sou apenas um outro qualquer…
não sei se me escreves um poema de amor
ou uma carta de despedida…

Apenas sei que queres, de novo, ser feliz,
apenas sei que queres uma outra vida!

Apenas sei que eu ficarei aqui
olhando para ti,
mesmo que aí já não estejas…

sentindo o teu perfume,
mesmo que aí já não estejas…

adivinhando os teus gestos,
mesmo que aí já não estejas…

desejando que ainda me queiras,
mesmo que aí já não estejas…

sonhando que estás,
imaginando que estás, 
mesmo que aí já não estejas…

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Autor desconhecido

ESTRELA DO MEU MAR SERÁS... (poema quase-erótico)
...e, logo,
quando as sombras me disserem
que me esperas sem o saberes,
vou enlaçar-te com fitas de veludo,
como presente que és,
desde as pontas dos cabelos
até encontrar as pontas dos pés,
salpicar-te com pós de canela,
aroma de macela
e prender-te com argolas de chocolate
até caramelo seres
e nos meus dedos derreteres!

Depois, vou tocar-te...
não de vez
mas, sim, à vez.
Toco-te, amor e mel,
pele na pele, 
língua na pele
com a pele da língua,
com plumas, com pálpebras,
cubro-te com o meu corpo,
amo-te com o meu amor,
lavo-te com o meu suor...

e...
quando, por fim, desfaleceres,
solto os laços,
em doces abraços,
mas sem pressas,
numa orgia tua e minha
que líquida nos inunda
até te sentir florzinha,
e sorrir moribunda!

Aí... ressuscitar-te-ei, sim,
num êxtase final,
numa entrega muito bela
senão mesmo angelical
e, num oceano profundo,
no fundo do fundo,
no meio de algas e corais,
desejarás mais e mais!

… mas, por ora, respirarás
e estrela do meu mar
serás!

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Andrew Gonzalez

NADA TENHO QUE SEJA MEU!...
Não tenho pássaros…
não tenho aves…
são elas que me têm a mim,
sempre que me visitam
quando entram de rompante,
sem terem que avisar,
nas gaiolas de porta aberta,
que é o meu mais feliz olhar,
contemplando o seu voar,
enquanto para mim vão cantando,
indo e sempre voltando,
livres, esvoaçando
da minha vida fazendo o seu lar…

Não tenho flores…
não tenho plantas…
são elas que me têm a mim!
São elas que me coloram os dias
e são elas que perfumam
tudo em meu redor,
sem terem que pedir para nascer
oferecem todo um amor
que não sabem estar a oferecer
e eu sinto-me ser único,
abençoado e privilegiado
por me permitirem a elas pertencer…

Não tenho cães…
não tenho gatos…
são eles que me têm a mim!
São eles que me permitem ser
o seu mais fiel amigo
e me confiam a sua existência
e se entregam na totalidade,
numa confiança que me honra
e me torna digno de existir
e entender o seu miar
e decifrar o seu latir…

… e as borboletas?...
… e as abelhas?...
… e as moscas?...
… e os gafanhotos?...
… e as cigarras?...
… e os pirilampos?...
… e os peixes?...
… e os outros seres?...
… e a água e o vento?...
… e os montes e o firmamento?...
… e a alegria e o lamento?

Nada tenho que seja meu!
Apenas eu sou meu
e apenas enquanto eu for eu…

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Internet

ESPERA POR MIM... SIM?
Espera!...
Espera, um pouco mais, por mim!
Mas não, não esperes de mim 
nada que eu não saiba dar,
nada que eu não possa dar…
e é tanto tudo o que eu não sei!...
E é tanto aquilo que eu não posso!...

Mas… espera… 
sim, espera que eu te dê
tudo o que sou, tudo o que tenho!
Não esperes tanto de mim
que te sintas vazia
com tudo o que não te dou...
Espera, para que eu entenda em ti
a razão pela qual eu nasci,
mas não esperes muito mais de mim,
porque eu nada mais sou,
eu nada mais tenho…

Não esperes de mim pérolas de chuva
nem que te dê um mundo inteiro
de momentos sempre sorridentes,
não consigo dar-te o Sol,
levar-te à Lua 
ou cobrir-te o corpo com estrelas
isso é tudo coisas de poetas,
dos melhores poetas,
mas eu sou apenas um ser comum,
não sou um Romeu,
não nasci Adónis,
não sou mago
nem sei encantar…
sou este que aqui tens
e que não pára de falar!

Não quero dar-te sonhos,
não quero tirar-te sonhos,
quero que sonhes,
quero que sejas feliz com os sonhos
mas com os sonhos que quiseres ter,
quero que sejas livre para escolher,
para escolher os sonhos e a vida…
mas, se acaso for eu o teu sonho,
então escolhe-me!…

Abraça-me e faz-me sentir teu
e esse teu sonho serei eu!
Não esperes tanto de mim…
não, não esperes…
mas espera por mim… 
espera, sim?!...

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Internet

A CHEGADA DO SAMURAI...
Vou viajar!
Tracei metas para me encontrar!
Quero ser o meu presente e o meu Natal,
estrela do norte, cruzeiro do sul,
o mais desejado ponto cardeal,
ser céu e mar azul,
ser a minha própria fortaleza,
ser a festa e a surpresa!

Levo no farnel,
pão, bagas, mel,
e pouco mais bagagem…
levo a cara e a coragem
e, na volta da viagem,
chegarei mais forte e inteiro!

Já não virá quem agora vai,
chegarei guerreiro,
chegarei samurai!

AUTOR: Vítor Costeira
IMAGEM: Internet

AGORA... TANTO FAZ!...
O que foi que fizeste à minha casa?
Alteraste o tempero da comida,
substituíste a marca da minha bebida,
trocaste o aroma do purificador de ar,
guardaste as fotografias em local desconhecido,
penduraste novos quadros na sala de jantar,
habituaste-me a ver os teus programas favoritos,
espalhaste pela casa as tuas revistas preferidas,
arrumaste as gavetas com requinte científico,
inventaste um muito teu solene horário,
atapetaste o chão onde havia madeira,
acendeste religiosamente velas e incenso,
criaste ninho no lado da cama onde eu dormia,
passei a ouvir música que antes desconhecia,
estendeste cortinados pelos olhos abertos das salas,
transformaste os meus sonhos em miragens,
fizeste desaparecer a minha colecção de malas,
escondeste os mapas das minhas viagens,
pintaste as paredes como se fosse arte rupestre
e iluminaste o espaço com modos de mestre!…

… mas beijavas-me como nunca antes fui beijado…
… mas abraçavas-me com a devastação de um furacão…
… mas incendiavas-me o corpo com alma e paixão!

