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Especial - Vítor Costeira - G+                                       De: 17/06/2014 à 26/04/2015


 
Lacks the soul... / Falta a alma...
(Poetry by me / poesia minha)
"Desenhaste em mim
sorrisos que eu não sei sorrir;
decoraste a minha boca
com as palavras que querias ouvir;
guarneceste o meu corpo com asas,
como se eu fosse um anjo
e, nos teus olhos, eu voei;
depois, deste-me um infinito de cor
e, na tua alma, eu corei
e, deste modo, eu continuei
sendo o que nunca fui nem serei!
Falta a alma que esqueceste de dar…
Falta aquele eu
que, mesmo não sendo meu,
existiria em ti,
existiria na tua fantasia,
sendo parte da tua obra,
aquela parte que não vivi
para além daquilo que desejaste,
mas… existiria.
Desenhaste em mim
todo aquele que eu não sou
e, no fim,
quando me quiseste encontrar
eu não estava no lugar
onde me tinhas deixado ficar,
eu não era aquele que concebeste,
eu não existia em ti
porque, simplesmente, eu não existia
nem em mim eu me reconhecia,
para além da fantasia,
crendo ser quem não sou…
Falta a alma!
A alma que esqueceste de me dar
e a que ficou em mim sem saber amar!"
Vítor Costeira 
Imagem da internet

 
...e o dia amanheceu em paz!... / ...and the day dawned in peace!...
(Chico Buarque)
"A Lua percorreu o arco da clareira
onde estavam abraçadas
duas sombras apaixonadas,
encostadas a uma árvore,
agarradas às palavras
que os ouvidos não ouviam
mas que os olhos e os dedos
diziam a cada momento.
... e eram fábulas, poemas, crónicas,
histórias, romances
que continham gestos,
beijos, abraços, carícias,
sonhos onde existia uma Lua
e um casal de namorados.."
(de mim, para todos os apaixonados!)

 
Assim como as estrelas são o Sol que iluminam galáxias, os amigos são o Sol que ilumina as nossas vidas!
As the stars are the Sun illuminating galaxies, friends are the sun that illuminates our lives!

"Medi a distância entre a Terra e Plutão,
previ o tempo entre uma noite e outra,
juntei as latas todas da minha rua
e senti, num momento,
a mais linda ideia louca:
a partida para o Espaço
dentro de um veículo nunca antes concebido,
com tudo aquilo que sonhei,
com tudo aquilo que quis,
que desejei,
mas que, no fundo, não tive...
Das flores que nunca me deste
usei-as como decoração;
as palavras que nunca me disseste
usei-as como lição;
dos ideais que nunca viveste
usei-os como computador;
da compreensão que sempre negaste
usei-a como combustível
e, com as latas que juntei,
construí um foguetão
e parti em busca das flores,
das palavras, dos ideais,
da compreensão, do amor...
E aqui ando eu eternamente girando,
em órbita dos séculos que já vivi,
fugindo de um mundo que não quis
sem flores,sem palavras,
sem ideais, sem compreensão,
sem amor..."
Vítor Costeira

 
The wave... / A onda...
"Ondulante
a onda ondula,
airosa e arrogante,
em crescente constante,
obrigando os meus olhos
a viajar nela,
como veleiro sem vela,
de dentro para fora de mim,
do leito para a margem
de uma viagem
sem fim!"

 
Voar... / Flying...

"Voar
é próprio das pessoas.
Apenas as pessoas
conseguem estar e não estar
num lugar distante
de qualquer outro lugar...
basta desejar!
E, num leve bater de asas,
voar
de um lugar
para outro lugar,
sem ninguém reparar,
e assim poder estar,
onde se desejar
e com quem desejarem estar.
Basta apenas abrirem as asas da imaginação
e voar, voar, voar..."

Imagem de: http://www.freewallpaperwep.com/

 

Christ the Redeemer / Cristo-Redentor, Rio de Janeiro, Brasil
Aquele abraço! / What a hug!
"... e quando me sinto triste,
e nada mais existe,
recolho a minha dor
no regaço
do teu salvador
abraço...
... e quando estou só,
nada mais do que pó,
recolho-me em ti,
nos braços
que esperam por mim
com amor...
Quando preciso de ti
abres os teus braços,
sorris para mim
e volto a ser
quem eu quero ser,
por ti, meu amor!"


"Pendura-me no teu pescoço
como um lindo fio dourado;
prende-me nos lóbulos das tuas orelhas
como brincos de cigana;
usa-me nos teus dedos
como anéis com jóias raras;
aperta-me dentro do teu vestido
como seios dóceis e sensuais;
perfuma a tua pele macia
com o aroma da minha pele;
fecha-me entre os teus lábios
como bâton silvestre carmim;
veste-te de mim
e respira os meus sonhos;
guarda-me na tua bolsa
como bilhete de amor escondido;
passeia-me com a tua sombra
como se os corpos fossem um só...
Inventa-me em ti,
no teu quarto,
no teu espelho de mão,
no teu frasco de perfume preferido,
no teu bornal de sonhos e ilusões,
no teu poema mais querido...
Serve-me em ti,
sorve-me em ti
e deixa uma parte de ti
sentir-se em mim..."

(Palavras minhas e imagem de:http://www.lovewallpapers.in)


 
Se...
"Se, de repente,
o Sol se extinguisse,
eu quereria morrer abraçado a ti
ouvindo o teu sussurrar na orelha já fria,
a última ideia bonita,
o último desejo louco,
o último toque dos teus dentes
na cartilagem gelada...
Se um dia, tal acontecer,
guarda um pouco do teu calor,
para mim
meu amor!..."

(Palavras minhas e imagem de:http://www.wallpaper2020.com/ )

 
"Vamos falar de flores!
Podem ser cravos, rosas ou gladíolos.
Vamos falar de palavras como flores,
palavras com caules e pecíolos.
Vamos inventar palavras de muitas cores,
palavras novas cheirando a jasmim,
vestidas de papoilas aguerridas,
nascidas num novo jardim!
Juntemos à palavra "guerra"
um ramo de oliveira;
à palavra "tirania"
uma flor de laranjeira;
à palavra "fome"
a esperança de uma flor por abrir
e enlacemos as crianças de todo o mundo
numa grinalda de flores por descobrir!
Vamos falar de flores,
de palavras e de nós!
Porque só de nós dependem as flores!
Porque só de nós dependem as palavras!
Porque apenas de nós dependemos nós!"

(Palavras minhas e imagem de:http://www.freewallpaperwep.com/)

 
"Apenas a ti eu quero encontrar
em cada porto que escalar,
em cada oceano que navegar,
em cada sonho que pescar
quando o meu olhar procurar o teu olhar no mar,
pois só tu sabes seduzir
o meu jeito de sorrir,
o meu modo de dormir
e a minha força em alcançar no ar
os olhos de uma gaivota dourada
que apenas nós sabemos existir,
numa carícia apaixonada...
Só a ti eu quero encontrar
pois só a tua mão encaixa na minha mão
e só o teu corpo encaixa no meu corpo
na máxima perfeição
num jogo de côncavos e convexos,
de belos reflexos
e suave paixão..."

(Palavras minhas e imagem de: Leonid Afremov)

 
"-- Bom-dia...
...e, assim, amanheceste os teus sentidos em mim
e acordaste o turpor da madrugada,
acariciando o momento,
enchendo o silêncio com ternura
e despertando os meus sentidos em ti...
Não sei se tinhas as pálpebras cerradas
porque os meus olhos fechados não vêem
mas senti as pontas dos teus dedos
redescobrindo caminhos já conhecidos,
folheando as páginas de um livro
como se fora a primeira vez que o lesse...
Não trocámos palavras entre os dois
porque para amar não é necessário dizer
nem para ser amado é necessário ouvir!
E a vida, o Mundo inteiro,
tudo recolheu àquele ponto do Universo,
ao vórtice infinito daquele instante!
Serenamente cansados,
repousámos os corpos na doce manhã
que despertou os seus sentidos em nós
e, num sussurro, disseste-me:
-- Bom-dia..."

(Palavras minhas e imagem de origem não conhecida)

 
"Se tivesses asas
serias a ave mais linda!
Se tivesses pétalas
serias a flor mais linda!
Se fosses água
serias a lagoa mais linda!
Se fosses cor
serias o céu mais lindo!
Sabendo que não tem asas,
nem pétalas,
sabendo que não és água
nem cor,
vejo-te como uma pomba vestida de flores
que sobrevoa as lagoas
e sobe aos céus,
levando-me contigo nas asas,
vestindo o corpo com pétalas
e o cabelo escorrendo água,
para, perto do firmamento,
purificares-me o corpo
e eu ficar preso a ti,
como um louco
fica preso a um sonho!
E, num acto final de devoção,
voltamos ao jardim sagrado da paixão
que nos acolhe
até novo voo..."