Viraste-me a vida ao contrário!
Como poderei eu voar, apenas com uma asa?
Para que me serve confundir o entardecer
com a vazia alvorada?
Para quê? Para nada!

Sinto-me estranho, não me consigo encontrar
e, agora, já aqui não estás
para me ajudar a pôr tudo no lugar…
Agora… agora, tanto faz!

Mas, se algo de bom restou no teu coração,
diz-me, apenas, onde ficou o comando da televisão!
   

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Arte surreal

... E ALI SE FEZ MULHER!
Acordou…
Abriu os olhos céu
e desfez-se em mar…
Tanto sonho para navegar,
até o Sol se pôr,
e toda ela caravela
esperando o navegador,
para aproar à vida
que ia perdendo a cor,
chegada sem partida,
jardim sem flor,
num caminho que não espera,
rumo ao horizonte, quimera,
que sonhara visitar
nos seus olhos mar…

… e ali se decidiu,
e ali se fez um novo ser
no olhar de quem não viu
o sonho a acontecer!

… e ali rumba se fez,
em suave dialeto italiano,
meneando em ritmo cortês
as ondas de um vestido gitano!

Acordou…
e ali se fez Mulher!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kush

VALSA PARA UMA ESTRELINHA...
… e sorriu descontraído,
dir-se-ia distraído,
e, com suaves movimentos,
como quem sabe o que quer,
perfumou o corpo com unguento,
pétalas de bem-me-quer,
e vestiu a roupa que o esperava
bem dobrada e bem vincada
pelos dedos de uma mulher
que, já ali não estando,
sempre estava
para e por ele olhando…

… depois, enfrentou o espelho,
numa rivalidade masculina
e, sem lhe pedir conselho,
adornou o cabelo com brilhantina…
…tentou com arte pentear
o pouco cabelo que ainda tinha
e ficou pronta a brilhar
na lapela uma florzinha…

Abriu a janela de par em par
e a Lua retribuiu o olhar,
fizera-se dele o firmamento,
juntando as estrelas em redor,
acalmou-se a noite e o vento,
nem tristeza, nem lamento,
apenas alma e amor,
enquanto olhava a fotografia
que, terna, para ele olhava
e uma valsa da grafonola nascia…

… e ele para ela valsou…
Valsou! Valsou! Valsou!!!!
Dançou! Cantou!! Amou!!!...
… até que a valsa parou…

… e numa prece ele rezou
com a alma pura e descalça,
como o fazia sempre à noitinha:
“Obrigado, por mais esta valsa,
querida e eterna estrelinha…”

No seu olhar, um brilho floriu
e, no céu, uma estrela para ele sorriu…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Leonid Afremov

PAR(T)ISTE... NASCI!
Gritando dor,
o firmamento rasgou o seu ventre prenhe!
Surgiram relâmpagos e trovões
de humana voz,
e um grito apenas ecoou
pelo finito do todo infinito,
e as águas tombaram,
quentes e libertas
e inundaram o humilde solo,
fertilizando a espera…
Finalmente,
vindo de um tempo terminado,
surgiu um ser,
e, envolvido em vermelho líquido,
ele próprio gritou vida!

O que te aconteceu, a seguir,
não sei…

O que me aconteceu depois,
agora já não importa…

Mais tarde, voltaremos a falar…
até lá, repousa em Paz!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: O Nascimento de Vénus, Alexandre Cabanel

...E FIZESTE-ME SENTIR COMPLETO!...
Assomaste à porta da minha vida
e franqueaste-a por completo,
com corpo e alma,
numa dádiva inteira,
como quem nada pede
para tudo poder dar
e nas minhas mãos descrentes,
surpreendida pela minha surpresa,
oferendaste-te, completa!

Completamente arrebatadora!
Completamente do avesso!
Completamente terna!
Completamente eterna!
Completamente toda!
Completa!

Entraste no meu minúsculo universo,
preencheste os ocasos da memória,
coloriste os espaços em branco,
redescobriste sorrisos esquecidos,
criaste um caos utópico,
escreveste momentos únicos
a que chamei poemas,
e fizeste-me sentir vivo…
e fizeste-me sentir completo!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

(NA) MADRUGADA FRIA
… e o solitário chocolate derretia
na paisagem diluída e ausente
que se fazia longa e fria…

… após uma noite tão quente,
chegara novo dia
mas no ar ainda havia
aroma a orquídeas envergonhadas
que as asas de um anjo deixara,
como símbolo protector,
numa noite inteira e clara,
toda ela sabor,
toda ela suor,
toda ela odor…

… toda ela de vermelho vestida,
num fundo branco transpirante
que coroou o instante
no húmido da roupa enrugada
e surpreendeu a madrugada,
que acordou calma e cansada
e distraída se fez dia…

… mas, de novo, o dia…

Que sabor teria o chocolate
que, em cima da mesa, jazia?
E que interesse, saber o sabor, teria,
se apenas uma boca o trincaria,
no clarear de um novo dia?

… mas, no novo dia,
todo o olhar refém da memória
foi levado de forma inglória
pela água da chuva desperta
que cristalizou uma noite sem sonhos
num sonho doce em doce alerta
no silêncio de corajosos segredos
e do entrançado suave dos dedos,
na força do tudo ou nada,
restou um mudo quase tudo,
no acordar da fria madrugada…

… mas, de novo, o dia
diluía toda uma noite de sentinela
no orvalho que escorria da janela
enquanto o cinzento do céu arrefecia,
naquela madrugada fria…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Capa do livro de Cila Fernandes

(Poema de homenagem à nova obra da excelente poetisa Cila Fernandes: Madrugada fria. 
Obrigado, Cecília! Boa sorte! Que o êxito que mereces se transforme em realidade!

NO TRINCO DA PORTA
Saíste!
Triste, saíste do meu lado
e, sem te despedires,
despediste-te…

Deixaste-me um sorriso
desenhado
e um “para sempre”
pendurado
no trinco da porta,
que fechaste
com muito cuidado 
para que eu ficasse
desperto, acordado,
ligeiramente esperançado…

…eternamente esperançado
que tudo não passasse
de um inexistente momento
e que, no fim de algum tempo,
voltasses
com o teu sorriso lindo
desenhado
e um “para sempre”
pendurado
no trinco da porta
que não abrisse
e, de novo, te visse,
eu, desperto e acordado,
eternamente maravilhado
e, tu, feliz a meu lado…

Saíste!...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Mihai Criste

QUEM PROCURAS TU, NO ALÉM DE MIM?
Onde estás tu, quando não estás?
De que parte de mim te ausentas tu,
quando o teu olhar vago
busca algo que está além de mim,
em direcção a outro algo
que eu desconheço?

Onde estás tu, quando o teu olhar,
desembainhada espada, me trespassa,
como se eu fosse nevoeiro,
fina e vulnerável neblina,
e vagueia entre algo depois de mim
e um imenso nada
que, eu prefiro pensar,
que assim seja?

Ou será que sou eu esse imenso nada
e tens que olhar além
para que encontres algo ou alguém
que preencha vazios,
que adoce sorrisos
e te dê motivos
para deixares de olhar?

Onde vais tu, quando não estás?
Que partes de ti aqui ficam
para que me distraiam o olhar
e não veja que não estás,
sempre que me procuras
em quem me é alheio?

Quem procuras tu, no além de mim?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Salvador Dali

COMO POMBAS, COMO ÁGUA
Como pombas brancas
riscando o cinzento de nuvens metafóricas,
num céu sem limites, infinito, sereno,
rumo a um Universo distante
de um sonho lindo…

Como gotas de cristalina água
escorrendo da verde vertente de uma folha de árvore,
escapando, serpenteando pelas suas nervuras,
alegremente, sem mácula, sem pecado,
enquanto as manhãs parem orvalhos…

Como seres peregrinos de rios e estradas,
de planetas e estrelas,
de foguetões e caravelas,
do bem e do mal escrito pelas próprias mãos,
de olhos abertos e peito voraz…

Como seres que querem começar puros,
como se nunca antes tivessem começado,
como se nunca antes tivessem ofendido ou humilhado,
como se nunca antes tivessem errado!

Queremos recomeçar, pombas ou água,
doridos, ensanguentados, feridos,
sujos, rotos e famintos,
com a alma a transbordar de dor e o corpo de suor,
mas queremos recomeçar puros,
como se nunca antes o tivéssemos sido
até ao momento em que sentimos ser peças do mesmo jogo
e descobrirmos que o brilho dos nossos olhos
já morava no olhar do outro!

Como pombas ou como água,
tanto nos faz,
queremos sonhos,
queremos esperança,
queremos paz!

Como pombas ou como água
queremos percorrer o caminho de Santiago,
descobrir a Arca de Noé
e o princípio do Arco-íris,
queremos ser ninfas, duendes,
fadas e gnomos,
beber elixires, poções e palavras mágicas
como confiança e Amor!

Como pombas ou como água,
queremos!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Marika

JANELA DE ESTRELAS
Caminho entre horas
não dando importância a demoras,
querendo apenas chegar,
partindo
de um vago lugar,
por um caminho qualquer errar,
errante para lugar algum…

Porque parti,
já nem me recordo,
estou apenas caminhando
movendo as pernas,
deambulando,
diabolizando encruzilhadas,
ferindo a carne indolor
e pisando as pegadas desfalecidas
que, antes de mim,
outros desenharam
no pó dos sonhos…
Sem motivo aparente,
movo-me,
simplesmente, desloco o corpo
de um ponto do Universo
para onde ainda não sei…

Pouco importa,
o meu instinto diz-me para avançar,
não parar,
nada esperar de quem nada tem
para me dar,
e caminhar, até chegar
a um lugar,
quem sabe se junto ao mar,
onde haja uma janela enorme
por onde eu possa saciar
a alma de estrelas
e o corpo de bonança!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

COMO DA NOITE PARA O DIA...
Subitamente,
como numa suave e encantadora melodia,
apreendi o sentido do teu verso
nas sílabas átonas que eu não ouvia,
nos sonhos que apenas o teu olhar contava,
nos silêncios que o meu ruído perturbava,
no enrugado dos lençóis onde agora amanheço
a memória de uma felicidade sem preço
e emudeço a alma e a chama,
como um já decifrado anagrama
sem mais desafios para resolver,
depois do obverso do teu verso eu ler…

Subitamente,
no êxtase perturbador de uma revelação,
entendi o sentido da tua existência
no sal das lágrimas que eu ignorava,
nos desejos que o teu corpo desenhava,
no compasso da solidão que a minha presença provocava,
nos planos rasurados enviados ao vento
que, insensível, para longe os levava
e agora os devolve a seu bel-prazer,
ao sabor de um movimento lento,
como uma larva perfurando um sentimento…

Subitamente,
como da noite para o dia,
desenhaste-te em mim, como a minha epifania,
e em ti feliz me surpreendi
e em ti surpreso descobri
alguém que sendo meu é teu,
sendo eu tu e tu eu!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Gogalniceanu-Carolina

NO ACASO DOS DIAS...
Vogámos, viajámos,
viajantes nos transformámos
ao sabor das leis de um Universo,
que se fez tão nosso,
poema de um só verso
em fogo e alvoroço,
no acaso dos dias,
nas carícias sadias,
no aroma da hortelã
ao nascer da manhã,
e falámos cometas,
e voámos borboletas,
e respirámos estrelas,
e sonhámos aguarelas,
e, sorvendo a luz do Sol,
como um brilhante farol,
em nós se formou o luar
entre a noite e o mar
e a navegar continuámos
nos idílios que inventámos!

No acaso dos dias, 
nunca seremos felicidades tardias,
enquanto o poema crescer,
enquanto a vida nos quiser!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

TEMA DA SEMANA: A POESIA E A LIBERDADE
(Álvaro de Campos - A Verdadeira Liberdade)
A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança...
Sorriso da velha bondosa...
Apertar da mão do amigo [sério?]...
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,
Dêem-ma no púcaro velho de ao pé do pote
Da casa do campo da minha velha infância...
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?

Álvaro de Campos, in "Poemas (Inéditos)"
Heterónimo de Fernando Pessoa

...E, SE...?
… e, se… os teus olhos de gaivota
acreditassem nas asas e voassem,
tomassem o rumo do infinito
e, de lá tão longe, me chamassem
no encantamento de um grito,
na força de marés que não findassem?