(Palavras minhas, imagem de:http://wallpapersinhq.com/)

 
Brindar a ti, amor
em cálices de bem querer,
entre gardénias de saudade
e pétalas de malmequer,
entre promessas de verdade
e medo em te perder
talvez um dia, quem sabe,
ao amanhecer...
Brindar a ti, amor,
com sonhos de nunca dizer,
entre colinas de ansiedade
e planícies de enlouquecer,
entre loucuras sem idade
e noites por acontecer,
talvez, um dia, quem sabe,
ao entardecer...
Brindar a ti, amor,
em momentos a não esquecer,
entre abraços de vontade
e soluços de prazer,
entre palavras de amizade
e desejos de te ter
talvez um dia, quem sabe,
sem mesmo eu saber...
Brindar a ti, amor,
é ocultar-me dos demais,
é entregar-me a ti, em flor,
é querer-te sempre mais
nos dias que passam sem cor,
tristes e sempre iguais
enquanto não te tiver, amor,
e, de amor, morrermos imortais!

(Palavras minha e imagem de:http://wallpapersinhq.com/)

 
Grão dourado,
sonho alado,
mistério perfumado,
beijo desejado,
amor acarinhado,
por me permitires existir a teu lado,
obrigado!!!

(Palavras minhas e imagem de: Luana Silense)

 
Abrigo-me em ti...
Protejo-me de mim, em ti,
pois sei que me amarás mais e melhor
do que eu...
Entrego-me a ti...
sem reservas,
incondicionalmente,
com a confiança própria de um cego,
corpo, alma e mente,
com o máximo amor e apego
de quem em ti nunca se sente ausente...
Acolhe-me,
abriga-me,
protege o todo que eu sou
abraça a minha paixão,
recebe tudo o que eu te dou,
envolve o meu corpo no teu
e faz de mim um homem,
puro e são,
como se este homem fosse um petiz!
Abrigo-me em ti
e, em ti, sou feliz!

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.desktopwallpapers4.me)

 
"Leva-me contigo, a passear.
Agarra a mão,
abandonada na tua,
e guia-me, com os olhos vendados,
através de caminhos que só tu conheças,
atapetando o meu ansioso caminhar,
sobre um manto romântico de folhas outonais caducas e macias.
Ampara-me os passos
e deslumbra-me
com tudo o que não sei,
até me fazeres sentir rei
de algo que não saberei se existe
senão na capacidade que tens em mo mostrar.
Leva-me a passear contigo,
até à enésima curva do caminho
e, suavemente,
como o leve tombar de mais uma folha, apenas,
abandona a minha mão
e desvanece a tua imagem
nos olhos que não vês,
transformando-te em memória
aos meus sentidos.
Serei, então, desafiado
a encontrar o meu próprio caminho
de volta a um princípio
que não sei se ainda existirá,
no preciso momento em que me desvendar.
Até sair do ponto onde me deixares ficar,
poderei sentir a amargura
em estar só
e reconhecer na tua ausência
a essência da minha solidão.
Chegarei?
ainda, não o sei,
mas apenas o saberei
se um dia me levares a passear
e, suavemente,
me convidares a ficar só,
numa qualquer curva
de um caminho
que apenas tu conheças…"

(Palavras minhas. Imagem de fonte desconhecida)

 
Não me recordo de muita coisa,
ainda me sinto aturdido!
Só me lembro que navegava...
Navegava num mar calmo,
com céu limpo,
a brisa acariciava-me a pele
e não sentia o tempo passar...
Repentinamente, o mar agitou-se,
tornou-se violento
e eu não estava preparado para ele.
A madeira da minha embarcação
rangeu toda ela,
caíam coisas em cima de coisas,
os quadros abanavam nas paredes,
(cenas felizes de outros tempos)
cartas e fotografias eram destruídas,
desapareceram os rumos e os mapas
de uma rota que terminaria ali...
e a bandeira já remendada,
situada num mastro pronto a cair,
foi rasgada de novo
pelo impiedoso vento
e desapareceu aos meus olhos...
Tentei salvar o pouco que restava
do muito pouco que tinha,
desci ao porão já alagado
e tapei os rombos como pude,
fixei os quadros que restavam
às paredes já fendidas,
escrevi novas cartas de esperança
e fotografei novos horizontes,
planeei novo rumo noutro mapa,
construí novo mastro
e, com a minha camisa remendada,
edifiquei nova bandeira...
Entretanto, o mar continuou rugindo
cercando o meu barco,
indiferente aos meus esforços,
fazendo temer o desenlace!
Repentinamente, porque foi de repente,
a tempestade aliou-se ao mar,
trovões e relâmpagos encheram os céus
e a minha embarcação afundou-se,
levando com ela o meu passado,
os meus sonhos, os meus planos,
os meus anseios, a minha vida...
Agarrado a destroços,
no meio de um mar sem terra à vista,
vou delirando e sonhando
com aquela estrela além,
que, noite após noite,
vem dar-me forças para continuar acreditando
que uma embarcação possa aparecer
e me resgate das brumas sombrias
que afogaram o meu olhar...
Não soube compreender o mar...

(Palavras minhas e imagem de autor desconhecido)

 
Romance - Cap. 1
Eles não sabiam bem
qual dos dois sorriu primeiro...
apenas sentiam a pele
ser percorrida por intenso formigueiro,
o coração tresloucado a pulsar,
querendo fugir e voltar,
e o corpo a não sair do lugar,
sem saber o que fazer,
se gritar, se correr...
o que seria que estava a acontecer...?
E, agora, o que fazer?
Como parar de desfalecer?
Cada um deles desviou o olhar,
olham para onde não estão a olhar
e, por querer, sem o saber,
os olhos voltam ao mesmo lugar
e o sorriso, agora, é maior,
já não se consegue evitar,
será que é isto que é amor?
Será que é isto que é amar?
Pode ser, mas pode não ser,
pode ser apenas o começar,
mas as pernas ficam no mesmo lugar...
e lá vem mais uma hesitação,
eles não sabem mesmo o que fazer,
os olhos vêm, os olhos vão,
enquanto um deles é engolido pela multidão!
No rosto do que fica,
fica a desilusão,
talvez seja assim melhor... talvez não...
Cabeça baixa e corpo ausente
nem sente quem se sente a seu lado,
o que foi mais ousado,
e que lhe diz, em voz tremente:
"Olá, meu nome já é seu
e, o seu, pode ser meu?"
E a felicidade veio para ficar!
Ah! Como é bom sonhar!

(Palavras minha e imagem de:http://www.desktopwallpapers4.me)

 
Dizias que eu era tudo o que querias para ti,
juravas amar quem eu era em todos os momentos,
cantavas as melodias que sabias que eu queria ouvir
e sorrias os sorrisos que eu gostava ver sorrir...
Escrevias as mais lindas mensagens de amor,
contavas loucuras que haveríamos um dia de fazer
prometias-me paixão com tal calor
que eu ouvia e absorvia tudo com igual prazer...
Semeaste a ilusão nos jardins da minha alma,
fizeste-me acreditar que a felicidade seria eterna
e, agora que o vazio se instalou à minha volta,
pergunto-me o que foi que aconteceu,
ou será que o que foi nunca chegou a ser...
As cicatrizes que ficaram não as queres ver,
as juras ficaram penduradas em momentos de sofrer,
as melodias e os sorrisos são difíceis de esquecer
e as loucuras que faríamos nunca chegámos a fazer!
Restou o vazio e a desilusão
do que poderia ser prazer, amor e paixão...
Então, decidi viver e aprender,
estou em plena reconstrução,
escolho agora eu as melodias
e sorrio à pessoa que era eu,
evitando a todo o custo a mesma sorte!
Não sou mais feliz, mas estou mais forte!

(Palavras minhas e imagem de:http://wallpapersinhq.com/)

 
Não há água que possa saciar
essa nossa sede de viver,
esta nossa força de lutar
e vencer
qualquer barreira
que entre nós se colocar!
Não há gelo que possa arrefecer
esta fogueira que nos sustém
junto ao pólo da lonjura,
despidos de medos e de receios
e com os olhos plenos de ventura!
Não há nada que possa dividir
o meu rir do teu sorrir,
o meu peito do teu peito
enquanto os dois acreditarmos
que o outro nos acredita
e que os caminhos estão abertos
aos nossos passos de viajantes eternos!...

(Palavras minhas e imagem de http://zoomwalls.com/)

 
Reverencio-me a ti, MULHER! / I reverence me, to you, WOMAN!
Mãe, filha, irmã, parente,
amada, amiga, amante,
companheira caminhante
da mesma estrada da vida...
Porção preciosa de um todo,
ventre sagrado e bendito,
luz, raiz, alma,
génese, fonte de amor,
razão da existência
e essência dessa mesma existência...
Idolatrada e esquecida,
abençoada e denegrida,
adulada e diminuída,
mil vezes agredida
e outras mil desejada,
és o princípio de tudo
e, sem ti, o tudo é nada!!!
Oh! Flor de bem querer!
Oh! Menina, jovem, senhora, idosa,
ser acima do ser,
reverencio-me, a ti, Mulher!