… e, se… não fosses Sol?
... e, se não fosses mar?
Onde iria eu minha alma incendiar?
Em que água iria eu marejar,
quando meu sonho fosse navegar?
Que sonho teria eu para sonhar?

… e, se… um dia, uma manhã
nos acordar numa hora tardia,
numa loucura pura e sã,
e nos envolver numa esperança sadia,
sem um relógio que meça o tempo,
sem dor, culpa ou lamento?

… e, se… me leres uma história,
um conto, uns versos, ou coisa assim,
fizeres parte da minha memória
e eu ser o imenso tudo para ti,
nas páginas de um livro sem fim
que contará a vida como uma glória?

… e, se… num gesto que não sei dizer,
tu segurares a minha mão,
com enlevo, meiguice e carinho
e no teu olhar, que sempre sorri,
murmurares suave e baixinho:
– sabes…? eu gosto de ti!... 

… e, se…?
… e, se tu e eu…?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Dorina Costras

ÉS A MINHA ALMA... FADA!
…e tu aí ficas,
com as marcas da noite em ti,
na maciez da pele,
dolente, estendida,
na cama esperando por mim,
tranquila no teu esperar,
sabendo que eu voltarei sempre
para o teu regaço,
depois de um dia,
depois de apenas um pedaço…

…e acolhes-me e fazes teu o meu corpo
como se fosse sempre a primeira vez,
e, como se fosse sempre pela primeira vez,
recolho-me em ti,
encosto a cabeça a ti,
enrolo-me em ti,
abraço-te,
por vezes não tão feliz
mas tu compreendes sempre o meu silêncio,
terna e suave,
e acolhes a minha tristeza,
secando em ti as minhas lágrimas…

…e conto-te segredos que ninguém mais sabe
porque és tu a minha confidente,
tu sabes mais de mim
do que eu próprio penso saber…
vigias o meu sono
fazes vigílias à minha intranquilidade,
és enfermeira das minhas dores,
e sinto-me protegido
sempre que o meu rosto em ti se aninha…

…e as noites vão passando, 
as manhãs acordam
e, a qualquer momento de um tempo sem fim,
tu estás para mim, 
e oferendas-me o teu tempo,
e és dádiva do momento…

…e na entrega total de ti em mim
eu agarro-te,
viro-te,
reviro-te,
entrego-me na tua entrega,
quando o teu corpo perfumado
passa a ser o meu corpo
e o meu corpo se entrega no teu…
e os dois somos apenas um
e eu sem ti não consigo ali estar,
sem ti não sei viver
num leito que é tão nosso, 
deleite e prazer...

És a minha alma,
és a minha fada,
és o meu lar…

és a minha almofada,
és o meu sonhar!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

LIBERTO-TE!!!...
No meio de uma multidão
de crianças felizes,
cada uma com seu balão,
vou libertar-te…

Vou permitir, finalmente,
que sejas o que sempre foste,
que sejas o que sempre quiseste ser,
que voes solta e liberta
para um infinito que seja a cor
que melhor te souber,
que te receberá como uma estrela
e que, como estrela que és,
ver-te-ei depois da minha janela
nas noites que se quiserem nossas…

Vou libertar-te…
Abrirei a mão com que te prendo a mim
e, muito suavemente,
para melhor sentir o fio que ainda nos liga,
a roçar-me a pele na despedida,
vou olhar a tua felicidade na partida,
sabendo que serás agora
quem sempre quiseste ser,
ave livre e doce amiga…

Vou libertar-te…
para nunca mais te assustar
nem te forçar a ser quem não queres,
para que não te faças presente
apenas porque me sentes triste,
oferecendo-me um meigo e nervoso olhar
que eu traduzo sempre na medida errada
em tudo quanto me faz bem…

Ah! Amiga, paixão, amor,
como conseguirei eu transformar
toda esta antecipada saudade,
toda esta imensa dor,
neste momento da tua liberdade,
em alegria, paz e cor?

Vai! Vai, agora…!
Sorriem-me os olhos
enquanto a minha alma chora…

A Amizade e o Amor libertam e dão!
Abro a mão e liberto-te!
És tão linda, Amiga, Paixão, Amor!
Serás a estrela de quem tu quiseres!
Libertei-te, Amiga!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

MUITO OBRIGADO!
Somos felizes por diversos motivos que nos fazem sentir de bem com a vida, com os outros e connosco mesmos! Hoje, senti que vale a pena sermos quem somos para podermos ter os amigos que temos!
Gostaria muito de agradecer a todos (e foram tantos, felizmente  ) quantos me fizeram sentir feliz com a Amizade que me dedicaram, por não se esquecerem de mim neste meu dia de aniversário! Grato! Imensa gratidão, Amigos!
Podemos não ter que agradecer a Amizade mas não devemos esquecer a Felicidade com que essa mesma Amizade nos abençoa! Bem-hajam, TODOS!!!!!
Abraço de um homem feliz!

28/03/2016

PAI!!!!!
Abraças-me como se eu fosse um sonho
e os teus braços rígidos suavizam, algodão,
protegem-me e mantêm-me longe do chão
enquanto balanças como um bote num rio,
de bombordo para estibordo,
de estibordo para um bom bordo,
aquele que já planeaste para me proteger,
para nos teus braços, e fora deles,
tu em mim te veres sadiamente crescer,
na medida do amor que tens para oferecer
e que o teu olhar não sabe nem quer esconder,
quando os teus olhos brilham, diamantes,
diria, todas as eternidades em apenas instantes…

…e buscas em mim o melhor de ti,
nas parecenças e nos sinais escondidos
que o teu sangue deixou em mim cerzidos
e que apenas tu sabes onde encontrar
no tempo que, para mim, vem,
como sendo o tempo que para ti vai…

Obrigado, por seres tu o meu Pai!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

UMA ETERNIDADE COM 30 SEGUNDOS...
O dia escorria,
como o fazia todos os dias
e, pela primeira vez,
ali estavam eles,
entrega na entrega,
um no outro,
um do outro…

O som das palavras
ficara nas palavras, ausentes,
e dos seus ávidos lábios
saíam telas e tecelagens,
adágios e romances,
no suave encanto dos instantes…

Espelhos um do outro,
o olhar lambia sedento
a sede e a quente paixão
que fogueava a pele
e satisfazia a meiguice da pintura
que, liberta, se oferendava mel…

Depois, os rostos colaram
docemente em cristais
como peças raras de vitrais,
enquanto as pálpebras cerravam
saboreando gulosamente
o quente respirar
que se unia em mágico ritual…

…e assim ficaram,
num só jardim de dois mundos,
numa eternidade com trinta segundos!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

AINDA NÃO SABES, MAS ÉS FELIZ!
Se as manhãs te despertam
com um sorriso colado ao teu acordar
e o chilreio amigo e melodioso
de uma ave chamada liberdade
te sussurra palavras de esperança
mais calorosas do que os raios de Sol
que passam através da janela…

Se tens um abraço que te aconchega
do tamanho que o mundo nunca terá
e um peito onde encostar a cabeça,
num palpitar cardíaco desmedido
de onde te parece que não mais sairás,
que te acalenta e aquece a alma,
num pacificador e puro gesto de Amor…

Se nunca sentes a solidão por perto
na multidão de desafios que a vida te propõe
e renasces confiante a cada dia que passa
no rosto de cada criança que te olha,
no olhar agradecido de um idoso,
no alimento e no lar que te abriga
e respiras Fé e bonança no teu caminhar…

Se, pela manhã, no sonolento acordar
quando te olhas ao espelho, sorris…
…ainda não sabes, mas já és feliz!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

A VIDA, NEM SEMPRE É TRISTE...! (poema longo  )
(Homenagem a um pai: Papi!)
Vem…
Chega-te um pouco mais a mim
e senta-te ao lado de alguém
que já viveu quase todas as eternidades 
que é possível viver em apenas uma vida
e que tu, um dia, docemente recordarás,
aqui, neste mesmo local,
onde eu continuarei a estar
sempre que aqui te sentares
para feliz me sentires…

E nos vazios que a vida tiver para te dar
lembra-me nas palavras que sempre disse e direi,
nas ainda muitas eternidades que sorveremos,
que os caminhos que apressadamente percorremos
registam sempre os nossos céleres passos
e a ferro e fogo tatuam a nossa vida,
a que um dia chamaremos de memórias…
sim, essas mesmas memórias
a que eu chamo eternidades…

Mas, sabes, 
esses sabores que gentilmente nos permitem,
neste mesmo instante, sorrir,
são feitos da mesmíssima massa
dos muitos outros que nos fazem chorar,
e a diferença está apenas em nós
e no que quisermos fazer dos nossos dias,
no valor que dermos aos momentos
em que podemos pacificamente apreciar
o breve respirar entre o amanhecer
e o surgimento diáfano da noite…

A diferença está
no compreendermos e respeitarmos os seres irmãos
que connosco partilham este mesmo lar
a que resolvemos chamar Terra!
A diferença está na forma como amarmos
e desejarmos ser amados,
no todo de uma maravilha chamada entrega,
na ausência da espera da recompensa,
na tolerância para com os companheiros de viagem,
no perdão a quem achamos que não merece
e na sabedoria do nosso próprio perdão,
que nos levará finalmente a entender
de onde vem a luz que suavemente
nos indicará o caminho certo a trilhar!

E, claro… finalmente, o Tempo!
sim, essa presença constante
que apenas se declara muito tempo depois,
por vezes tarde demais,
e que nos marca sem quase darmos por ele!
Não há forma humanamente possível
de o contrariar ou forçá-lo a recuar
e é desnecessário culpá-lo seja do que for,
pois somos nós que o esquecemos vezes demais!

Por tudo isto e muito mais,
que agora não te sei explicar
mas que sei que compreenderás no que não digo,
faz da tua vida uma linda aguarela!
Dá-lhe cores, sons, paladares, texturas e formas
que te façam com elas também te sentires bela!
Acorda todos os dias em busca das manhãs
como se fosses uma eterna aprendiza
e renasce mais forte e mais audaz
de cada vez que tropeçares na solidão,
na indiferença, na mesquinhez ou no vazio!
Aprecia o livre voar das aves,
sê confidente e amiga da voz do mar,
planta flores na aridez de alguns momentos,
aprende, fala, brinca, viaja, lê, escreve,
saúda o Sol e a vida,
ganha coragem sobre o desespero,
canta, encanta, sorri, ama, ama-te,
perfuma-te, prepara-te
para a ventura que é estar viva
e vai regando a esperança que em ti eterna existe!

Olha bem para mim… sou tão feliz!
Sabes? A vida nem sempre é triste!

Autor: Vítor Costeira

HOJE, O TEU DIA EXISTIU?
O dia de hoje não existiu…
antes de se ter tornado dia faliu
e eu que tudo apostei nele,
fali com ele
e também eu não existi…
há dias assim!

E tu?
Fala-me de ti…
que viagens fizeste hoje?
onde te encontraste?
que sol te aqueceu?
que sorrisos te pintaram?
quantas vezes leste vazios
nos olhares que te vestiram?
o teu dia existiu?
e tu?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Leonid Afremov

EM TONS DE VIOLETA...
O que devo fazer eu para não te recordar
como uma doce bênção
que eu não soube receber,
na inconstância do meu ser e não ser,
que eu não entendi seres tu a melodia,
o livro, a flor, a dádiva certa para mim?

Que poemas vou eu ainda escrever
se já aqui não tenho a musa
para me inspirar e para depois os receber?

Que doces momentos vamos nós inventar
se os guiões são todos eles escritos
para seres tu comigo a desempenhar?

Que vivo olhar, as minhas mãos, vão apreciar
nos toques das pontas dos dedos
que, em acasos, não vão agora encontrar?

Que melodiosos fados vou eu agora ouvir
nas saudades acres que o meu fado
tem de ti e do teu maravilhoso sorrir?

Que idílicos sonhos tenho eu para sonhar
nos vazios do tempo que descobri existir
depois de frio e vazio me encontrar?

O que faço com a amiga cumplicidade
que tão bem me ensinaste a saborear,
se aqui não estás para contigo a partilhar?