(Palavras minhas e imagem de http://freehdw.com/)

 
Extenuante, esta demanda!
Persigo-me mas não me alcanço
e, quando descanso,
deixo de ver a silhueta que caminha
sem parar,
sem destino e sem vacilar,
em direcção a nada que eu entenda no seu encalço.
Não quero correr para competir,
desejo, apenas, alcançar-me
para me poder olhar
e melhor me conhecer,
para perceber
porque me quero encontrar,
mas apavoro-me sempre que me afasto
e desencanto-me sempre que me aproximo.
Não quero ultrapassar-me,
nesta ânsia sem fim,
desejo, apenas, compreender
se estou a correr para me enganar,
ou se estou a fugir de mim.
Entretanto, o tempo esvai-se,
 e quanto mais corro, mais me afasto,
perdendo, assim, o rasto
de quem sou,
ficando alguém que não sei.

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.zastavki.com/)

 
Conheço um menino maravilhoso!
Dito isto, fica-me a sensação de que acabo de criar mais um pleonasmo, uma vez que, ao ser menino, só pode ser-se maravilhoso, porque a capacidade de ser maravilhado e maravilhoso está na infância. Com uma forma simples, sem artifícios nem artimanhas, esse menino é o que todos os meninos não deveriam deixar de poder ser: ele é feliz!
Este menino é maravilhoso porque ele é menino mas também porque, sendo menino, acredita em maravilhas que, nós como adultos, já deixámos de acreditar, de ter essa capacidade... ficámos rígidos, indiferentes, bloqueados! Porque razão nós perdemos essa capacidade?
O menino maravilhoso fala de magia, de fantasia, como quem fala de algo que sempre existiu, existe e existirá! Ele fala de Aladino e da sua lâmpada mágica, ele deseja esfregar a sua mochila da escola na lâmpada e pedir os seus três desejos, e ele consegue ver os livros saírem de dentro da sacola, como se os livros tivessem vontade própria e asas e pudessem voar pela sala, numa dança onde apenas o menino ouve a melodia que embalam os livros...
...e os seus olhos seguem os livros, olhos brilhantes, encantados e encantadores, e os livros seguem os olhos e dançam com eles e eu... eu sinto que sou um feliz ser, abençoado pela oportunidade que a vida me dá, permitindo que eu tenha esta visão sublime da felicidade!
De repente, também eu, momentaneamente, consigo ver os livros dançando no ar, no reflexo maravilhoso que os olhos deste menino me deixam ver...
Como é bom navegar nos rios da imaginação dos seres felizes!

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.desktopwallpapers4.me)

 
Esses olhos, mulher
que tu desprezas, por serem teus,
que tu ignoras, por serem teus,
que tu não vês, por serem teus,
são os olhos por onde eu vejo,
são os olhos que me guiam,
são os olhos que iluminam
os passos incertos da minha vida!
Eu, que sou cego
com os meus olhos abertos
e um homem perdido
sem esses olhos,
por serem os teus olhos,
assim continuarei,
enquanto não deres valor
ao valor que eu sempre te darei,
mulher!

(Palavras minhas e imagem de http://pichost.me/)

 
Ser mas não ser,
não ser mas parecer ser,
não parecer ser mas ser
e, assim, viver...
Como será adormecer
sem conseguir entender
que pessoa no outro dia ser,
que ser se apoderou do seu ser?
Por que razão alguém tem que ter,
mais do que o seu ser a sofrer,
um outro mais para enlouquecer,
apenas por querer ter
para seu único prazer
o querer de outra pessoa e não ver
que o Amor é um estremecer
vivido a reviver
e que se deseja e se quer!
Assim viver é sofrer,
assim viver é morrer antes de morrer...
Ninguém pode adormecer
nos braços de quem não quer!

(Palavras minhas e imagem de hdwyn.com)

 

Acordou de forma suave, como quem reabre os olhos após os ter cerrado momentaneamente. A noite passou-se num ápice e não se recordava sequer de qualquer sonho que tivesse tido. No centro da cama, envolto na penumbra que se desanuviava à medida que o olhar rotinado se adaptava ao ambiente do quarto, sentia-se no centro do Universo, pois era assim que ele o queria imaginar: escuridão e silêncio. Propositadamente, não incluía rochas, nem movimento, nem gravidade ou a ausência dela, nem outros elementos que ele sabia existirem no espaço sideral. Era assim, exactamente, que ele queria ver as coisas, naquele momento. Saboreou aquela imagem e quase que voltava a adormecer, no torpor inebriante do prazer!...
Resoluto, saiu da cama, lavou os olhos como os gatos, agarrou uma peça de fruta na cozinha e dirigiu-se à sala onde habitualmente confeccionava uns textos a que, com alguma imodéstia, ele chamava contos. Gostava de pensar que assim eram, embora nunca os tenha considerado, verdadeiramente, como tal, uma vez que sempre que os relia, encontrava neles fraquezas, ausência de imagens e de figuras de estilo, estrutura frágil e vocabulário pobre, entre outros defeitos, que o impediam de acreditar poder estar a fazer o mesmo que os grandes mestres da literatura fizeram antes. Seriam, apenas, singelos e ingénuos guiões. No entanto, talvez todos os impedimentos que ele encontrava nos seus textos fossem, tão-somente, uma particular e pessoalíssima forma de escrever, de contar algo, a que alguém um dia pudesse chamar “estilo próprio”.
Com a peça da fruta já comida e o caroço bem roído, decidiu sentar-se no sofá em frente à janela de onde se podia admirar uma paisagem tranquila e quase campestre. Pegou no pouco material necessário, papel e caneta, e começou a ordenar ideias. Ocorreu-lhe que poderia utilizar o computador e, dessa forma, poupar trabalho, mas gostava de escorrer as palavras em tinta e de sentir o papel ser depositário dos hieróglifos quase indecifráveis que as representavam. Para além disso, sentia-se mais familiarizado com a escrita humanizada e tradicional, sentia-se mais perto dos escritores antigos, os tais cujas obras eram continentes e, a dele, uma ilhota perdida num oceano de anexos. Solitário, como a sua obra, deu início ao trabalho, e começou o seu primeiro texto
–“ Acordou de forma suave, como quem reabre os olhos após os ter cerrado momentaneamente…”

(Palavras minhas e imagem de iLEEH95)


 
Era eu...?
Era eu quem, em tuas preces, pedias?
Era eu quem tu desejavas?
Era mesmo eu quem tu querias?
Era comigo que sonhavas?
Continuo eu a ser quem queres?
Sou eu quem ainda desejas?
Preenchi os teus sonhos?
Consegui tornar real a tua ilusão?
Tens razão,
eu devia saber todas as respostas,
devia saber e sei,
mas ouvi-las por ti repetidas
sabe-me sempre tão bem...
vezes sem conta,
onde conta bem mais o bem que sabe
do que as vezes que se conta…
cada vez mais sentidas
de cada vez que as repetes,
as palavras são melodias queridas!
As palavras são sorvidas
em gotículas de prazer,
uma a uma,
sem uma perder...
Sabe bem ouvir-te dizer
que ainda sou eu,
que sempre serei eu,
e apenas eu,
a quem o teu eu se deu,
por quem o teu todo cedeu,
e cantas-me as palavras mais lindas que sei,
as que contigo aprendi
e aquelas que contigo ainda aprenderei…
…e, quando com elas me cantas,
encantas-me
e em ti me encontro!
Sim, eu sei as respostas
mas sabe muito bem ouvi-las de ti…
 
(Palavras minhas e imagem dehttps://goetary.wordpress.com/)

 
Estou esperando...

Desde o dia em que nasci que espero por ti. Sem pressa, desfrutando a pausa na viagem, respirando...
Por vezes, contemplando o firmamento, outras vezes, apreciando as flores, tentando não magoar, evitando ser magoado, também...
Eu continuo esperando pela tua chegada...
Tu levar-me-ás não sei para onde, nem me importa, da mesma forma que tu me trouxeste de onde não sei...
Enquanto tu não chegares, eu vou usufruindo da minha espera, a que chamo vida, vou tentando ser feliz e, acima de tudo, vou tentando dar felicidade...
Nem sempre consigo atingir tal coisa, dar e receber, mas é isso mesmo que transforma a espera em vida!
Não tenho pressa, tu podes demorar uma eternidade, dá-me todo o tempo que puderes porque, enquanto aqui tenho estado, tenho gostado de estar... e tenho tantos planos para cumprir!
Quando, um dia, enfim, tu chegares, espero estar preparado para a viagem, sem malas e sempre sem pressa, para regressar a um local que eu não conheço...
Estou esperando, aqui, tu sabes onde, mas ainda é muito cedo para mais uma partida..."
 