Para que ombros vou eu olhar?
Onde irei eu colher as violetas
que apenas tu sabes em mim plantar?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

ATÉ A BORBOLETA VOAR... (poema quase erótico)
Num suave amanhecer,
no aconchego do instante
que, sem alvoroço,
se faz amigo e amante,
vou enrolar-me em ti,
como fita de cetim,
abraçar-te por trás,
fazer conchinha, 
com desejo arnaz,
numa carícia rainha,
beijar-te,
engasgar-te,
e, felino, miar…
até te virares,
depois, olhares-me,
num mistério suave,
sem palavra-chave,
e dizeres as palavras
que apenas eu ouvirei,
“gosto de ti…”
e, de mim,
apenas saberei
que em ti me perderei,
percorrendo-te de lés a lés,
entre as pálpebras cerradas
e os dedos dos teus pés…

…depois lambo-te os lábios,
mordo-te de mansinho,
percorro-te sem astrolábios
e faço-me teu ninho
até a borboleta voar…

aí, chamo o teu nome,
no fogo que nos consome,
numa paixão a arder,
não devagar
mas com prazer,
com força,
com gana,
num grito desnudo,
até atingir o nirvana,
até atingir o tudo!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

Para o DIA INTERNACIONAL DA MULHER 2016
A Poesia é Mulher!
A Mulher é Poesia!
É sentir,
é emoção à flor da pele,
é paixão pura,
é entrega cega,
é escrever sem letras,
as que desafiam o entender…
É olhar e ser capaz de sonhar,
fazer vírgulas, aspas e pontos
dentro de um instante,
e, nesse mesmo instante, amar,
escrever um romance
todo o ser doar…
É vestir flores!
Abrir, fechar e trancar amores!
Engolir chuva!
Morder sóis!...
Amarrotar lençóis!
Passear no céu!
A poesia? Sei lá eu…
…mas a Mulher é Poesia!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Rodolfo Ledel

ENQUANTO O NOSSO AMOR TIVER TAMANHO!
Amo-te, 
nesta ideia nocturna da luz nas mãos
e quero cair em desuso,
ser lã e linho em artesão fuso,
enlear-me, torcer-me e fiar-me
em suaves espirais,
se possível for, ainda muito mais,
até ser a pele da tua pele,
ser garupa, ser teu corcel…

quero, em insano desalinho,
em simétricas matrizes e fractais,
ser arado e ser ancinho
do quente arrepio com sabor a mel
que de ti se desprende,
no brilho que nos teus olhos se acende…

quero ser lamparina a óleo,
num imaginário difuso,
que como paixão eu traduzo,
bruxuleando sombras chinesas
de paixões ternamente acesas,
enquanto a noite se embriaga imberbe em nós
e nos acolhe em côncava noz…

Amo-te como sempre te amarei
e, os gestos e palavras de antanho,
são os que já foram e os que ainda te direi
enquanto o nosso Amor tiver tamanho
e as tuas mãos guardarem a luz
que nos guia e ardente nos seduz!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kush

E... ASSIM FOI...
Decidi sair e saí…
caminhei ao longo da praia,
aventurei-me na entrega
e, nessa dádiva,
fui recebendo os carinhos de uma onda
que ia e vinha,
tocava-me e fugia,
molhava-me e ria,
brincava como uma menina,
divertida na sua traquinice
e, na sua ingenuidade madura,
era e sabia que me fazia feliz…

Umas vezes, escondia-se
e eu deixava de a ver,
o mar parava,
o riso deixava de se ouvir,
todo o bulício amainava
e eu desanimava…

Depois, a marota reaparecia
e, lá longe, gargalhava
apenas para que eu a visse
sem poder, também eu,
atrever-me a prolongar
a brincadeira que ela começara,
criando em mim a tentação,
a vontade suprema de me despir
da capa de homem sisudo
e saltar para as águas trocistas
apenas para ir ter com ela
e atrever-me no seu atrevimento…

Mas eu fiquei…
na areia molhada sentei-me
e, de longe, sorri,
esperei por ti,
olhando para onde sabia que estavas
e esperei que tudo recomeçasses…
e, assim, foi!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kush

TOQUE A VIDA DE ALGUÉM...
Toque, toque, toque,
toque a pele,
toque a alma
toque tudo o que possa tocar,
mas deixe a melhor melodia
de si mesmo
em cada pessoa que encontrar!

Mantenha o enfoque no toque
e tatue com recordações eternas
os momentos da passagem,
na vida que se faz viagem,
aqueles que ficarão gravados,
como uma suave e fresca aragem,
sem que alguém se aperceba,
mas que neles se embeba!

Toque e faça magia,
espalhe harmonia e alegria,
seja música e musa
com a felicidade inclusa,
e transforme a noite de alguém
que a vida mais esmoreça
em luz do dia
Ah!...e, não esqueça…
sorria!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

MAR, ESCULTOR DE SOLIDÕES!
Mar, solitário e confidente mar,
recebe anfitrião o meu olhar
e envolve o teu melodioso canto
no ritmado embalar das ondas,
como se a tua água fosse o manto
onde a tristeza peço que escondas…

Mar, água, delicioso encanto,
em ti me faço homem e guerreiro
e me desfaço em íntimo pranto,
num sonho a que chamo veleiro,
e que, na solidão do seu navegar,
não tem rota nem azimute a traçar…

Mar, gentio escultor de solidões,
também tu és em mim marinheiro,
também tu em mim compões canções
e eu em ti sou barco e barqueiro,
somos, um do outro, princípio e fim,
eu sou a tua solidão e tu o meu fortim!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

APENAS ISTO!...
Sabes o que me apetecia agora?
Agora que a chuva parou,
o vento amainou
e o Sol descobriu o meu sorrir…
Sair…
ir por onde o corpo sabe sem pensar,
encontrar-te numa esplanada
em frente ao mar,
mesmo que estivesses acompanhada
e evitasses fitar a minha chegada,
olhando apenas de relance,
como num bonito romance,
fingindo não olhar
no sorriso que eu iria decifrar
como sendo todo para mim…
mesmo de longe, olhar para ti…
falar contigo sem nada dizermos
e olhar a mesma onda que tu olhasses…
apenas isto…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

COMO UM FIO CHEIO DE NÓS...
Afinal, não me deixaste nada escrito!
Nem estás tu nem as palavras prometidas.
Vim aqui, procurar parte de ti,
algo que me falasse de ti e também de nós,
mas de ti nada encontrei
e, das palavras que não li,
fiz algo por mim.

Parti, então, à minha procura,
na tentativa de perceber
porque razão aqui vim, uma vez mais,
e é de mim que te vou falar,
pois sou como um fio
cheio de nós
e, sim, também és um deles,
tu e eu, nós de nós.
Acredita…desato-os, com relativa facilidade,
mas logo se emaranham outra vez,
no entrançado dos instantes
que evito repetir sem êxito
e enredado volto a ficar,
em nós…

Sabes…?
Fico feliz por me ouvires,
fico feliz por me leres,
pois do que mais preciso é sentir que existo
nos diálogos que dirimimos,
na possibilidade infinda de me ver
do lado de fora, em ti.
Expulsar!
Sim! Expurgar as sombras frias
sempre que me povoam os dias…
… e sinto-me maravilhosamente contigo,
pois não tenho pudor de a ti me expor
e exponho-me num todo que me surpreende
tanto quanto me satisfaz!

A dor, tal como a vejo,
tem de ter pudor,
não deve despir-se, sem mais nem menos
e, como nunca antes consegui fazê-lo,
fico agradavelmente surpreendido,
e feliz em o fazer contigo.

Tens algo de mágico, que sabe tão bem!
Uma sensibilidade tal,
que descrevo quase dolorosa,
que me arrasta de mansinho.
Parece que te conheço desde sempre,
ao ponto de dar saudade.
No mundo em que vivemos,
todo ele, tão amargo,
tão salobro,
percebermo-nos potáveis quase que é doentio…
saudavelmente febril!

Num poema, dizias para dançarmos,
gritarmos, cantarmos, rezarmos
ou escrevermos,
quando se faz escuro.
Eu… escrevi!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Leonid Afremov

HOJE, TROUXESTE-ME O SOL À JANELA...
Hoje, trouxeste-me o Sol à janela,
espreguiçando-se languidamente 
na minha surpresa de anfitrião 
desabituado a receber visitas de abraços tão calorosos,
de entrega tão generosa e desprendida,
sem preços nem cobranças pela dádiva da presença,
reconfortando os cantos mais distantes
esquecidos no espaço e no tempo do meu estar,
na eternidade dos longos instantes
em que a minha espera foi surpreendida…

Enquanto isso, o aroma da manteiga derretida,
no pão feito torrada aquecida,
esvoaçava da janela aberta da cozinha,
tornando-se dos ares rainha,
e abraçava o doce agitar matinal
dos frágeis fortes trevos da sorte,
que oferecem uma esperança infantil
no bem acalentado canteiro da varanda,
agora acariciados meigamente
pelo Sol que me ofereceste na manhã…

E os trevos continuam irrequietos e apelativos
sem que alguém lhes conte quatro folhas, 
sem que os colha e os dependure na esquecida lapela,
para que a ansiosa sorte volte 
sempre que trouxeres o Sol à minha janela!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

NAMORO (Feliz S. Valentim!!!)
Namoro
é um olhar
que eu não consigo evitar;
é um beijo
que fica sempre por dar;
é a vontade 
de te voltar a encontrar...

Namoro
é o simples encosto
das tuas roupas;
são ideias cada vez mais
e mais loucas;
esperanças,
cruelmente, poucas...

Namoro
é o querer falar-te
e não o conseguir;
é a vontade 
de contigo eu sorrir;
é a ver-te a falar a outro
e eu fugir...

Namoro
são as cartas que eu escrevo
e não te dou;
são palavras que disseste
e me magoou;
é um poema
que, junto aos outros, ficou...

Namoro
é o esperar
que apareças e não vires;
é o acreditar
que rirás para mim, quando rires;
é eu amar-te
e tu não o descobrires...

Namoro
é sonhar estando acordado;
é o desespero de não saber encontrar-te
mesmo contigo a meu lado.

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adele Norielle

ENTÃO... AMO-TE!!!
Escrever-te em doce poema,
ser tua pena, teu jogral e teu trovador,
será isto Amor?

Passear contigo até à Lua,
antes de o Sol se pôr,
será isto Amor?

Ser cúmplice único do teu olhar,
perdidos numa multidão em redor,
será isto Amor?

Partilhar momentos de tristeza
e desenhar no teu sorriso uma nova cor,
será isto Amor?

Rir de algo que é apenas nosso
a meio de um filme de terror,
será isto Amor?

Desejar ter o meu corpo em ti,
com alma, paixão e sem pudor,
será isto Amor?

Segredarmos como duas crianças
em suave fantasia no voo de um condor,
será isto Amor?

Comemorar o segredo da primeira vez
sempre com o mesmo desejo e fulgor,
será isto Amor?

Ser da tua vida o actor principal,
poeta, leitor, amigo, amante, coautor,
será isto Amor?

Na tua ausência, sentir-te presente,
como se eu fosse colibri e tu uma flor,
será isto Amor?

Os dois lermos, sorrindo, este poema
que fala de nós e do nosso Amor,
será isto Amor?

Se assim for…
então... amo-te!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Ocelio Targino

*E, ASSIM SENDO, ESCREVI...*
A tua mágoa magoa!
A tua dor dói-me!
A tua dor é, toda ela, drama!
Ela é grande na tua viagem....
mas, já na minha, fica mais fácil.
Também não sei explicar porquê...
pois o peso dos quilo-dramas é exatamente o mesmo
quando transportado por mim.. 

Os dramas, todos eles dor,
todos eles mágoa,
todos eles inteiros,
sorvem-me as alegrias,
também elas inteiras.
Então, as minhas tragédias, adormecidas,
acordam, batem palmas
e dançam melodramas.

E eu?...
bem...eu visto-me de brio,
calço-me de silêncios,
perfumo-me de humor
e, inteiro aos olhos alheios,
sigo a minha viagem,
pessoa nova,
pronto para novas mágoas.

Enquanto espero que me levem,
para locais onde nunca estarei,
tomo um café,
agarro um bocejo,
sacudo os ombros,
compro um chocolate,
leio uma revista
e disfarço a minha ausência…

Mais logo,
assim que chegar ao meu destino,
rezo e agradeço a um Deus,
a quem não exijo que me oiça,
mais uma etapa,
mais uma viagem vencida.
Afinal, no fim de mais uma jornada,
eu cheguei bem!
Cheguei grande!
Cheguei enorme!