Poema meu, revisitado. Imagem dehttp://www.hdwallpapers.im/)

 
Fran tinha tido uma infância feliz! Os pais eram pessoas de bem, honestas, trabalhadoras e muito interessadas no êxito e felicidade do seu único filho. Apesar de não serem abastadas, conseguiram oferecer-lhe a possibilidade de ele conquistar um curso superior e ele não os desiludiu, aproveitando de mãos abertas esta preciosa oferenda.
Nos tempos de faculdade, tivera a suprema felicidade de conhecer, oriunda de outro curso, aquela que iria viver consigo cada segundo das suas vidas como se fosse o único! Ela era uma mulher fantástica, idealista, com princípios morais e éticos a condizer com os seus. Era carinhosa, inteligente e linda! O seu sorriso iluminava-lhe a alma, semeava-lhe forças desconhecidas nas suas fraquezas e desbravava-lhe horizontes quase impossíveis de sonhar! Ele sempre tentara retribuir tudo o que dela recebia, em doses superiores, mas achava que não tinha talento para tal, por um lado, e que era impossível alguém ser mais feliz do que ele, por outro. A felicidade teria sido máxima, se tivessem nascido filhos mas… nem um tiveram.
Mas nunca desistiram de ser felizes e foram!

(Excerto de um conto meu. Imagem dehttp://www.dazzlingwallpaper.com)

 
Porque não pretendo ter inimigos.
Porque não pretendo ser escravo dos meus inimigos, mesmo não os querendo ter.
Porque quanto mais fujo, mais força dou aos inimigos que não quero ter, mesmo que não sejam apenas meus.
Porque sei que vá para onde vá, faça o que fizer, encontrarei sempre ou estes ou outros inimigos.
Porque sei que tenho os melhores amigos que poderia ter e que eles não merecem a ausência de quem eles confiaram ser seu amigo.
Porque me parece que os próprios inimigos são pessoas que provavelmente também precisam de ajuda, de amigos.
Porque sei que as palavras que escrevo são o lado de dentro de mim mesmo e eu preciso de saber quem sou por dentro, do lado de fora de mim.
Porque se fugir de alguém estou a fugir de mim próprio.
Aqui estou eu, de novo. Desta vez, para ficar, até nada de importante ter para dizer. E, se tal acontecer, sei que terei os meus amigos para me recolherem, nas suas palavras e em eles mesmos!
Aqui estou eu, de novo!
Recomecemos, então!!!!
Grato, vida, por ter o que tenho, na companhia de quem tenho!
Grato, AMIGOS!!!

 
TENHO EM MIM UM VULCÃO
Tenho em mim um vulcão
para acalmar,
sob a lava que derramo
por cima do meu próprio corpo,
ferindo, queimando,
provocando o sofrer…
Que sentido há no sofrimento
que a nós mesmos infligimos,
quando fingimos que não magoa,
quando fugimos da dor
de não sermos quem somos,
quando permitimos que nos firam,
que nos violentem,
que nos atormentem
e acorrentem as asas do sonho
que, um dia, ousámos abrir,
como uma flor a sorrir
a uma Primavera a chegar…
Se apenas sei voar,
o que faço eu com os pés presos
a este chão que me oprime,
e reprime a beleza
das coisas que não sei
se um dia eu saberia fazer?
Tenho em mim um incandescente vulcão,
os pés presos ao chão
e as asas prontas para voar…
É chegada a hora de me libertar!!!

(Palavras minhas e imagem de autor desconhecido)

 
APRENDIZ DA VIDA
Sou um aprendiz da vida…
tudo em meu redor é descoberta
e, também eu, sou descoberta,
porque, também eu, sou vida.
Sou aprendiz de mim…
onde me começo,
onde me termino.
Por vezes, reconheço-me,
outras vezes, desafio-me
e, na maior parte delas, questiono-me
e recomeço.

Sou aprendiz,
sou iniciado,
eterno ser
de si mesmo desconhecido,
em mim inacabado.
Sou um tempo mais-que-imperfeito
em modo indicativo,
com o imperativo do futuro,
à condição,
uns dias sim,
outros dias não,
depende do tempo, do modo
e do ângulo de visão
com que me observo,
com que, absorto, me absorvo.

Apenas sei que não me fiz
de mim aprendiz,
assim nasci e sou,
unicamente, este que um dia alguém quis…
Também sei que serei tudo aquilo
em que me fizer,
umas vezes a afirmar
e outras a contradizer,
a ganhar ou a perder
mas sempre a lutar,
sempre a compreender
que tudo, ainda, tenho para aprender…

Todo eu sou descoberta em mim
e encanto-me a descobrir,
pouco a pouco, eu sei,
o pouco que sou
do muito que nunca saberei.
Vou no meu encalço,
parto à minha descoberta
naquilo que os outros recolhem em mim,
na forma certa ou incerta
como acolhem os meus momentos,
como lêem os sentimentos
com que eu não sei viver,
como me constroem em si…

Sou aprendiz da vida,
sou vida,
sou aprendiz de mim…

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.wallpapershdtop.com )
 

 
ROMANCE - Cap. 2
… e ali estavam, lado a lado,
junto a uma árvore, no chão sentados,
cada um para seu lado,
num encontro desencontrado,
num prefácio adiado
de um romance por acontecer
sem nenhum deles perceber,
inconscientes da sua inconsciência,
que a felicidade não é uma permanência
nem, tão-pouco, uma ciência,
é apenas a síntese, a essência
de um romance a decorrer…
Lado a lado, a sofrer,
cada um com sua razão,
sem nenhum deles perceber
haver uma única razão para os dois,
e que há razões em que a razão
faz, ela própria, por desconhecer.
Lado a lado e o romance a desfolhar,
personagens e autores
de uma história por contar
onde a verdade é o amor,
e fala mais alto a paixão,
e eis que ultrapassam o momento e a dor
e, lado a lado, mão na mão,
vivem, finalmente, o romance com prazer
e compreendem que a razão
é o momento a acontecer,
é o romance, é o viver…
E ali estavam, lado a lado,
junto a uma árvore, no chão deitados
os corpos encostados,
esquecendo o verbo viver
na primeira pessoa do singular,
escrevendo e vivendo o romance
como se ele não fosse nunca acabar!

(Palavras minhas e imagem de http://7-themes.com/)

 

AMANHECER
Gosto do amanhecer...
sentir que estou a renascer
e, como um cavalo selvagem
a galope desenfreado
pelas pradarias da vida,
a inspirar nas narinas,
a fresca brisa matinal
suavizada pelas primeiras
e mornas sensações de luz!
Gosto do amanhecer…
acordar sabendo que mais um dia terei
para me sentir rei
de um reino sem coroa nem idade,
que flutua entre um princípio e mim,
entre aquele que já não sou e um fim,
e que me foi dada nova oportunidade
para fazer o que antes não fiz,
ser e fazer alguém feliz!
Gosto do amanhecer
porque gosto de amanhecer,
de renascer,
de perceber que poderei ser
alguém muito melhor
sempre que acordar
e poder aprender a dizer de cor
a cor do que é belo em meu redor…
Gosto de amanhecer…

(Palavras minhas e imagem dehttp://funmozar.com/wild-horses/)


 
...LOGO, SOU HUMANO!
Sou o que escrevo!
Tento ler o que sou
nas palavras que respiro.
Abro as portas do meu ser
sem nada esconder,
sem nada ocultar…
Escrevo o que sou,
o que sinto que sou
e tudo aquilo que sinto
que gostaria de ser
se eu sempre pudesse escolher…
Sou um apaixonado
pela paixão,
sou ansioso e repentino,
sou, umas vezes, razão
e, outras, emoção…
Sou imperfeito,
inseguro,
por vezes imaturo…
sou tristeza,
incerteza,
sou a perfeição
da imperfeição,
muitas vezes insano,
logo, humano!

(Palavras minhas e imagem de http://joinville.nova-acropole.org.br/agenda/2014-06-05/o-futuro-do-ser-humano-e-da-natureza)

 
ESTOU EM TI...
Se queres saber onde eu estou, amor,
procura bem por entre as páginas
do último romance que juntos lemos,
procura bem no meio das cartas
que de mim, apaixonado, recebeste,
procura bem no aroma das flores
que as minhas mãos te ofereceram,
procura bem na última roupa
que contra o meu peito aqueceste,
procura bem entre os dedos
que nos meus cabelos perdeste,
procura bem no mais gentil dos poemas
e das palavras de amor que me escreveste!...
Se queres mesmo saber de mim, meu amor,
procura bem dentro de ti mesma
e não te sintas confusa nem sobressaltada
quando em ti me encontrares
pois é mesmo em ti que eu estou!...
De que vale magoares-te,
de que vale acusares-te,
de que vale chorares por erros
de que nenhum dos dois é culpado…
estou em ti da forma que sempre estive,
estou em ti e nunca me ausentarei,
viverás, por mim e por ti,
todos os sonhos que desenhámos
e eu por ti esperarei
numa curva de um tempo sem fim.
Viverás por ti e por mim e eu feliz serei
apenas e só se fores feliz também…
Dedicado a Lene Conti
Vitor. C

 
DIZ-ME... ONDE ESTÁS?...
Onde estás  tu?...
Tu que aqui me semeaste,
que me deste uma vida inteira
como um desafio para resolver,
que aqui me deixaste sem um código
para decifrar tudo o que não sei,
e é tanto que nem sei dizer!
Por vezes, sinto que atravesso um deserto
em busca de algo
que nem sei se estará longe ou perto,
porque é tão fácil eu perder
a noção do ínfimo ser que sou,
apenas sabendo que quando estou perdido
tenho que encontrar o meu caminho
nesta demanda, nesta provação,
para um destino que me é desconhecido…
Não quero que me salves,
pois eu sei que essa é minha função,
gostaria apenas de sentir
que estás lá, sempre que no chão eu cair,
e que terás estendida a tua mão,
quando eu para cima olhar
esperançado em te encontrar,
em te ver sorrir…
Preciso de força,
preciso da tua força,
preciso do teu olhar,
preciso saber que existes em mim
tanto quanto eu quero sentir-me em ti!
Preciso saber que estás comigo,
preciso sentir-me acompanhado
e que a tua mão segura a minha,
como guia apaixonado…
não sei encontrar-me abandonado!
Deixa-me sentir abraçado,
alimenta a minha esperança,
faz do meu sonho uma tua criança,
faz de mim o teu sonho!
Dá-me paz, acalenta o meu amor!
Onde estás tu, por favor!?...

(Palavras minhas e imagem de http://1ms.net/mother-child-99084.html)

This time, I made no translation... Sorry, my friends... :-(

#Ausência  

 
PARA QUEM FICA, ESPERANDO POR QUEM VAI
Com o fim do dia,
as coisas são o que são;
chegava a monotonia,
o contacto com a cama fria,
vazia,
a mão procurava a mão,
em vão,
a alma entristecia
e, na solidão,
o corpo esperava
inerte no colchão,
por novo dia,
enquanto o sono
não aparecia
 e o sonho se construía
nas brumas da fantasia,
que ia e vinha,
vinha e ia,
embalado nas ondas da agonia
de um mar que se desfazia,
durante a noite
que ia, ia e ia
até ser dia.
Seria este o dia?
Seria…

(Palavras minhas e imagem de :http://ehsapart.blogspot.pt/2011_02_01_archive.html)

 
MARIA, MENINA, MÃE, MULHER!
Maria nasceu num bonito lar,
passarinhos em redor da casa a chilrear,
o cachorro lá fora sempre a ladrar,
no rádio de pilhas, a novela a desenrolar,
o cheiro a boa comida viajava pelo ar,
os irmãos mais velhos gostavam de brigar,
a avó no seu canto todo o dia a bordar,
o pai a ter que partir e a ter que chegar,
a mãe todo o dia a limpar e a arrumar,
e a vida no bairro sempre a passar…

Maria nasceu, menina bonita!
O dia amanheceu e sua mãe aflita!
Seu grito de dor o bairro acordou,
a esperança, o Amor, de seu corpo brotou!...

Maria cresceu num bonito lar,
passarinhos voavam no seu olhar,
o cachorro lá fora por si a chamar,
no rádio de pilhas o futebol a jogar,
o cheiro à comida preferida no ar,
os irmãos mais velhos saíram para namorar,
a avó no seu canto por si a rezar,
o pai a partir e a tardar em chegar,
a mãe escondida num canto a chorar
e a vida no bairro continuava a passar…

Maria cresceu, menina bonita,
no olhar um sonho, no cabelo uma fita!
Sua sombra na rua e ela tão vaidosa,
seu corpo cheirava e ondulava como uma rosa…

Maria casou num bonito lar,
passarinhos cantavam sobre o altar,
o cachorro lá fora era outro a brincar,
o rádio de pilhas ainda a funcionar,
a comida da boda feita para regalar,
os irmãos mais velhos com filhos a cuidar,
a avó já não estava no seu canto a minguar,
o pai a partir e ainda a chegar,
a mãe a cantarolar para não chorar
e a vida no bairro a passar, a passar…

Maria casou, mulher tão bonita!
Seu noivo jurou e ela acredita!
Uma menina nasceu, Maria a quis…
a menina cresceu e Maria feliz!

Maria envelheceu num bonito lar,
passarinhos encantavam longe de seu olhar,
outro cachorro lá fora cansado de uivar,
o rádio de pilhas ao lixo foi parar,
o cheiro da comida da filha vogava pelo ar,
os irmãos mais velhos tinham ido a finar,
Maria era a avó no seu canto a orar,
o pai tinha partido para não mais voltar,
sua mãe tinha ido com seu pai descansar
e a vida no bairro não parava de passar…

Maria morreu, senhora tão linda!
O dia entristeceu e sua filha aflita!
Sem gritos nem dor, o bairro ignorou,
a esperança, o amor, com seu corpo viajou!

Maria morreu num bonito lar…

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.flickriver.com/photos/chris627/4801175060/)

 
NASCER NO LADO ERRADO DA VIDA!
Sentados bem confortavelmente,
em cima de um conforto
que apenas alguma gente bem sente,
bebendo a imensa alegria
do abençoado dia-a-dia,
cantando lindas canções,
falando de felicidade e lindas emoções
que convidam todos nós a ser felizes,
aplicando cosmética por cima das cicatrizes,
tapando insucessos e crises,
pois não foi para isso que nascemos,
nem será com isso que morreremos…

Virando a cara para o lado e nada vendo,
passando a vida fingindo nada saber,
assobiando melodias de indiferença,
fintando e iludindo a diferença
entre aquilo que podemos fazer
e aquilo que nada nem nunca faremos!

Olhando, por cima do ombro, calmamente,
para aquele que dizem ser o nosso semelhante,
mesmo que sua vida seja de miséria errante,
desde que essa vida se viva onde não se veja,
rezando e orando pela paz no Mundo
por todos sentindo um amor profundo,
felizes por sermos o que somos
e termos à mão todos os bens terrenos,
no fim do dia adormecemos serenos,
na boca suavizando um sorriso pleno de confiança
e no amanhã depositando a enorme esperança
que sempre assim seja!...

Só não vê, quem não quer ver!
Só não sabe, quem não quer saber
que é tão diferente e tão sentida
a dor em nascer do lado errado da vida!

(Palavras minhas e imagem de:http://xpressate.net/no-mas-pobreza-en-el-salvador

 

FLOR DE BEM-QUERER
Eras criança,
eras esperança,
eras flor
e, nos teus olhos,
esvoaçavam flores
por sobre outras flores
e tu a todas acolhias,
a todas sorrias
e de todas dizias,
todas serem flores,
pois todas elas eram cores,
cores que voavam
por sobre as outras cores…
E as flores eram borboletas
que também eram flores,
flores voadoras
e tu, como flor,
também borboleta eras
delas a mais sonhadora,
feliz, enternecedora,
aquela que um dia
do outrora voaria
e continuaria sendo cor,
continuaria sendo flor,
que falaria com elas,
e que sendo uma delas
de tanto querer ser flor
é agora uma flor de bem querer!

(Palavras minhas e imagem de:http://wallpaperscraft.com/download/girl_bike_flowers_butterflies_67455/3840x21660)


 
ENTRE UMA CHEGADA E UMA PARTIDA...
Três segmentos, diferentes ou não,
três vértices, como pontes e ligação,
três ângulos abrindo o campo de visão,
em tudo se forma uma combinação,
à qual triângulo se decidiu chamar
sempre que um polígono assim se formar!
Fruto da mesma raiz, o ângulo recto,
cada cateto tem um irmão
no outro cateto, gémeo ou não,
e cada um deles vai vivendo
uma aguda relação
com a sua amiga afastada,
quase como uma intrusa,
diria abandonada,
a independente hipotenusa!
A hipotenusa é a musa
distante e fria
que quanto mais cresce cada cateto
mais ela do ângulo recto
se afasta, se distancia…
E, para a relação ter mais veneno,
o cateto oposto junta-se com a hipotenusa
nascendo, daí, um seno;
mas como um desafio não se recusa
o cateto adjacente amiga-se com a hipotenusa
e dessa relação nasce um co-seno.
Apesar de rígido, o ângulo recto é inteligente
e para que haja paz entre parentes
harmonia entre eles uma amizade pungente
a que lhe chamou tangente.
E porque não haver vida na geometria
se há geometria na vida?
Para a vida na geometria, a trigonometria,
e para a geometria na vida,
a medida sentida
entre uma chegada e uma partida!

(Palavras minhas e imagem de :http://kariswall.com/hdpics/magic-math-hd-wallpaper.html)

...DAS CINZAS, RENASCER!
… e surpreendeu-se,
afligiu-se,
lamentou,
desculpou-se,
defendeu-se,
implorou e renegou,
chorou e soluçou,
martirizou-se,
praguejou, maldisse,
gritou, vociferou,
blasfemou, orou,
acusou, acusou-se,
culpou, culpou-se,
criticou, criticou-se,
humilhou, humilhou-se,
insultou, insultou-se,
ofendeu, ofendeu-se,
odiou, odiou-se,
encolerizou, encolerizou-se,
perdeu, perdeu-se,
enlouqueceu,
atacou, atacou-se,
cuspiu,
pisou, pisou-se,
arranhou, arranhou-se,
mordeu, mordeu-se,
agrediu, agrediu-se,
rasgou, rasgou-se,
desistiu, abdicou,
caiu, levantou-se,
cansou, cansou-se,
descansou,
adormeceu e acordou,
pensou e repensou,
suavizou, acalmou,
ganhou,
não esqueceu,
não perdoou,
mas aprendeu
e decidiu,
cuidou-se, arranjou-se,
preparou-se
recuperou,
renasceu!
Sorriu e recomeçou!...
…e surpreendeu-se…

(Palavras minhas e imagem de autor com assinatura ilegível)


 
QUERIDO DIÁRIO...

És as minhas alvíssaras de glória,
não és princípio mas fim,
és toda a minha história,
e eu serei, em ti, toda a tua memória,
tudo aquilo que de mim restar
é em ti que irá morar.

Serás o responsável, o cuidador,
de quem eu sou agora
e preservarás todo o meu fervor,
assim que chegar a hora
e será com esse amor sem dor,
feito de enlevo e arte,
que fará de ti o esplendor
de um cristal que não se parte
que apenas se reparte…

És o diário dos sonhos sem dias certos
para serem escritos ou lembrados,
daqueles de quem me fiz incerto
e a quem, no estremecer das asas
de um qualquer insecto,
um dia alguém me lerá em ti…

És o sagrado profano relicário
das minhas vazias e insignificantes palavras
que falam de sonhos, tristezas e alegrias
que outros olhos porventura lerão como fantasias.

Cuida bem destas palavras inseguras
que não chegam a pretender ser poesia,
preserva-as ingénuas e imaturas,
esconde-lhes a amargura e a agonia,
sê o cuidador da obra que será
muito mais do que alguma vez pretendeu ser,
neste tempo vago de plenitude,
onde ainda me sinto dentro de uma doce infinitude,
onde ainda me encontro…

Aqui estou eu a despojar-me em ti
extraindo-me de dentro de mim,
entregando-me da forma incondicional
que apenas tu sentes e conheces,
deixando de ser apenas eu para sermos nós,
esvaziando-me, dando lugar a uma outra voz
que raras vezes antes se conheceu,
e tu, neste propósito do tempo desconhecido,
também um outro tu já terás sido
por cada nova palavra que eu escrever…

És o diário que alguém um dia irá, ou não, ler
e eu sou aquele alguém que ainda não fui
aquele outro que, mais tarde, em ti, serei lido!
Sou neste momento, um outro, contigo
e tu nunca serás o mesmo sem mim, diário amigo!

(Palavras minhas e imagem de: http://74211.com/free-wallpaper-includes-a-pen-writing-on-the-hills-composing-its-masterpiece/)

O PESADELO!...
Aquele dia tinha acordado diferente, como que a dizer que algo de tenebroso estava prestes a acontecer…
O ar estava irrespirável, denso, sufocante, quase rarefeito! Nenhuma brisa soprava  e nada se movia. O odor pestilento e putrefacto espalhado entrava nas narinas e causava um enjoo endémico, uma náusea profunda.
As aves que, geralmente, sobrevoavam aquela localidade, em procura de comida ou acasalamento, estavam quedas e mudas, pousadas nos beirais das casas, com o olhar fixo nas pessoas mais abaixo. As árvores como que tinham petrificado as suas folhagens e ramos e nem as suas sombras se faziam notar, uma vez que o Sol não tinha nascido por detrás do imenso nevoeiro que se fazia sentir.
Os cães e os gatos, normalmente activos, numa correria louca de perseguição e fuga, jaziam prostrados aos cantos, escondidos do invisível, pressagiando alguma coisa terrível… enquanto as pessoas, num misto de confusão, desnorte e esperança que tudo não passasse de um pesadelo prestes a terminar, ainda não tinham percebido a razão dos seus receios e acotovelavam-se em pequenos grupos, junto às portas das casas. Os olhos desmesuradamente abertos dos animais e das pessoas, em busca de um pequeno sinal que fosse, giravam em torno das órbitas, criando espasmos nervosos. Todos os sentidos se encontravam alerta…
Nenhum movimento, nenhum som: uma ausência de vida que augurava uma brusca e horrível presença de seres sinistros…
Repentinamente, o ar entrou em turbilhão, rodando, rodopiando e arrastando consigo telhas, folhas, ramos, poeiras e lixo, levando a que as aves de rapina expectantes rodopiassem também em volta e acima daqueles grupos de seres vivos que os olhavam aterrorizados! As pessoas retraíram-se ainda mais, os cães e os gatos fugiram para dentro das casas e de outros buracos, mordendo-se e arranhando-se, numa luta frenética pela vida: estava instalado o caos, era o fim do mundo que se avizinhava!
Os gritos ecoavam lancinantes, os uivos dos cães faziam lembrar lobos loucos, o vento poderoso silvava e asfixiava todos os outros sons, a areia e a poeira no ar era tanta que quase ninguém se apercebeu que uma figura tão imensa e resoluta, quanto temível e apavoradora, subia o início da rua dirigindo-se ao grupo de pessoas onde estava o único ser que a tinha detectado, desde o princípio: uma criança…
Os passos daquele ser eram convictos e a sua fronte não enganava: algo de muito errado iria acontecer! Parou, levantou o olhar aterrador para os simples mortais, ergueu o braço e apontou a mão para a criança, que tinha tido a ousadia de a ter olhado antes de qualquer outra pessoa, e…
Esperem, esperem, um pouco! Nada disto é verdade! Isto foi apenas um sonho... isto é, foi um pesadelo! Talvez um dia eu possa contar-vos o fim de esta história... talvez isto não tenha sido apenas um pesadelo!... Talvez, um dia...

(Palavras minhas e imagem de :http://freehdw.com/wallpaper/worst-nightmare-97387.html)


 
NÓS
Nós.
Por um instante,
nós,
entrelaçados,
cruzados,
atados,
ligados,
combinados,
dados.

Nós...
Por um instante,
só nós.
Um nó
de nós, só!
 A sós!!!

(Palavras minhas e imagem de: desconhecido)

 
PERGUNTAS...

Com quantas mentiras se consegue viver uma vida?
Quantas vidas se conseguem, numa só, viver?
Quantas partidas são necessárias acontecer
para que, finalmente, aconteça a chegada?
De quantos quartos vazios se forma o nada?
Com quantos monólogos se forma a solidão?
Por quantas diferenças é composta a indiferença?
Com quantos silêncios se cala a violência?
Quantos segredos violentam a inocência?
Com quantas falsidades se destrói a confiança?
Qual o tamanho da tristeza com que se vive o abandono?
Quantas pontes são precisas construir
para vencer a distância que separa
dois corpos à simples distância de um abraço?
De quantas promessas vãs se faz a sinceridade?
Qual o tamanho do laço que une a amizade?
Quanta guerra é necessária para que haja paz?
Com quantos sonhos lindos uma feliz criança se faz?
Com quanta esperança se molda o amor?
... e quantos séculos precisamos nós para sermos felizes por um dia?

(Palavras minhas e imagem de:http://www.wallconvert.com/wallpapers/artistic/wood-carvings-4691.html)

Sorry, my friends! There's no translation again because this poem is a bit complicated and because I have no more time! Thanks!!!

#Questões  

 
O OLHAR CERTO, EM CERTO OLHAR...
Quando repousas o teu olhar
no meu
e eu procuro o céu no teu,
sinto-me de novo criança,
visto-me de esperança,
fico irrequieto,
agitado,
sinto o espaço crescer
e, na ânsia em te encontrar,
acabo por me perder,
a meio caminho
entre o teu olhar
e algo que eu não sei descrever…
Depois, o espaço recolhe,
eu acalmo,
a criança em mim descansa
e recebo como um salmo
o céu do teu olhar
que procurou no meu repousado olhar
o olhar certo para repousar…

(Palavras minhas e imagem dehttp://wallpaperswide.com/angelina_jolie_eyes-wallpapers.html)

#Amor

 
...E, PORQUE NÃO?
…tocar as cordas de um violão
e soltar as cordas da voz,
cada um na sua vez,
num tom de quem tem,
talvez,
o condão de tocar,
para além do violão,
a pele do coração
e fazer estremecer
qualquer ser
que não seja
aquilo que apenas se veja,
e não veja
apenas aquilo que se vê…
… e, porque não?
… soltar as notas
sem que haja dó em mim
sempre que o solfejo me diga
que também faz sol, lá, sim,
nessa vida dedilhada em frenesim,
pizzicato, sorriso e acorde,
acordando como quem beija,
vivendo como quem morde!
Claves, fusas e semifusas,
colcheias e semicolcheias,
partituras e tablaturas,
sempre cheias, nada feias,
nada disto atrapalhando
e sempre arriscando a voz,
para não estarmos sós,
mesmo estando apenas nós
e o violão na mão,
bastando afinar pelo diapasão,
disfarçar a rouquidão
e, mesmo sem ter um vozeirão,
cantar uma canção,
espantando, assim, a dor e a solidão,
enquanto o dia for dia!
… E quem não toca violão,
que cante e encante
e, por fim, sorria…

(Palavras minhas e imagem dehttp://freehdw.com/wallpaper/colorful-melody-100375.html)

#Felicidade  

 
...POR MOMENTOS, MÃO NA MÃO...

…aos poucos, ia recuperando a consciência. Os sons surgiam-lhe quase imperceptíveis, difusos, longínquos e não lhe apetecia, ainda, entreabrir as pálpebras ou, talvez, fosse tudo receio. O medo invadia-lhe a alma e entorpecia-lhe a vontade. Já teria terminado tudo? Teria corrido bem? Estaria livre de perigo? Iria ser, de novo, uma mulher irrequieta e pronta a viver? Voltaria a sonhar e a plantar esperanças em cada dia que passasse? Estaria alguém ali, junto à sua cama no hospital?...
– Júlia… estás a ouvir-me, Júlia?
Afinal, ela não estava sozinha! Aquela voz sussurrava-lhe junto à face e reconhecia-lhe o calor e o tom e continuava a falar.
– Já passou tudo! Já está! A operação correu muito bem!!!
Ao ouvir estas palavras, não conseguiu evitar um sorriso, pálido e assimétrico, quase um esgar, e descerrou as pálpebras.
Junto a ela, com ar de quem não dormia pacificamente há algum tempo, estava o seu companheiro de alguns anos. As lágrimas escorriam-lhe pela face abaixo, de alívio e felicidade.
Olhavam-se e, isto, bastava, de momento.
Nunca tinham tido uma vida repleta de amor e de carinho. Os dois eram muito diferentes, um do outro. Talvez, por isto mesmo!...
A mão dele procurou, como quase sempre, a dela mas, desta vez, ela não a afastou, com pretextos vários e sem nexo, como o fazia tantas vezes. Por falta de forças, por agradecimento ou levada, apenas, pelo momento, a mão dela recebeu a dele e segurou-a carinhosamente. Cerrou os olhos, de novo. A luz, apesar da cortina da janela do quarto do hospital estar corrida, ainda estava muito forte para si e feria-lhe as retinas.
Na intimidade da penumbra dos seus olhos fechados meditou, com a calma com que raramente o fazia, sobre a vida, a sua vida. A vida pode ser muito curta e insignificante mesmo, se não lhe der valor, se não for amada, se não amar! Tinha que aprender a ser feliz! Estava feliz! Sentia todas as suas feridas a fechar! Naquele momento, percebia que recuperava para a vida, para os sonhos e ilusões do dia-a-dia. Mesmo que voltassem a acontecer momentos menos felizes, ela ultrapassaria tudo com a certeza de que o peso dessa infelicidade nada significaria, comparado com a provação pela qual estava a passar…
-- Já merecias ter alguma sorte na vida, não é?! – concluiu ele, como se a sua presença na vida dela não significasse nada, como se não tivesse valor ou não lhe desse felicidade… e, talvez, esperando que ela lhe dissesse que já tinha tido muita sorte na vida, por o ter como companheiro!
Era assim que ele era ou talvez fosse assim pela quantidade de vezes que ela o tinha feito sentir assim!
Mas, ela gostava mesmo dele! Ele não o sabia, porque ela raramente o dizia e, mais raramente, ainda, o fazia sentir. Era fria e distante e parecia pouco carente, enquanto ele era ávido pela sua atenção, pelo seu contacto, pelas suas palavras e afecto… era semelhante a um cachorrinho e estava, naquele momento, mais feliz do que nunca: estavam ali, apenas, os dois, sem discussões, sem olhares recriminadores, sem repulsas e mão na mão…

(Palavras minhas e imagem de Leo Patzelt)

#Amor  

...APENAS ISSO ME CHEGA!
Recebe-me…
não necessito de euforias,
flores ou fantasias,
apenas preciso
que me recebas de alma aberta,
sem nenhuma palavra certa
mas com um simples e lindo sorriso…

Recebe-me no teu universo,
sintetiza-me num só verso,
idealiza-me como teu querubim,
deixa-me aconchegar em ti,
permite-me pernoitar
onde o Sol se costuma aconchegar,
e, assim, manter o calor
que ele amanhã virá buscar,
precisamente a este mesmo lugar
onde restará apenas o meu odor…

Como um doce licor,
saboreia a minha chegada
como se não houvesse amanhã
e o amanhã não tivesse uma madrugada,
para que a partida não seja desejada
nesta ventura pura e sã…

Recebe-me…
aconchega-me…
apenas isso me chega!

(Palavras minhas e imagem de autor desconhecido)

#Amor  


 
FADO TINTO
Bebemos na noite um fado tinto
com travo a saudade,
felicidade e afinco,
o coração fala e a tristeza cala
em silêncio numa sala
com uma luz ao fundo
a quem chamamos voz
calando meio-mundo
e enchendo os olhos de alma
de quem respira palavras e poemas
sendo, as dela, as nossas dores
e a nossas dores as suas penas…
E a voz fala da vida
como sendo a nossa!
É mar, distância, amor,
vento, sentimentos e dor,
solitária vagueia pelas mesas,
alimentando as almas acesas,
e lacrimeja-se nos olhos,
pinta-se em aguarelas
em becos de tristeza e vielas
e num fundo queixume
canta traição e ciúme
e aquela já não é apenas a voz,
aquela já somos todos nós!
Somos nós embarcando em caravelas,
num delírio de marinheiro,
partindo com um sorriso
e chegando com um adeus,
guerreando com os nossos eus
que pelejam por amores desencontrados
perdidos ou atraiçoados,
embalando a nostalgia,
inebriando os sentidos,
os que sentimos e os que um dia,
gostaríamos de sentir,
e, entre um ir e um vir,
nesta viajem de um povo,
há um cantar e um porvir,
uma fatalidade e um destino,
numa razão sem tino,
numa guitarra um trinado,
num percurso eternamente inacabado,
a que muito simplesmente
chamamos fado!

(Palavras minhas e imagem de capdevil13http://capdevil13.deviantart.com/)

#Fado #Portugal #Poesia  

 
FICOU EM MIM O LUAR...
Quis ver o mar,
pus meus pés a caminho
mas, ao lá chegar,
já a noite chegara,
de mansinho…

Sentei na areia
o corpo que procurou o mar
e a Lua Cheia
docemente ao meu lado
quis se sentar…

Olhei o mar,
diluí a alma pelo horizonte
e a luz do luar
inundou de paz
a minha fronte…

Fui ver o mar
e com ele me fiz feliz,
iluminou-me o luar
e eu fui todo aquele
que a noite quis…

Trouxe comigo o luar,
para trás na praia escura,
na areia ficou o andar
que a noite permitira,
em doce ternura…

Ficou em mim o luar...

(Palavras minhas e imagem de http://7-themes.com/6999018-moon-over-sea.html)

#Luar #Noite #Praia  
 
POEMA INACABADO...
Despedi-me de ti,
sem tu teres chegado…
abracei-me a ti,
sem me teres tocado…
nos teus olhos olhei,
sem me teres olhado
e triste eu fiquei
sem tu teres notado…
Rasguei-me em pedaços,
exaltaste maravilhada…
invoquei os meus cansaços,
sorriste descansada…
feri-me com as mãos
que nunca pousaste em mim
e foram esforços vãos
os que ditaram um fim…
O meu sorriso satisfeito
concluiu o poema inacabado…
nem ficou dor no meu peito,
nem o romance foi iniciado!

(Palavras minhas e imagem dehttp://wallpoper.com/wallpaper/blue-writing-253592)

#Romance #Poesia  
 
BASTA NÃO PISAR...

– Avô, porque é que és tão velhinho?
Assim mesmo, sem roupagem, sem artifícios, sem ironia ou maldade, apenas a pergunta, a curiosidade.
A interrogação, pelo inesperado e brusco que continha, subsistia no ar que envolvia os dois antípodas do tempo e no ar curioso que vestia o rosto infantil do fedelho.
– Porque é que sou tão velho?... bem… – depois daquele início inesperado de “conversa”, o avô recuperava a pose de adulto que tudo sabe e, acima de tudo, ganhava algum tempo, o tempo suficiente, esperava ele, para responder alguma coisa de jeito.
– Sou velho porque já vivi muitos dias, muitos meses, muitos anos. – a sua resposta tentava adequar-se ao nível simples da linguagem informal e pouco profunda do neto, enquanto olhava “raposamente”, de soslaio, por entre pestanas semicerradas, através das muitas dioptrias das lentes de uns óculos que aparentavam ter quase tantos anos como ele próprio.
– Então, e o que é que acontece aos velhinhos como tu? – aqui, o avô não deixou de notar na reiterada meiguice do “inho” já utilizado em ambas as perguntas e achou que devia explicar algo melhor a sua ideia. Afinal de contas, já havia muito tempo que não falava com alguém que se mostrasse minimamente interessado naquilo que ele pensava, fosse de si mesmo ou de outra coisa qualquer.
– Sabes, as pessoas como eu, aquelas que já vivem há imenso tempo, são como as folhas das árvores. Primeiro, são fortes, frescas e vistosas; mais tarde, começam a faltar-lhes a memória e a força e amarelecem, por dentro e por fora; por fim, caem das árvores, que as seguravam e onde tinham nascido e vivido, para o chão. Umas vezes, são as forças da natureza que as empurram mas, outras vezes, até parece que são elas próprias que se deixam cair, suavemente embaladas como um berço de bebé.
– Mas, no chão, elas ainda são folhas, não é!? – desta vez, o avô não conseguiu perceber se o neto estava afirmando, se pretendia fazer outra pergunta ou se estava apenas a concluir e fez-se silêncio.
Como sentisse que estava a ser observado, como um mamute pré-histórico é observado por um geólogo, o idoso e paciente homem decidiu entender as últimas palavras do neto como mais uma questão a desenvolver e continuou.
– Uma vez no chão, as folhas são levadas pelo vento, para longe da árvore onde sempre estivera, para um canto qualquer onde já outras folhas bafientas, sem préstimo algum, se encontram e outras continuam a chegar, num ritmo triste e desesperançado, esquecidas pelos outros e mesmo delas próprias… – o avô agora divagava, ao sabor da imagem amarga que acabara de criar e assim continuou. – Depois de juntas as folhas, pelo vento ou pela vassoura de alguém, secam, definham e quebram-se em pedacinhos, queimam-se ou são, de novo, pisadas pelas pessoas que, distraídas, nem se apercebem da sua existência…
Dito isto, o velhote acordou da sua história e apercebeu-se da existência do ar atipicamente austero e compenetrado na face do neto que, de imediato, ali lhe prometeu veementemente:
– Nunca mais vou pisar as folhas das árvores! – parecia que o rapaz se tinha comprometido para a vida, cedo demais, para uma viagem que achava que tinha compreendido. Não é isto mesmo que se espera de uma criança?...
Assim, ao ver o aspecto demasiado sério que a conversa tomara, o avô tomou a mão do circunspecto neto, como se cumprimentasse honradamente a mão de outro homem, e disse-lhe:
– Não é necessário não pisares as folhas, basta que nunca pises as pessoas!
Apertando a mão do avô, com a honradez própria de um homem sério e digno, sentiu-se algo confuso mas recompôs-se, limpando o sobrolho ligeiramente vincado pelo turbilhão de coisas que não sabia se entendia ou não, o neto rematou a conversa:
– Vou jogar à bola, queres vir? – e correu para o pequeno jardim da casa, pontapeando uma bola contra o muro e gritando entusiasmado com amigos e público imaginários, pisando a relva e as folhas amarelecidas pelo Outono prematuro, que tinham já tombado das árvores que antes as seguravam.
– Já vou, já vou… – murmurou o avô, falando mais com um amigo imaginário, que já o acompanhava há muito, do que com o neto, que já nem o ouvia – devagarinho mas ainda vou. Este jardim precisa ser limpo. As árvores, este ano, perderam mais folhas e, ainda, mais cedo do que habitualmente…

(Conto meu e imagem de http://wide-wallpapers.net/feet-jump-purple-socks-orange-leaves-on-the-ground-wide-wallpaper/)

#Respeito #Velhice #Contos  

ELA E ELE... ELE E ELA...

Ea era, de todas,
a mais bela!
Era aquela
que todas queriam ser,
caminhava
como uma gazela
e era bela sem o saber…

Ele era o centro
de toda a atenção!
Ele e o seu violão
era o que todos queriam ser,
musicando
tocava o coração
e era belo sem o saber…

Ela e ele,
ele e ela,
os dois juntos num momento!
Ela era aguarela,
ele era o sentimento,
ele tocava o violão
e ela era a sua canção…

Hoje ele não sabe dela,
hoje ela não sabe dele.
Ficou a memória bela,
do romance, diadema,
da saudade e emoção,
pois ela é o seu poema
e ele é boa recordação…

Ela e ele,
ele e ela!
No violão dele,
em poema, ficou ela;
nos olhos dela,
em poema, ficou ele!

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.look.com.ua)

#Romance #Saudade #Poesia  

 
DA MOURARIA AO CASTELO...
Em ti mareei
como fruto da placenta
de uma mãe,
que escorreu suas águas,
sem mágoas,
para as águas do Tejo,
com um beijo…
e, do seu grito,
aflito, bendito,
se fez pregão
voz de ardina,
e dessa czarina
nasceu, triunfou
uma coisa boa
que assim desaguou
no coração de Lisboa!

Em ti vadiei,
percorrendo as colinas,
que tanto amei,
sorrindo às varinas,
faces cor de romãs,
anoitecendo nas manhãs
a que chamam vielas,
esquecendo-me nelas…
saboreando pecados,
comendo castanhas,
ouvindo os fados
vindo das entranhas
de uma boémia voz,
desencontrando-me,
e encontrando-me em ti
sempre que em ti me perdi!

Em ti sonhei
viver em ti sonhando,
ser um rapaz da Mouraria,
do Bairro Alto, o rio olhando,
amando com nostalgia,
da Bica até Alfama
navegando noite e dia
sem pôr os pés na cama,
o olhar pousado na Graça,
e o coração na Madragoa…
e a saudade, que não passa,
todo o meu ser povoa,
e neste meu eterno belo,
sentir mais que sentido,
quero entrar nas portas do Castelo
e libertar o meu ser incontido!

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.orangesmile.com/travelguide/lisbon/photo-gallery.htm)

#Lisboa #Portugal  
 
ASAS DE GAIVOTA NO OLHAR...
Tinha nos olhos
as asas de uma gaivota
e, nos seus dedos,
nasciam amoras carnudas!
Dos cabelos fulgiam ondas de trigo
e os lábios gritavam desejos...
Seu corpo era poema aberto
em noites que só findavam
quando outras noites começavam...
e tinha nas palavras
a vontade de nunca partir
e, nas asas, o desejo de o levar...

Partiu sem vontade de partir
e ele ficou desejoso de ir,
estrangulando entre os dedos
uma amora carnuda
e pairando no seu olhar
as asas de uma gaivota...

(Palavras minhas e imagem de www.look.com)

#Despedida #Amor #Indecisão  

 

RESPEITO À DIFERENÇA!
Nasci sem pedir, nem escolher,
nasci homem mas podia ter nascido mulher,
aliás, se é de uma mulher que nascemos,
não entendo qual a diferença,
entre um ser e outro ser,
para que um ser seja mais e o outro menos!
Não escolhi uma cor para nascer!
Não quis ser branco, nem preto,
ou uma outra cor qualquer,
não quis nascer índio nem cigano,
não sou o que querem que seja,
sou simplesmente um ser humano!
Se sou idoso não mereço ser esquecido,
se sou jovem, porque não me deixam sonhar?
Nasci em terra, podia ter nascido no mar,
nasci aqui, podia ter sido noutro lugar,
falo um idioma, podia ser um outro
se nasci pobre, não é razão para me humilhar,
se o meu corpo não é “perfeito”,
alguém me diga o que é a perfeição!
Não quero ser distinto por etnia ou raça,
nem que me perguntem a religião!
Será que toda a “diferença” passa
se tiver um algum dinheiro na mão?
Gostaria de saber qual a razão
porque tenho que ser catalogado,
etiquetado, separado, diferenciado,
classificado, desqualificado, discriminado?

Sejamos quem somos e aceitemos a diferença!
Não nos respeitarmos, é a nossa pior doença!

(Palavras minhas e imagem dehttp://www.floridajusticeinstitute.org/)

#Discriminação #Respeito #Igualdade