Pois é, Amor,
como podes ver,
fiquei sem receio de te cansar,
ou de te roubar tempo,
pois, de algum modo,
quem sabe,
poderei servir de inspiração à tua escrita,
de novo…

E, assim sendo, escrevi…
...de novo...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

A BALADA QUE NÃO CONHECEMOS
Gostes daquilo que gostares em mim,
mesmo que nunca me chegues a dizer
nas palavras que apenas nós ouviremos,
nos fortuitos encontros
a que os caminhos nos levam,
cegos de felicidade,
quero dizer-te que alimentas todos os meus sonhos,
ocupas o tudo dos meus pensamentos,
embelezas os meus momentos,
escreves as mais belas páginas da minha vida,
e é por ti que eu espero,
e é por ti, só por ti, que eu continuo a acreditar
que a vida é uma balada que nós não sabemos,
mas que haveremos de cantar
qualquer dia, amor!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

LUZ DO MEU CAMINHO
Luz do meu caminho,
estrela da minha vida
calor do meu carinho,
és o ponto de partida
para o ser e o amar,
para o ter e o desejar,
para o princípio e o fim!
És tudo, para mim!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

BOM-DIA, FELICIDADE!
Bom-dia, felicidade!
… e, desta forma, despertei para o dia,
receando descerrar as pálpebras,
e todo o meu corpo se sentiu único
como se tivesse nascido naquele momento
e do momento não desejasse sair,
enquanto a felicidade se fizesse sentir…

Bom-dia, felicidade!
… e os teus cabelos tinham o aroma das maçãs
colhidas no despertar das horas sãs
e cobriam-me o rosto como os salgueiros
tocam as águas dos rios.
O meu corpo era água, suores frios,
que brotava dos poros braseiros
e humedecia os caminhos sendeiros
que a minha imaginação me oferecia…

Bom-dia, felicidade!
… e abri os olhos de mansinho,
com medo que de mim fugisses
enquanto o Sol acariciava a minha pele,
se entregava mel e se vestia linho,
aquecendo-me a alma como lã
e aconchegando o frio olhar da manhã…

Bom-dia, felicidade!
…era outra a minha realidade!
Para o sonho ter sido perfeito
seriam dois rios a acordar no mesmo leito…

Autor: Vitor Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

O LOUCO DO JARDIM
… e no auge da tua doce loucura, 
homem de uma infantil ternura,
dono da alegria do seu próprio festim,
como um maravilhado e maroto petiz,
entras para dentro do lago do jardim,
chapinhas os pés na água e és feliz!

O teu olhar cativa viçosas margaridas
e, pássaro livre, assobias lindas partituras,
enfeitando a alma em avenidas floridas
rendilhadas com acordes e notas puras,
entregas-te à vida como noviço e aprendiz
respirando o instante das manhãs e és feliz!

És feliz como apenas tu queres e sabes ser
num corpo livre de grilhetas, a florescer,
e recitas em voz alta poemas de amor
às aves, às árvores, ao vento e à vida
esquecendo que és deles o seu autor maior
numa loucura que os outros dizem perdida!

É feliz o leve e esquálido corpo ondulante
serpenteando pelo arvoredo verdejante
que a Terra ergue aos céus numa prece
como braços, mãos e rogantes dedos
a quem humildemente a alma agradece
e para quem não tens medos nem segredos!

Deitado esfarrapado, estrelas nos olhos abertos,
assim que a noite chega e carinhosa te bendiz,
plantas sonhos de aconchegos distantes e incertos
no frio que a pele não diz mas sente e feliz sorris!
És feliz numa felicidade infinita, sem um fim,
mas de ti apenas sabem que és o louco do jardim!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Mud Maiden at the Lost Gardens of Heligan, Cornwall, England

PERMITE-ME SONHAR...!
Não vás embora…
serve-te do presente instante,
dá-me o agora,
estanca as minhas feridas,
beijo as tuas cicatrizes
e, enquanto esqueço as tuas idas,
perdoa os meus deslizes…
mereçamo-nos os dois,
ambos somos simples aprendizes,
para que haja um depois,
para que saibamos ser felizes!

Não vás embora…
perde-te no tempo,
oferece-me o acaso,
morde de raiva os meus enganos
e, nos teus desvarios levianos,
eu lambo as tuas feridas…
sedimenta-te no meu corpo cansado
e sejamos duas asas no mesmo voo,
voando sobre um verde prado,
enquanto vês em mim o que sou
e tu és, em mim, o ser amado!

Não vás embora…
Retalha a minha alma em finas tiras
enquanto sorris das esfarrapadas mentiras,
e eu enfeito os teus defeitos
como os meus mais belos feitos,
aqueles que eu não quererei ver desfeitos…
depois, enrola os teus finos braços
à volta do meu pescoço,
em quentes e eternos laços,
enquanto o teu sangue alvoroço
e acelero o teu respirar…

Não vás, agora, embora…
permite-me sonhar!...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

POEMA DE QUALQUER DIA! - Feliz 2016 para todos nós!
Hoje, o céu vai acontecer pincelado de azul,
o Sol brilhará ouro com simpatia
e as nuvens vão ausentar-se com delicadeza;

hoje, vão haver bandos de pombos bravos
subindo em suaves e fantasiosas espirais no ar
e o vento beijará os olhos dos caçadores;

hoje, os sorrisos vão ser longos como oceanos,
as mão serão ternas e acolhedoras
e as palavras aquecerão as almas mais frias;

hoje, ficarão no passado, como lição,
a injustiça, a crueldade, o ódio, a indiferença
e surgirá, de uma árvore recém-nascida, o perdão;

hoje, porque somos iguais, mesmo sendo diferentes,
aceitaremos, como pessoas felizes e sorridentes,
todos aqueles que na vida para trás ficaram;

hoje, a música da esperança vai alegrar os mendigos,
os palhaços não vão chorar no fim do circo
e as armas de angústia ficarão por disparar;

hoje, a semente da Paz vai ser semeada
nas famílias, nos hospitais, nas prisões, nas fábricas
e em cada pessoa haverá um sonho realizado;

hoje, o lobo virá confraternizar com a ovelha,
os jovens falarão e escutarão a gente velha
e o rico guardará um lugar à mesa para o pobre;

hoje, será possível afagar a juba do leão,
repartir o pouco que resta do pouco que já havia
e encarar a vida de frente, sem receios!

Hoje, será tudo lindo e belo,
apenas porque estamos aqui,
e é aqui que começam as coisas lindas e belas…
em nós!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet