Facebook - Vítor Costeira

 Coletânea das postagens no Facebook - Vítor Costeira 2015 

ELA E ELE... ELE E ELA...
Ela era, de todas,
a mais bela!
Era aquela
que todas queriam ser,
caminhava
como uma gazela
e era bela sem o saber…

Ele era o centro
de toda a atenção!
Ele e o seu violão
era o que todos queriam ser,
musicando
tocava o coração
e era belo sem o saber…

Ela e ele,
ele e ela,
os dois juntos num momento!
Ela era aguarela,
ele era o sentimento,
ele tocava o violão
e ela era a sua canção…

Hoje ele não sabe dela,
hoje ela não sabe dele.
Ficou a memória bela,
do romance, diadema,
da saudade e emoção,
pois ela é o seu poema
e ele é boa recordação…

Ela e ele,
ele e ela!
No violão dele,
em poema, ficou ela;
nos olhos dela,
em poema, ficou ele!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

RESTOU-ME O MAR...
Inventei proas, inventei caravelas,
inventei o vento soprando velas,
inventei rotas e navegadores,
pesadelos e sonhadores,
escorbuto e Infante,
rum e sextante,
bebedeiras e agonias,
desvarios e alegrias,
Estrela do Norte,
vida e morte,
Cruzeiro do Sul, esperança,
tempestades e bonança,
sereias e Adamastor,
Amizade e Amor…

Inventei tudo e nada inventei
e, quando as descobertas findei,
num atroz e duro esgar,
percebi o quanto vazio fiquei!

Restou-me o mar…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

AMAR-TE...
Amor…
mar, amar, amar-te,
aqui ou em Marte,
em qualquer parte,
imaginar-te,
sonhar-te,
apreciar-te,
contemplar-te,
desenhar-te,
pintar-te,
embelezar-te,
esperar-te,
olhar-te,
falar-te
desejar-te,
agradar-te,
conquistar-te,
abraçar-te,
beijar-te,
arranhar-te,
cansar-te,
fatigar-te,
presentear-te,
eternizar-te!!!

Adorar-te,
realizar-te,
venerar-te
com arte!

Enfim, amar-te!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Fuente del Idilio del Amor - Charlotte Yazbek

VEM COMIGO
Vem comigo
ouvir as estrelas
nas noites em que não as vemos,
esperar que as manhãs cheguem
nas horas em que não findámos nelas,
cerrar os olhos e ver
cometas redesenharem o céu
e tremular a luz das velas
em azul cobalto
no agitar das sombras irrequietas
na parede do nosso quarto.

Vem comigo
molhar os pés na água do mar
e entender o que ele nos diz,
rebolar como o vento
pela areia solta da praia
e perfumar o cabelo com algas,
chapinhar pedras nas ondas
e contar por cada salto um sonho,
absorver o poente e esperar o nascente,
contando histórias desconhecidas,
inventando todas as palavras
de todos os sentimentos que as esperam.

Vem comigo
fazer uma linda viagem pelo Universo,
dar o sentido do maravilhoso
a mais um intenso verso
e descansar desta eterna viagem
nos braços que nos aguardam
com um sorriso e um abraço na bagagem.

Vem comigo ser feliz!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

APENAS PARA TI...
Foram tantas as pedras
que encontraste pelo teu caminho,
que decidiste seguir o conselho
de quem sabia muito mais do que tu
e, assim, com elas construíste um castelo…
E foram tantas e tantas
as pedras que foste recolhendo
ao longo do teu longo caminho,
que os muros do teu castelo
em direcção ao céu foram crescendo,
numa oração ou apelo,
de tal forma que só paraste
quando já só tinhas uma pedra no chão…

Por fim, descansaste em cima da pedra
e em teu redor olhaste
e, para imensa surpresa tua,
o castelo era enorme e disforme
e, dentro dele, em cima da última pedra,
sentado e extenuado, estavas tu,
encerrado na multidão maciça de rochas…
Tinhas acabado de construir um castelo,
com as pedras que encontraste pelo teu caminho,
e olhavas a única estrela que conseguias ver,
sentado em cima da única pedra
que, junto a ti, ficara enclausurada contigo…

Mas naquela imensa desolação, não estavas só!
Tinhas uma pedra que te servia de apoio
e que te ajudaria a derrubar as enormes muralhas
e tinhas uma estrela cintilando esperança
que te guiaria como cicerone e farol,
apenas para ti…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

Mote: Este poema foi escrito baseado na obra "Pedras no caminho" de Fernando Pessoa, com o intuito de mostrar um pouco de esperança para amigas e amigos que se sintam tristes, desiludidas e sem esperança.

HAVERÁ...?
Vivo as noites sem sono algum
e acordo dentro dos sonhos que não quero...
a água que bebo lembra-me o sal de lágrimas antigas
e o ar que inalo corrói-me como amoníaco...
tenho saudades de pessoas que nunca tive
e sinto emoções que ainda não têm palavras...
escrevo gatafunhos que apenas eu entendo
e o meu discurso é quase sempre esdrúxulo...
os meus olhos marejam facilmente
e a minha pele arrepia-se com o calor...
sorrio sempre que me vejo no espelho
e sinto-me mais novo sabendo-me mais velho...
tenho vozes de pessoas dentro de mim
que nunca plantaram um sorriso no meu peito...
evito ver filmes porque tenho medo que se tornem reais
e sinto a minha realidade transformar-se em filme...
sinto-me só no meio de gigantescas multidões
e fecho a cadeado a, muito minha, felicidade...
sou mais uma variável em fórmulas pouco matemáticas
e uma constante nos irrequietos tropeções da vida...
acredito imenso que um dia acreditarei
mas esbarro nos obstáculos que eu construo...
defino-me em substanciais pronomes indefinidos
e visto-me ocasionalmente em vagos adjectivos...
defino-me indefinidamente não me definindo
e na minha indefinição me findo…

Haverá mais alguém assim,
para além de mim…?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kush

ELE ERA UM PÁSSARO DIFERENTE
Ele era um pássaro diferente
tinha asas mas não voava
e o seu bico apenas cantava
as histórias que os outros pássaros
gentilmente contavam
em volta da sua gaiola dourada
e mais nada de nada
ele podia saber.

Tinha a porta aberta
para poder entrar e sair,
viajar, voar,
chegar e partir,
mas não sabia se sabia voar,
limitava-se a ficar
e a cantar o que lhe contavam.

E eram histórias além-rio,
onde balançava adormecido um navio,
histórias que traziam sabor a frutos frescos
e aromas a erva viçosa,
de margens, campos e uma camponesa airosa,
histórias onde os sons se confundiam
numa opereta deliciosa
que ele não sabia entender,
para além do que ouvia dizer.

Ele era um pássaro diferente
mas os ecos das coisas distantes
eram comuns e sempre iguais
aos que sempre foram antes
e a porta continuava aberta
mas ele indeciso vacilava
entre a comida à hora certa
e a liberdade que não saboreava.

Queria ouvir histórias diferentes,
queria agora ser ele uma história,
abrir as asas e aprender a voar
e guardar num canto da memória
tudo o que veria para contar
a algum pássaro numa gaiola
que dele se faça ouvinte,
para que do seu bico
se solte um canto que tilinte
e que suas asas abertas
sejam liberdades despertas!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Recolhida da Internet

O BAILE SONHADO...
Distraída, ela olhava
para o frio e vago nada
que à sua volta rodava
no imenso salão de baile…
com olhos meio entristecidos,
os ombros já arrefecidos,
finamente protegidos,
por tricotado e rendado xaile…

Eis, então, que ele aparece
do nada, feito sua prece,
curvando-se, sua mão oferece,
e convida-a a dançar…
então, ela fez-se águia-real
nos braços dele, em voo triunfal,
desenhando uma dança surreal
sustendo toda a vida no respirar…

Todas as luzes da Terra se apagaram,
apenas as estrelas no céu brilharam,
cúmplices, as orquestras pararam
e, do som da música que se calou,
os olhos nos olhos amaram,
os corpos nos corpos colaram
e os pés rodopiando no ar dançaram
enquanto o suave sonho durou…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

GOSTO DE AMANHECER...
Gosto do amanhecer...
sentir que estou a renascer
como um cavalo selvagem
a galope desenfreado
pelas pradarias da vida,
a inspirar nas narinas,
a fresca brisa matinal
suavizada pelas primeiras
e mornas sensações de luz!

Gosto do amanhecer…
acordar sabendo que mais um dia terei
para me sentir rei
de um reino sem coroa nem idade,
que flutua entre um princípio e mim,
entre aquele que já não sou e um fim,
e que me foi dada nova oportunidade
para fazer o que antes não fiz,
ser e fazer alguém feliz!

Gosto do amanhecer
porque gosto de amanhecer,
de renascer,
de perceber que poderei ser
alguém muito melhor
sempre que acordar
e poder aprender a dizer de cor
a cor do que é belo em meu redor…

Gosto de amanhecer…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

A LINHA QUEBRADA
Atei a ponta de uma linha
à proa de um navio
ancorado no cais deste rio
que me enche os olhos de sal
e a alma de bonança…
Atei a outra ponta
ao meu dedo indicador
com a força da esperança
de um homem sonhador,
até que as águas acordaram,
o navio se moveu
e eu…
ali fiquei a olhar,
o barco que no horizonte desapareceu,
levado para outro mar,
e a linha que no meu dedo ficou…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

JAMAIS TE PODERIA ESQUECER...!
É para ti que eu escrevo, neste momento…
Para ti, ser humano inventado
num intervalo de tempo
onde o teu corpo foi criado,
amassado, moldado e trabalhado em suor
pelo labor de dois corpos em conjunção,
na demanda pelo gérmen do amor!

É para ti que eu escrevo, neste momento…
Para ti que floriste vida
num campo aberto ao sonho e à ilusão sã
onde a noção de espaço era reduzida
a simples canteiros de salsa e hortelã…

Escrevo-te, neste momento,
apenas para te dizer que o esquecimento
não tem molde de fabrico para as minhas mãos
e não é a cor da tinta
com que eu gosto de escrever o teu nome
nos bilhetes e cartas que não recebes de mim!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Pixelnase

A SINFONIA QUE BEETHOVEN NÃO ESCREVEU...
Vem, sombra apetecida,
cobrir-me o corpo adormecido
por onde, divertidos, pulam gafanhotos castanhos,
de ferida em ferida,
transportando nas patas o pólen dos cactos
e das ervas que se depositaram nas sobrancelhas…

Vem, sombra apetecida,
fechar a mão que eu deixei aberta,
num lapso imperdoável,
para quem os lapsos próprios sempre se evitaram,
mesmo quando se fica a olhar um espelho
com um copo vazio que na mão que o perde…

Vem, sombra apetecida,
desnudar-me os membros, puritanamente tapados,
de forma a que os pelos possam crescer
maiores e ainda mais fortes que nunca,
até que me cubram os olhos e as narinas
e eu não possa ver ou sentir que aqui estou…

Vem, sombra amiga,
esconder-me das flores que me ofereceram,
dos poemas que me dedicaram,
das lágrimas que me choraram,
das pessoas que me quiseram e amaram,
do Sol que me queima as pálpebras,
do sal gelado, enrolado na língua cortada…

Vem, vem contar-me os segredos
que existem para além da Grande Porta,
o segredo da nascença,
o segredo da Vida,
o segredo da Morte!

Vem, sombra querida, amiga apetecida,
depositar no meu peito
a sinfonia que Beethoven não escreveu,
a dos surdos que morrem grávidos de tristeza!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

...QUANDO JÁ NÃO FIZERES PARTE DE NÓS...
… e quando esse dia chegar…
não me abandones de repente,
antes, deixa-me aos poucos,
sai pé ante pé, maciamente,
como não me querendo acordar,
apenas o bastante para a minha dor
não me saber sozinho…
e, assim, os lençóis da nossa cama
deixarás em calculado desalinho,
mentindo uma última noite 
de doce amor intenso.

… e quando esse dia chegar…
diz adeus de mansinho,
como não me querendo acordar,
apenas o bastante para a solidão
não acudir, nem o meu dia agitar.
E quando, por fim, num último gesto,
passares a umbreira da porta,
fecha-a levemente,
para me deixares docemente imerso
no meu sono inconsciente.

… e quando esse dia chegar…
espalha as marcas da tua ida
sem que eu sinta a despedida,
deixando na xícara do café
a marca do batom mais forte,
aquela com que desenhas sonhos,
no percurso entre a minha boca
e o nosso mais delicioso prazer,
desenhando também a mesma marca
no meu rosto ainda adormecido!

… e quando esse dia chegar…
apenas darei por ele,
pela sua presença tão atroz,
quando já não fizeres parte dele,
quando já não fizeres parte de nós…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

ALMA DE INFANTE
Em cima desta pedra,
que se move ao menor gesto,
busco e rebusco,
através da densa neblina,
com os meus olhos de corvo,
símbolo da minha cidade,
uma silhueta que tarda!

Feito Infante frustrado,
sem já nada ter para descobrir,
terras, povos ou religiões,
encontro-me a mim mesmo
a cada estremecer da Terra,
a cada movimento da pedra,
a cada grão de areia fina
vertida pela agulheta do tempo.

Falta-me uma nau…
Preciso de um madeiro oco
para atravessar o leito deste mar de gente
e chegar à margem
do meu contentamento!
Quero ver as estrelas,
saber para que lado fica o Norte!

Inventei o sextante
e estou perdido no passado!
Faltam-me bússolas,
mapas ou narrações antigas
e só vejo silhuetas que passam,
com os olhos de corvo,
símbolo da capital do sonho,
e a minha alma de Infante,
navegar de um mar sem tesouros
e de rotas já viciadas…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

INVENTEI-ME!...
Descobri a Lua,
descobri o mar,
descobri que as aves voam,
que a cerejeira dá flor,
que o azar não tem cor
e que as palavras magoam!

Descobri o Sol,
provei o sal,
arrepiei a pele,
expulsei a voz,
rodopiei em carrocel,
fiz-me casca de noz,
nau e caravela,
e, por fim, 
desaguei em mim!

Descobri, então,
que nada tinha descoberto,
que tudo estava em aberto,
que nada do que eu sabia
estava certo,
que nada via,
nem longe nem perto!

Descobri o mal,
descobri o bem!
Posso agora gritar:
– Para quê pai?
– Para quê mãe?
– Acabo de me inventar!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

O PRIMEIRO LIVRO DE UM ESCRITOR SOLITÁRIO
(Excerto adaptado de um conto meu)  
Acordou de forma suave, como quem reabre os olhos após os ter cerrado momentaneamente. A noite passou-se num ápice e não se recordava sequer de qualquer sonho que tivesse tido. No centro da cama, envolto na penumbra que se desanuviava à medida que o olhar rotinado se adaptava ao ambiente do quarto, sentia-se no centro do Universo, pois era assim que ele o queria imaginar: escuridão e silêncio. Propositadamente, não incluía rochas, nem movimento, nem gravidade ou a ausência dela, nem outros elementos que ele sabia existirem no espaço sideral. Era assim, exactamente, que ele queria ver as coisas, naquele momento. Saboreou aquela imagem e quase que voltava a adormecer, no torpor inebriante do prazer!...
Resoluto, saiu da cama, lavou os olhos como os gatos, agarrou uma peça de fruta na cozinha e dirigiu-se à sala onde habitualmente confeccionava uns textos a que, com alguma imodéstia, ele chamava contos. Gostava de pensar que assim eram, embora nunca os tenha considerado, verdadeiramente, como tal, uma vez que sempre que os relia, encontrava neles fraquezas, ausência de imagens e de figuras de estilo, estrutura frágil e vocabulário pobre, entre outros defeitos, que o impediam de acreditar poder estar a fazer o mesmo que os grandes mestres da literatura fizeram antes. Seriam, apenas, singelos e ingénuos guiões. No entanto, talvez todos os impedimentos que ele encontrava nos seus textos fossem, tão-somente, uma particular e pessoalíssima forma de escrever, de contar algo, a que alguém um dia pudesse chamar “estilo próprio”.
Com a peça da fruta já comida e o caroço bem roído, decidiu sentar-se no sofá em frente à janela de onde se podia admirar uma paisagem tranquila e quase campestre. Pegou no pouco material necessário, papel e caneta, e começou a ordenar ideias. Ocorreu-lhe que poderia utilizar o computador e, dessa forma, poupar trabalho, mas gostava de escorrer as palavras em tinta e de sentir o papel ser depositário dos hieróglifos quase indecifráveis que as representavam. Para além disso, sentia-se mais familiarizado com a escrita humanizada e tradicional, sentia-se mais perto dos escritores antigos, os tais cujas obras eram continentes e, a dele, uma ilhota perdida num oceano de anexos. Solitário, como a sua obra, deu início ao trabalho, e começou o seu primeiro texto
–“ Acordou de forma suave, como quem reabre os olhos após os ter cerrado momentaneamente…”

Autor: Vítor Costeira
Imagem: iLEEH

POEMA PARA TI!...
Seja o que for que a vida tenha para te dar,
entre a esperança da partida 
e a alegria da chegada,
nunca deixes de sonhar!
Nunca deixes de acreditar
que a vida também se fez para te festejar
e que os sonhos nascem como as flores,
em qualquer tempo, em qualquer lugar!

Podem chamar-te louco!
Podem dizer que és
aquilo que sabes bem que não és,
porque, no fundo, sabes que és aprendiz
e sentes-te assim muito feliz!

Nunca deixes de sonhar
porque, se um dia isso acontecer,
podes continuar a respirar,
pode o Sol continuar a aquecer,
podem os rios correrem para o mar
mas tu já pouco tens para viver!
Tu estás oco… não, apenas, triste
mas oco e vazio…
estás como morto!

Que nunca alguém te corte o sonho rente!
Ninguém é de ninguém!
Viver sem um sonho é ser refém,
ser propriedade de outro ser!

Viver sem um sonho é não viver!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

...E POR QUE NÃO...?
… e, por que não?
… tocar as cordas de um violão
e soltar as cordas da voz,
cada uma na sua vez,
num tom de quem tem,
talvez,
o condão de tocar,
para além do violão,
a pele do coração
e fazer estremecer
qualquer ser
que não seja
aquilo que apenas se veja,
e não veja
apenas aquilo que se vê…

… e, por que não?
… soltar as notas 
sem que haja dó em mim
sempre que o solfejo me diga
que também faz sol, lá, sim,
nessa vida dedilhada em frenesim,
pizzicato, sorriso e acorde, 
acordando como quem beija,
vivendo como quem morde!

Claves, fusas e semifusas,
colcheias e semicolcheias,
partituras e tablaturas,
sempre cheias, nada feias,
nada disto atrapalhando
e sempre arriscando a voz,
para não estarmos sós,
mesmo estando apenas nós
e o violão na mão,
bastando afinar pelo diapasão,
disfarçar a rouquidão
e, mesmo sem ter um vozeirão,
cantar uma canção,
espantando, assim, a dor e a solidão…

… E quem não tocar violão, 
que cante e encante,
enquanto o dia for dia,
e, por fim, sorria…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

MARIA, MENINA, MÃE, MULHER!
Maria nasceu num bonito lar,
passarinhos em redor da casa a chilrear,
o cachorro lá fora sempre a ladrar,
no rádio de pilhas, a novela a desenrolar,
o cheiro a boa comida viajava pelo ar,
os irmãos mais velhos gostavam de brigar,
a avó no seu canto todo o dia a bordar,
o pai a ter que partir e a ter que chegar,
a mãe todo o dia a limpar e a arrumar,
e a vida no bairro sempre a passar…

Maria nasceu, menina bonita!
O dia amanheceu e sua mãe aflita!
Seu grito de dor o bairro acordou,
a esperança, o Amor, de seu corpo brotou!...

Maria cresceu num bonito lar,
passarinhos voavam no seu olhar,
o cachorro lá fora por si a chamar,
no rádio de pilhas o futebol a jogar,
o cheiro à comida preferida no ar,
os irmãos mais velhos saíram para namorar,
a avó no seu canto por si a rezar,
o pai a partir e a tardar em chegar,
a mãe escondida num canto a chorar
e a vida no bairro continuava a passar…

Maria cresceu, menina bonita,
no olhar um sonho, no cabelo uma fita!
Sua sombra na rua e ela tão vaidosa,
seu corpo cheirava e ondulava como uma rosa…

Maria casou num bonito lar,
passarinhos cantavam sobre o altar,
o cachorro lá fora era outro a brincar,
o rádio de pilhas ainda a funcionar,
a comida da boda feita para regalar,
os irmãos mais velhos com filhos a cuidar,
a avó já não estava no seu canto a minguar,
o pai a partir e ainda a chegar,
a mãe a cantarolar para não chorar
e a vida no bairro a passar, a passar…

Maria casou, mulher tão bonita!
Seu noivo jurou e ela acredita!
Uma menina nasceu, Maria a quis…
a menina cresceu e Maria feliz!

Maria envelheceu num bonito lar,
passarinhos encantavam longe de seu olhar,
outro cachorro lá fora cansado de uivar,
o rádio de pilhas ao lixo foi parar,
o cheiro da comida da filha vogava pelo ar,
os irmãos mais velhos tinham ido a finar,
Maria era a avó no seu canto a orar,
o pai tinha partido para não mais voltar,
sua mãe tinha ido com seu pai descansar
e a vida no bairro não parava de passar…

Maria morreu, senhora tão linda!
O dia entristeceu e sua filha aflita!
Sem gritos nem dor, o bairro ignorou,
a esperança, o amor, com seu corpo viajou!

Maria morreu num bonito lar…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

UM POEMA DENTRO DE UM SONHO
Hoje acordei com um poema em mim!
Hoje acordei contigo dentro do poema!
Hoje acordei dentro de um poema!
Hoje acordei dentro de ti
e, dentro de ti,
de novo adormeci,
para o sonho repetir …

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

BOA-NOITE, AMOR!
O dia cerra as pálpebras sobre nós
permitindo melhor apreciar as estrelas,
e oferendando a visão única
que apenas a noite pode vestir,
um manto terno, misterioso e protetor,
que roça de leve na nossa imaginação,
altera a velocidade do ritmo do coração
e humedece de suor a nossa pele,
enquanto os dois ansiamos a sua chegada,
pálpebras cerradas e a face maravilhada!

Abraçamo-nos e, cúmplices, sorrimos,
calmos e ansiosos no mesmo tempo,
e entramos aconchegados noite dentro,
bebendo o som que um violoncelo solta,
enquanto um fado tinto escorre líquido
pelo bocal aberto de uma taça generosa.
As roupas ganham vida própria
e abandonam os nossos corpos ardentes,
espalhando-se pelo chão da casa,
como sinais da necessidade erótica
com que respiramos os momentos!

Quando reabrimos as persianas do olhar,
já o mapa estrelar não está na mesma posição
e a Lua brinca às escondidas connosco,
escondendo sempre o seu lado negro,
e descontraímos os músculos e os sentidos
nos corpos que em repouso se diluem no chão
e que, quase líquidos, esperam novo e fresco alvor…

Olhamo-nos, sorrimos e saudamo-nos:
– Boa-noite, amor!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Assinatura ilegível

AMANHÃ, SERÁ NOVO DIA!
Duro dia
que tanto dura,
que a distância amplia
e o tempo amargura!
Dia duro,
duro como diamante,
diadema,
dia feito poema,
ao correr da pena,
num quase instante!

Dia após dia,
diáfano manto
adia a agonia
e permite o encanto,
semeia a fantasia
e, num momento final,
diagonal,
o dia cessa…

Sem pressa,
o dia atravessa
o dialecto dos sentidos
e dialoga comigo,
em diáforas
e metáforas
que terminam diapasão,
em plena vibração
ritmando o coração,
numa vadia alegria…

Amanhã, será novo dia!

Autor: Vítor Costeira

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CIGARRA!
A cigarra, cegarrega,
nem todo o pássaro pega,
tem imenso talento
mas também tem alento,
emoção e sentimento
e, no longo Verão,
ela cuida das coisas
do seu coração…

O macho canta a canção,
a fêmea certa vai ouvir,
e, no fim da relação,
suas ninfas vão florir,
repousar no calor da terra
que as vai proteger,
amar e fazer crescer
metamorfosear e renascer…

Num acto de devoção,
a fêmea oferece sua vida
com Amor e emoção,
sem forças mas decidida,
às vidas que faz nascer
sabendo que o fim da vida
será a sua coroação,
rainha mais que querida!

Um dia a ninfa faz-se cigarra,
um dia a ninfa faz-se Mulher,
e nem é preciso uma guitarra
para o macho que aparecer,
basta que ele saiba cantar
toda a canção que ela quer,
com devoção, sem causar dor,
lhe dê prazer, lhe dê Amor…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

O QUE FAZES TU COM A TUA LIBERDADE?...
Então… és livre…!
… e o que fazes tu, com a tua liberdade?
Tens mais tempo?
Tens mais espaço?
És feliz?

Levantas-te de madrugada cerrada, 
para assistir ao raiar do Sol,
no topo de um monte bem alto?

Interessas-te pelos voos que as cegonhas fazem
ou estudas o gloterar dos seu bicos,
quando comunicam entre si?

Fazes voluntariado num hospital
e acompanhas um doente terminal
lendo-lhe um poema à sua escolha?

Ensinas uma criança pobre
toda a matemática que ela precisa saber
para que um dia não passe fome?

Esqueces-te de te alimentares
apenas porque passas as horas da refeição
distribuindo alimentos a quem mais precisa?

Integras decidido uma manifestação
defendendo aqueles que são marginalizados
por uma sociedade com pessoas como tu?

Ajudas a cultivar uma horta social
quando sabes muito bem 
que nada necessitas tirar dela para ti?

Distribuis todo o conhecimento adquirido
por todos aqueles teus semelhantes
que nem tão-pouco te conhecerão algum dia?

Retornas ao topo do mesmo monte alto
para poderes sentir bem forte
a insignificância minúscula do ser desasado que és?

Passas o final de uma noite chuvosa e fria
oferendo um abraço, um sorriso e um pão
a quem vai dormir ao relento na lúgubre rua?

Vais conseguir adormecer na tua cama
sem abençoar e agradecer o teu conforto,
mesmo que não sejas uma pessoa de Fé?

Ou passas sempre o teu tempo livre
a olhar o reflexo do teu rosto
no monitor plasmado do teu computador?

O que fazes tu com a tua liberdade?
Tens mais tempo?
Tens mais espaço?
És mais feliz?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

AMOR ADIADO...
Desenhou, com traço fino,
num papel de seda perfumado,
as palavras mais bonitas
dos sentimentos mais secretos
existentes em si,
como homem apaixonado.

Esmerou-se na linguagem cuidada,
usando imagens maravilhosas
e, para bem completar a mensagem,
redigiu um pequeno poema,
onde cantava hinos à vida,
por amar e ser amado!

Falou do Sol e do sal da sua sede!
Falou do mal e do mel do seu amor!
Falou de flores e de beijos mordidos!
Falou deles, como de cristais
ou como de cerejas no ramo!

Terminou com beijos e saudades,
saudades e beijos!
Dobrou o papel cuidadosamente
e, tremendo, guardou-o na gaveta,
junto aos muitos outros…
e, uma vez mais, fechou-a...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

O MELHOR POEMA
O melhor poema
habita nas palavras que não são ditas!

As palavras no intervalo entre silêncios,
no espaço entre dois gestos
em dessincronizados movimentos,
nos eclipses siderais
que entardecem o momento,
do encontro entre olhares que falam,
que exaltam a vida!

O melhor poema
abraça os sussurros segredados,
os gemidos sem fonemas
vestidos de amor e prazer,
de dádiva e de partilha,
os sons de uma melodia
que ligam a noite ao dia,
o ranger das rodas do tempo
que acompanham o erótico desenho,
das sombras chinesas
projectadas nas paredes,
onde ficam arquivadas as marcas
do suor dos corpos a elas encostados!

O melhor poema
descansa na linha do horizonte
onde se casam o céu e o mar,
onde as montanhas se elevam
altivas e poderosas como um altar,
onde as planícies se espraiam
e pintam quadros irrepetíveis!

O melhor poema
não chega a ser escrito pela pena,
extensão dócil na mão do poeta,
reside em si próprio
e aguarda eternamente
que alguém melhor o defina.

O melhor poema
é a vida, são os seres que nela se deleitam,
e aquilo que as liga
e que fazem dela
o que de melhor elas têm e são
com sangue e fervor!

O melhor poema é o Amor!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

O TEU BEIJO...
Foi uma nesga de Sol,
foi um conto de fadas,
foi um si bemol,
foram palavras aladas,
foi um prelúdio maravilhoso,
foi um pêndulo esquecido,
foi um gesto formoso,
foi um olhar querido,
foi um movimento electrizado,
foi um sopro de sonho,
foi um saudoso fado,
foi um amanhecer risonho,
foi uma vida completa,
foi um cometa,
foi um vulcão,
foi um risco,
foi um trovão,
foi um asterisco,
foi um desejo!
Foi tudo isto,
foi o teu beijo...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

HOJE, SEREI EU O TEU SILÊNCIO...
Silêncio…
sentir-te neste momento
tão inesperado,
sem que eu me sinta triste, só
ou desolado…

saber-te a querer um cais
onde possas aproar
e prender amarras,
vindo e estando tão tímido,
não ficando dilacerando,
apenas passando e afagando,
suavemente,
fazendo parte de mim…

silêncio tão meu,
sempre que em ti me abandono
quando por ti espero ou procuro
e, em ti, me reencontro

mas , hoje, não…
sei-te junto a mim
mas deixas-te aqui ficar
como quem espera atenção,
sem ter que a pedir.
Sinto que hoje és tu que me procuras,
que hoje sou eu quem te conforta
e faço companhia…

contemplo-te e és meu céu,
diz tudo aquilo que tens para falar,
para comigo desabafar…
hoje, o silêncio serei eu…

fica aqui a meu lado
todo o tempo que quiseres
e desfruta de mim,
confia em mim,
como a minha alma em ti confia,
e faz como eu sempre faço,
transborda toda a tua melancolia
para o meu regaço…

abraça o meu abraço
e deixemo-nos assim ficar.
até levantares amarras
para aproares, de novo, ao mar…!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

COMO SE ESTIVESSES AQUI...
Como se estivesses aqui
acordei e afaguei o outro lado da cama,
tentando sentir o calor,
a forma e a chama,
o sabor e o odor
que o teu corpo segrega
e a que nunca se nega…

Decorei a mesa em singelo
e dobrei a dose da manteiga
na superfície generosa da torrada
que, num delicioso apelo,
se espalhou em suave seiva
no quente da madrugada…

Falei, ri, brinquei,
os mesmo rumos eu planeei,
enfeitei o momento com uma valsa,
viajei pelos sonhos matinais,
reguei os canteiros de hortelã e salsa
e entendi os pássaros como jograis…

Depois, o dia foi passando,
a água nos rios foi deslizando,
o vento foi virando as folhas no chão,
o sangue foi partindo e chegando ao coração
e um novo poema eu escrevi
como se estivesses aqui…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Erik Madigan Heck

A MEIO-CAMINHO...
Quero viver a vida inteira contigo,
de uma só vez,
e permitir que faças da minha vida
tudo aquilo que quiseres,
pois sei que apenas queres
tudo aquilo que feliz me fizer!

Quero encontrar-me contigo onde estás,
que me encontres onde estou
ou, indiferentemente, a meio-caminho,
pois estamos onde o outro está, 
pois sei que somos o que o outro é,
completamo-nos com algas,
preenchemo-nos com estrelas-do-mar…

Quero sorver deliciado
o delicioso sentido do império dos segundos
que cadenciam o ritmo acelerado do coração,
quando, a meio-caminho
entre nós e um destino,
subirmos alados aos céus
e, numa vertigem vertical descendente,
largarmo-nos em voo picado
em direção ao mar e aos corais
que, generoso e amante, se fará ninho
e nos acolherá sem perguntas!

A meio-caminho um do outro
nos encontraremos num poema sem rima,
sem métrica, irrequieto e irregular,
distante da luz cintilante das estrelas
no tamanho dos mistérios insondáveis
do tanto que ficará por contar
na imensidão do fundo mar!

Quero chegar ao fim da caminhada
e sentir que ambos queremos dizer:
– Amei o caminho!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

NÃO ME ACORDEM AGORA!...
Estou indo…
Fluindo,
voando,
sorrindo, 
chorando,
vagueando,
partindo,
chegando,
rugindo,
sussurrando,
explodindo,
aquietando,
vibrando,
florindo,
brindando,
fruindo,
fulgindo,
brincando,
divertindo,
dormindo,
sonhando…

Sou infindo
no entretanto!!!
Não me acordem, agora!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

SÊ A MINHA CIGANA!
Sentemo-nos frente-a-frente,
resguardados dos olhares passantes,
protegidos na nossa tenda
e olhemo-nos companheiros,
como confidentes e amantes,
um no outro confiantes,
como se bolas de cristal fôssemos
que, depois de afagadas e lidas,
dirão palavras que queremos ser ouvidas,
descobrirão luz no profundo escuro
e seremos, do outro, o seu futuro…

Toma a minha trémula mão
como se fosses uma sábia cigana
e faz teus os meus segredos…
percorre comigo a linha da vida,
seja ela curta ou comprida,
e sê generosa na tua leitura,
preenchendo a linha do coração...
com a tua mais suave ternura,
descobre em mim um homem forte,
no emaranhado das linhas da mão
e sê tu a minha linha da sorte…

Viaja comigo na caravana da vida,
sê uma das fadas do meu destino
e darei como dote um amor diamantino,
serás eternamente a minha zíngara querida,
com os brincos brincando entre cabelos,
fazendo magia no brilho dos olhos belos,
enfeitiçando um coração já apaixonado
que se ofereceu para ser prisioneiro,
adaga, seta cega, arco e flecheiro,
menino e eterno homem aprendiz
que com as cartas do teu baralho se faz feliz….

Não quero que sejas uma mulher santa,
mas aquela que os meus dias cintila e abrilhanta!
Sê apenas aquela que eu sinta sempre humana,
amiga, companheira, amor, minha cigana!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

DEIXA-TE FICAR AQUI...
Procuro-te…
Sigo as marcas do teu andar
e o aroma da tua pele,
que eu acredito não serem acasos,
e tento encontrar os teus sinais,
vestígios da tua presença,
no olhar dos transeuntes,
no capítulo mais enigmático
de um livro que ainda não li
e na cumplicidade das sombras
que me desafiam a decifrar
a ansiedade da minha procura,
onde sei, agora, que não vou encontrar-te…

… e há sons envolventes,
vozes e murmúrios que me perturbam,
gritando que fugiste, uns,
aconchegando que não foste,
apesar de não estares, outros,
porque não estou a procurar
nem na forma nem no lugar certo,
porque não estás fora de mim,
estás em mim,
porque eu apenas existo porque tu existes,
porque eu apenas sou porque tu estás,
porque todo eu sou marcas de ti,
todos os teus gestos e palavras,
todos os gostos e desgostos…

Tu estás em mim
e eu a querer encontrar-te
onde, sei agora, que não estás…

Não saias…
Deixa-te ficar aqui, em mim…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

SE BEM TE CONHEÇO...
Se bem te conheço...
ainda estás no vazio,
na escuridão,
no frio,
confirmando Einstein
e a Teoria da Relatividade,
gravitando,
suspensa,
inerte,
amorfa,
apática,
sufocando,
sem vontade,
vegetando,
distante…
principalmente, de ti!

Se bem te conheço…
assim ficarás,
até que Saturno
se aproxime mais do Sol,
até que Marte
esteja habitado,
ou até que alguém
queira sofrer contigo.
Não és uma estrela,
nem outro astro qualquer,
és mais do que isso,
és uma MULHER!

Fala,
escreve,
isso ajuda sempre…
não é solução mas ajuda!
Se sabes rezar, reza…
Se sabes cantar, canta…
Se sabes assobiar, assobia…
Bate palmas,
faz barulho,
chora,
grita,
faz de louca!
Faz qualquer coisa
mas não deixes ser pisada!
Mostra que existes!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

SONHASTE!...
Sonhaste!
Viveste no sonho
e no sonho foste feliz!
Viajaste por constelações
por onde antes já tinhas sonhado viajar,
e, assim, já lhes conhecias os trilhos de cor,
de tanto neles te teres projectado!

Deste a volta ao mundo
deste a volta ao medo e ao degredo,
desvendaste-te,
redescobriste-te,
reinventaste-te
e confiaste no embalo do sonho
que te era oferendado,
numa bandeja chamada fantasia,
e saboreaste cada momento encantado
que o sonho te oferecia…

Sonhaste!
As dores passadas para trás ficaram
e embarcaste no veleiro ancorado à tua porta.
Fizeste-te marinheiro,
homem do leme, estrela e sextante,
foste, do teu sonho, um feliz viajante,
ultrapassaste ventos e marés
e não arredaste o teu corpo do convés,
nem perdeste do mapa o azimute
traçado a régua, esquadro e compasso,
muito antes de existirem sonhos…

Sonhaste que o sonho jamais terminaria,
quando afinal ele foi tão breve…
inventaste o sonho em ti
e foi tão saboroso, não foi?
Ficaste com estrelas no olhar
e anos-luz de felicidade para viver,
mais tarde, noutro sonho.
Já conheces agora os caminhos de cor
e, na próxima vez que o sonho quebrar amarras,
e vogar por entre os meteoritos da ventura,
saberás fugir das armadilhas profundas,
aquelas onde o tempo para
e o espaço se nega a existir…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

O TEU PERFUME
O teu perfume está espalhado
por todo o lado,
e, por todo o lado,
eu o persigo,
eu o percorro
como se fosse um cachorro…

Não desespero,
apenas espero
o momento de chegares,
de me abraçares,
de afagares o meu cabelo,
e te entregares,
e me amares…
compensares
por ter acreditado
que o perfume espalhado
foi propositado
para eu não me sentir só,
enquanto não chegasses
e me abraçasses…

Mas o perfume,
desvanecendo,
vai sendo memória,
vai fenecendo
e eu já não o percorro,
nem sei se morro
mas, como se fosse um cachorro,
espero que o perfume
nunca entristeça,
ansiando que a espera
não envelheça!

Vou esperando,
esperançado que o perfume não desfaleça,
e que, entretanto, tu chegues
e me abraces
e afagues o cabelo,
te entregues e me ames,
para que eu volte a acreditar
que o perfume que espalhas pelo ar
seja para me acompanhares
e, na tua ausência, não te ausentares…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

AMIGA, ÁRIDA DE FELICIDADE
Tu que bebes a sede
que te mata com o vazio de felicidade
e secas a boca com palavras áridas
nessa tua travessia pela vida,
como se atravessasses um cálido deserto,
esperando a cada miragem
encontrar o oásis imaginado
onde encontrarás sonhos plantados
que, à luz forte do Sol,
finalmente te darão felicidade
na sombra dos planos que te levaram ali!

Nesse dia, sedenta e árida,
tenta não beberes tudo de uma só vez,
nem derrames uma única gota
que os teus lábios não saibam
ou ansiosos não consigam suster,
prova a felicidade, saboreia-a,
gole a gole,
trago a trago,
suavemente escorrendo pela alma
e desfruta do tempo que a tens contigo,
minha amiga.

Delicia-te maravilhada
com a dádiva do momento,
como uma oferenda dos deuses
que fazem as noites e os dias,
os mesmos que permitem que sejas agora feliz
pois, tal como a bebes agora,
podes dela sentir saudades novamente
de uma forma fria e breve…

E se, de novo, a sede voltar,
nunca deixes de a felicidade buscar,
na aridez dos dias que se fazem séculos
e que te queimam os olhos secos,
recomeça a dura caminhada,
parte na procura de outras miragens
pois numa delas poderá estar um novo oásis!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

O CHAMAMENTO DA GAIVOTA
E a gaivota
passa desafiadoramente
diante do meu olhar
e diz: “Vem! Upa!
Salta-me para a garupa!

Vem comigo viajar,
desbravar os caminhos
que ninguém ousou vogar
e ir pelo ar, voar,
até chegarmos a um lugar
que apenas eu sei,
e que sei que irás gostar,
um lugar entre o Sol e o mar!

Vem comigo respirar
a maresia e o sonhar
que se desprendem em salpicos
dos bicos dos maçaricos,
nos idílios migrantes
das manhãs amantes,
na proa de uma pesqueira canoa
que o Sol abençoa!

Vem comigo desafiar
um romance sem vidraças,
por onde possas respirar,
um poema sem mordaças
por onde possas gritar,
uma melodia sem grade
para sentires a liberdade
em saberes quem és,
quando te despojares a teus pés
despido de medos
e não seres o maior segredo
dos teus segredos!

Neste céu que o Ser bendiz,
vem comigo encontrares-te!
Vem aprender a ser feliz!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

A BALADA QUE NÃO CONHECEMOS
Gostes daquilo que gostares em mim,
mesmo que nunca me chegues a dizer
nas palavras que apenas nós ouviremos,
nos fortuitos encontros
a que os caminhos nos levam,
cegos de felicidade,
quero dizer-te que alimentas todos os meus sonhos,
ocupas o tudo dos meus pensamentos,
embelezas os meus momentos,
escreves as mais belas páginas da minha vida,
e é por ti que eu espero,
e é por ti, só por ti, que eu continuo a acreditar
que a vida é uma balada que nós não sabemos,
mas que haveremos de cantar
qualquer dia, amor!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

LUZ DO MEU CAMINHO
Luz do meu caminho,
estrela da minha vida
calor do meu carinho,
és o ponto de partida
para o ser e o amar,
para o ter e o desejar,
para o princípio e o fim!
És tudo, para mim!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

A DEMANDA DO CAMINHANTE
Faças o que fizeres,
vás por onde fores, caminhante,
deixa boas recordações
no teu caminhar,
no desenho dos teus passos…

Inspira a beleza em teu redor,
faz dela o teu modelo
e retribui-lhe tudo aquilo
a que tiveste direito,
depois de te entregares em pleno…

Não estragues,
não magoes, viajante,
não te mostres dono do que não tens,
nem outro que não tu
mas, se tal acontecer,
na imprudência dos gestos
ou na ausência dos sentidos,
para, recua e estende a mão
a quem tu derrubaste,
feriste ou maltrataste
e retoma o passo
do teu esperançoso caminhar…

Parar, nem sempre é desistir…
recupera o fôlego,
aprende com os teus erros,
abastece o bornal da esperança,
bebe um gole de fantasia,
não demasiada,
e ilumina o teu olhar
com a alegria antecipada
de teres, na tua chegada,
quem tu quiseste feliz
na tua partida…

Mas, se ninguém houver à espera
retoma o teu caminho de volta,
seguindo os passos dos teus passos,
mesmo de olhos cerrados,
não precisando de mapas ou de bússolas,
e recomeça a tua demanda
em busca da felicidade sonhada!

…e, quando terminares,
já sabes bem o que fazer:
faz-te feliz!

Faz-te feliz,
fazendo feliz quem te esperou,
fazendo feliz quem em ti acreditou!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem de http://wallpaperscraft.com/download/desert_sand_heat_person_traveler_48707/3840x2400)

SONATA AO LUAR
Com gestos ausentes de ti,
abriste a porta de casa
e regressaste ao conforto do teu casulo,
onde te renovas em crisálida,
fugindo do bulício dos dias
e aconchegando-te em ti mesma…

Na abstracção de movimentos alheios,
foste-te despojando do supérfluo
e atapetando o chão da casa
com uma peça de roupa aqui,
um sapato mais além,
até te enfrentares no espelho,
despida daquilo que permitias
que os outros pudessem ver em ti…

Sorriste e gostaste do que viste!
Não era um sorriso alegre nem triste,
era aquele a que te oferecias
aquele que era só e tão teu,
no suavizar do momento,
no encontro com o teu eu…

Deslizaste para um banho tépido
e entregaste-te por completo
ao prazer da carne morna
que a água suavemente perfumada
pelas flores que colheste,
cúmplice e amiga invadia…

Ao som do piano de Beethoven,
enroscaste a pele no pelo do roupão,
indiscretamente entreaberto,
sentáste-te de frente para o universo
na janela escancarada e sem cortinados
e permitiste que a alma se ausentasse,
num suave abandono de tudo…

Hoje, vais permitir
que os raios lunares namorem o teu corpo
e que as estrelas sorriam
no olhar que ofereces
à taça licorosa que afaga as tuas mãos,
enquanto sorves uma sonata ao luar…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

PARA QUEM FICA, ESPERANDO POR QUEM VAI
Com o fim do dia,
as coisas são o que são;
chegava a monotonia,
o contacto com a cama fria,
vazia,
a mão procurava a mão,
em vão,
a alma entristecia
e, na solidão,
o corpo esperava
inerte no colchão,
por novo dia,
enquanto o sono
não aparecia
e o sonho se construía
nas brumas da fantasia,
que ia e vinha,
vinha e ia,
embalado nas ondas da agonia
de um mar que se desfazia,
durante a noite
que ia, ia e ia
até ser dia.
Seria este o dia?
Seria…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: http://ehsapart.blogspot.pt/2011_02_01_archive.html)

...E, ASSIM SORRINDO, ADORMECIAS...
Madrugavas antes de anoiteceres
e fazias do vão de escada
de qualquer prédio abandonado
o palco do teu passo treinado,
libertando-te como se fosses um rio
desaguando numa foz por acontecer
nos braços que a noite tinha para oferecer…

E, na noite, recebias cada corpo quente
como uma dádiva feita para se receber
e entregavas muito ternamente
tudo aquilo que te tinha feito mulher,
numa permuta sem razão aparente
que nada tinha de ilusão inocente…

No fim de cada madrugada anoitecias,
confundindo as noites com os dias,
e recolhias-te na alma que era apenas tua,
dentro de ti mesma, longe da rua,
cabelos e sentimentos, de novo, desgrenhados,
como sinais de pesadelos jamais imaginados…

E aconchegavas o corpo com a fantasia,
cerravas as pálpebras enquanto te benzias,
e, de prazer ou de frio, o teu corpo tremia
mas, de vez em quando, sonhavas e sorrias
e acreditavas que um dia não são dias
e que, um dia, outra mulher serias!

E assim, sorrindo, tu adormecias…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

MAGIA
E, de repente…
apareceste tu,
qual pomba tirada duma cartola
pelas mãos hábeis da vida,
aos meus olhos,
magia,
que, incrédulos,
olhavam fascinados
os teus gestos,
passes fascinantes,
mágicos,
que me faziam compreender
sentimentos que eu retinha,
de uma forma
muito mais bela
que todas as palavras já usadas
pelas bocas dos apaixonados…

E, de repente,
agarraste-me as mãos
e voámos pelo sonho,
libertaste-me os sentidos
e mostraste-me o caminho,
e eu desisti de resistir
por me sentir conquistado
e entreguei-me totalmente
por me sentir feliz!

Como foi que fizeste?
Que magia usaste?
Que alquimia descobriste?
E eu que nunca acreditei
que os sonhos acontecessem,
que as estrelas falassem
ou que tu me amasses…
de repente flori,
como uma Primavera
num Inverno!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

SEMPRE QUE A SAUDADE...
Sempre que a saudade te visitar,
nos momentos em que eu não estiver
ou já não souber estar,
por entre as pétalas de um malmequer
que os teus dedos irão contar
e que a teus pés cairão,
uma a uma, sim e não,
até que o caule e o cálice
restem solitários e órfãos nas tuas mãos…

Sempre que a saudade se fizer sentir,
nos sorrisos que eu possa esquecer
ou por já não saber sorrir,
por entre as páginas de um livro por ler
onde os teus dedos irão descobrir
o bilhete que não escrevi de despedida,
suavizando o cruel momento da partida,
para quem a chegada se fez nada
e a ausência se desfez em ida…

Sempre que a saudade te vier morder,
na saliva dos beijos que eu não beijar
ou por já não haver chama para arder,
no ardor dos instantes por acontecer
que o Universo tudo fará para te lembrar,
no precipitar contínuo das noites e dos dias
que se unem em peças de perfeita harmonia,
na matriz complexa do sonho a descodificar
que te acordará entre o enigma e a nostalgia…

Sempre que a saudade te bater na porta
sorri na sua chegada e franqueia-lhe a entrada,
pois só tem saudades quem se reconforta
na luz de uma vida antes bem-aventurada!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

BRINDAR A TI, AMOR (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Brindar a ti, amor
em cálices de bem querer,
entre gardénias de saudade
e pétalas de malmequer,
entre promessas de verdade
e medo em te perder
talvez um dia, quem sabe,
ao amanhecer...

Brindar a ti, amor,
com sonhos de nunca dizer,
entre colinas de ansiedade
e planícies de enlouquecer,
entre loucuras sem idade
e noites por acontecer,
talvez, um dia, quem sabe,
ao entardecer...

Brindar a ti, amor,
em momentos a não esquecer,
entre abraços de vontade
e soluços de prazer,
entre palavras de amizade
e desejos de te ter
talvez um dia, quem sabe,
sem mesmo eu saber...

Brindar a ti, amor,
no mais sagrado dos rituais,
é entregar-me a ti, em flor,
é querer-te sempre mais
nos dias que passam sem cor,
tristes e sempre iguais
enquanto não te tiver, amor,
e, de amor, morrermos imortais!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kusch

VIAGEM EM TORNO DE MIM...
Sou um barco preso ao cais,
navego em sonhos e ideais
e embalo-me nas águas
deste porto de abrigo
que amaina as minhas mágoas
como um amigo…

Prendo-me ao cais,
e sinto-me seguro,
sou barco e sou arrais,
domino as amarras,
desligo-me dos cabrestantes
e, por instantes,
o pontão é o meu mundo
e o meu rumo não tem rota…

Não preciso de frota,
nem de cartas de marear,
os meus olhos são o meu mar.
Iço velas, balança o mastro
e oiço a quilha chorar
por uma viagem que começa
sem as amarras soltar…

Nada há que me impeça
de desfrutar desta viagem,
tenho o sextante na alma
e os sonhos são as estrelas
pelas quais me vou guiar.

Navego dentro de mim
da popa à proa, sem fim,
depois da faina ao luar.
Sou marinheiro, navegante
sem escala nem porto,
não sou vivo nem morto,
escapo à maldição do escorbuto,
viajo, descanso e luto
enquanto os dias passam
e as noites ficam
porque delas preciso,
para pendurar na Lua
o meu sorriso!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

DIZ, APENAS, QUE ME AMAS!
Não quero que me digas quem és,
não quero que me digas por que me queres,
nem que me contes todos os teus segredos…
nada do que para trás te aconteceu
irá criar em mim receios e medos
nem fará, de tudo o que é teu, algo meu…

Deixa-me ser eu a tentar descobrir
quais são as maravilhas que te fazem sorrir
ou as tristezas que te obrigam a chorar,
qual o lado da cama onde preferes adormecer,
quais são as poesias que tu gostas de ler,
que partes do teu corpo proíbes o Sol de ver,
porque cerras, meiga, os olhos em noites de luar
e te deixas enlear pela melodia de um saxofone
ou absorves um Nocturno sem lhe saber o nome…

Deixa-me ler-te como a um poema de Neruda,
imbuir-me na paz que a tua alma desnuda,
perceber os teus sinais, apreciar a roupa que vistas,
tudo o que te dá prazer e acende em ti o lume,
os livros, as flores, o chocolate e o perfume,
as alergias, os odores, o palato e outras pistas.

Torna-te o todo do meu mais difícil desafio,
aguça-me a curiosidade, como uma charada,
permite-me percorrer-te de fio a pavio
e seres a luz salvadora da minha jornada.
Deixa-me ser eu a tentar conquistar-te!
Deixa-me ser eu a conseguir revelar-te,
numa demanda pacificadora, sem data nem fim,
sendo tu o eterno enigma, sendo tu de mim!

Quero descobrir o mais sensível na tua pele,
com que pólen desejas que eu te transforme em mel,
de que forma te incendeias, como o preferes,
com que fogo ardente, com que imensas chamas!...

Diz, apenas, que me queres!
Diz, apenas, que me amas!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

FADO TINTO
Bebemos na noite um fado tinto
com travo a saudade,
felicidade e afinco,
o coração fala e a tristeza cala
em silêncio numa sala
com uma luz ao fundo
a quem chamamos voz
calando meio-mundo
e enchendo os olhos de alma
de quem respira palavras e poemas
sendo, as dela, as nossas dores
e a nossas dores as suas penas…

E a voz fala da vida
como sendo a nossa!
É mar, distância, amor,
vento, sentimentos e dor,
solitária vagueia pelas mesas,
alimentando as almas acesas,
e lacrimeja-se nos olhos,
pinta-se em aguarelas
em becos de tristeza e vielas
e num fundo queixume
canta traição e ciúme
e aquela já não é apenas a voz,
aquela já somos todos nós!

Somos nós embarcando em caravelas,
num delírio de marinheiro,
partindo com um sorriso
e chegando com um adeus,
guerreando com os nossos eus
que pelejam por amores desencontrados
perdidos ou atraiçoados,
embalando a nostalgia,
inebriando os sentidos,
os que sentimos e os que um dia,
gostaríamos de sentir,
e, entre um ir e um vir,
nesta viajem de um povo,
há um cantar e um porvir,
uma fatalidade e um destino,
numa razão sem tino,
numa guitarra um trinado,
num percurso eternamente inacabado,
a que muito simplesmente
chamamos fado!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

O NOSSO SONO...
O teu sono
deve andar de mãos dadas com o meu,
algures pendurados num cometa,
entre o mar e o céu,
ou perdidos numa praia secreta
onde apenas eles sabem onde fica...

serenos e cúmplices,
comparsas e companheiros,
poetas e marinheiros,
insones, não dormem,
apenas vagueiam,
entremeiam conversas e temas
sem grades nem algemas,
vogam nas ondas da noite
e acordados sonham
que o dia de amanhã
não terá uma manhã…

assim que o Sol desperta
sonolentos regressam a casa,
ao corpo que serve de coberta
e ao sangue que os abrasa...

o teu sono e o meu
pela noite fazem-se evadidos
para um sonho que é seu
e regressam de dia
adormecendo os sentidos
em letárgica e suave magia!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

QUANDO ELA SE APROXIMA...
...quando ela se aproxima de mim
e me olha nervosa, apaixonada e divertida,
e afaga meigamente a minha barba crescida,
e enrola, como serpentes, os seus braços no meu pescoço,
e morde e beija, com uma sábia loucura,
uma terna e doce ternura,
a minha ansiosa e sequiosa boca,
ninguém, nem mais nada, existe nesse momento...

...quando ela se aproxima de mim
o metrónomo para, a cena para, a tela dilui
e tornamo-nos intérpretes de um filme que flui
em câmara lenta, au rallenti,
e ludibriamos o tempo e o espaço
que se tornam nossos na cumplicidade
de um caloroso e infinito abraço,
onde apenas tem lugar a nossa felicidade!

...quando ela se aproxima de mim
eu sinto ânsias e desejo-a como um animal
e transporto o seu corpo pelo ar, suavemente,
e amo-a, como amaria a liberdade se fosse um marginal,
e ela ama-me e oiço palavras que não diz
nas unhas cravadas na minha carne carente!...

Quando ela se aproxima de mim,
sabem, eu sou feliz !!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

CHAMO-TE SOL...
És luz!
És vida!
És carícia apetecida,
doce emoção bem-vinda,
suave torpor
estendida na minha pele,
provocando calor,
sentindo-me noz e mel…
as minhas pálpebras cerradas
deliciosamente vais beijando,
e os meus olhos convidando
à descoberta de novo dia,
na tua quente companhia,
no percorrer do tempo
que me leva a acordar sorrindo
na paz desse momento,
no desenho do teu sorriso lindo!

És luz!
És vida!
És a minha fantasia
e em ti descubro a energia
que a noite, terna e doce,
levou nas águas da malícia,
numa barca fenícia,
como se eu dela fosse,
sem que de mim fosse embora
e, quando chegas na manhã,
como se fosses prendada artesã,
constróis em mim
um outro eu
e eu volto a ser
feliz e todo teu!

És luz!
És vida!
És um Universo para eu descobrir
em cada novo amanhecer,
e sempre que em mim te fundires
poderei chamar-te um nome qualquer,
qualquer um nome de mulher,
poderei com sonhos em ti florir,
enquanto o corpo me descobres
e em mim te enrolas em dobras serenas
de um perfumado lençol,
mas, neste instante, chamo-te apenas
e tão-só… Sol!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kush

EM PRINCÍPIO...
Em princípio,
aquele dia podia considerar-se
igual aos outros dias,
fosse aquele que fosse,
o prisma a ser utilizado…
continuavam existindo animais vertebrados
e, outros, invertebrados…
coexistiam mar, terra e ar
e sementes de violência a brotar
com alguns oásis de paz a suavizar…
Em tudo isto, nada de novo a registar!

Realmente,
aquele dia em nada era diferente
dos outros dias…
a meteorologia voltara a falhar,
os pássaros teimaram em voar
e as pessoas continuaram a bestificarem-se,
dentro da pequenez de simples mortais!

Em princípio,
aquele dia em nada iria ser gratificante
ao quadrante esférico do meu olhar,
não fora o nascimento de um novo Sol
na textura cutânea do meu Universo singular!
Mais importante do que o cometa Halley,
diferente de qualquer tipo de estrela,
ali estava só para mim,
a pessoa mais terna e bela,
oferecendo-me confiante a sua mão
e modificando o sentido daquele dia
que nada nem ninguém previa
ser tão diferente de qualquer dos outros dias!...

Em princípio,
aquele dia seria igual a todos os dias,
mas tu deste-lhe um sentido,
tu deste-me vida…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kusch

O RAIO DE LUZ (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Quando o raio de luz
beijou a mão adormecida
sobre uma outra mão,
aqueceu os seus tecidos,
acordou-lhe os sentidos,
violou a frágil fronteira,
fez ranger a madeira,
sonhou mil girassóis,
tocaram lindos violinos,
parou o relógio da sala
e fez tombar os lençóis…

Depois,
os tecidos suavizaram,
os sentidos repousaram,
a fronteira recolheu,
a madeira cansada cedeu,
mil girassóis rodaram,
os violinos cessaram,
os ponteiros avançaram
e os lençóis ficaram no chão …

…e a mão adormecida sobre a mão,
num grito de glória e prazer,
apertou os dedos nos dedos
dizendo, sem nunca dizer,
que a luz não tem medos
nem tem segredos,
sempre que inunda o quarto
dando à luz o Amor,
fazendo-se, de si mesma, parto…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

OBRIGADO!
Grão dourado,
desejo sonhado,
sonho partilhado,
mistério perfumado,
beijo desejado,
abraço apertado,
sorriso amado,
amor acarinhado,
segredo desvendado,
por me permitires
sentir abençoado,
sendo feliz a teu lado,
obrigado!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

POR QUE ME OLHAS, ASSIM...?
Por que olhas para mim
como se eu fosse
apenas aquilo que vês,
com um trejeito tão indiferente,
apenas preocupada com o teu vestuário
como se eu fosse um ingrediente
exposto num mostruário
no meio de milhentos outros
alinhados de forma perfeita
por onde passas o distraído olhar
absorta com a receita
que vais cozinhar ao jantar?

Por que olhas para mim
como se eu não existisse
quando regas as flores do jardim,
as benditas que o tempo bendisse,
como se eu fosse um protozoário
inexistente aos teus sentidos
contido apenas no imaginário
dos documentários preferidos
aqueles que te fazem adormecer
no princípio da noite, abandonada,
e que na dúvida entre ler e não ler
preferes abandonar o corpo, cansada?

Por que me olhas não me vendo,
fazendo-me sentir o centro de nada,
sendo um nada, alguma coisa sendo,
tu que tens o toque de uma fada
bastaria espalhares pós de magia
para cima da minha carapaça ansiosa
para me transbordar em suave poesia
ou me transformar em rica prosa,
pronto a ser amado e declamado
em teus braços ser docemente querido
em saraus e serões ser recitado
e à noite meu nome em ti ser gemido?

Por que me olhas assim?
Por que te entregas à incerteza,
quando posso ser o teu delfim
e tu a minha querida princesa!!!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Indifference by Chashirskiy

POEMA PARA CINCO MINUTOS DE VISTA
E aquela menina falava e dizia
palavras tão simples e singelas
que eu ouvia mas quase não entendia
como era possível ela tanto saber
sem que os seus olhos soubessem ver!
Afinal, era apenas eu quem não via…

Qual a cor a que uma laranja dá o gosto?
Como seria a beleza que a mãe tinha no rosto?
Como eram as paredes do quarto onde dormia?
Qual o brilho da Lua, enquanto adormecia?
Como seria o ovo, a larva, a pupa e a mariposa?
Queria, um dia, ver uma noiva linda e formosa!

E de seus olhos saía água, sonhos e brilho
e sorria doces emoções em rendilhado estribilho
afirmando que o impossível era apenas o exagero
daquilo que todos achamos ser muito difícil
e eu senti-me reduzido a um quase inútil zero
quando ela pediu o desejo, de forma tão simplista,
de ter direito a uns cinco minutos de vida na vista!

E a Ti, Ser único, Excelso e Todo Poderoso,
Ser muito mais do que maravilhoso,
sejas Tu quem eu não sei, mas sei que és,
imploro humildemente a Teus pés
que tires cinco anos à minha vida pequenina,
os transformes em imensos outros dez
e dês vida merecida aos olhos dessa menina!

O poema de hoje é sobre uma menina invisual, cega, que enfrenta a vida de uma forma que é um exemplo para todos os que acham que são infelizes! A história é real e impressionou-me, pela coragem e pela alegria em estar vivo! 
Vejam o video da reportagem sobre crianças cegas, onde está Maya Al-Kadri. Obrigado

http://sicnoticias.sapo.pt/programas/reportagemespecial/2015-08-03-Colonia-de-Ferias-para-Cegos

Autor: Vitor.C
Imagem: Fotografia de Maya Al-Kadry, a heroína deste poema!

A ALMA QUE FICOU CONTIGO
No estonteante emaranhado
das doces palavras,
cruzadas no labirinto de um sentimento ousado
que nunca soubemos saborear,
entregaste-me o teu voluptuoso corpo
com suaves mistérios perfumado
para que eu me distraísse a o desvendar,
enquanto tu, serena e calma,
me esvaziavas o Ser
levando contigo a minha alma…

E na caligrafia das curvilíneas formas,
com os meus olhos vendados,
eu lia inexistentes poemas,
inebriava-me com os vazios esquemas rimáticos
e prendia-me a esses versos livres,
soltos, sem grilhetas nem amarras,
e declamava encantado uma poesia
que apenas eu sabia ler sem existir,
enquanto tu, divertida e infantil,
brincavas com os farrapos que ainda me restavam…

Sem dicionário nem um código certo,
eu abraçava-te como se me salvasse
tentando ser oásis do meu próprio deserto,
até que um dia o jogo te cansasse
e a alma a mim voltasse…

… e voltou, assim que, de novo, te fizeste ao mar
em busca de outro marinheiro para encantar
e eu ali fiquei, vendo-te aproar às vagas que te esperavam
em silêncio, no meu porto de abrigo,
marejando o olhar e sentindo a alma fugir contigo!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

LEMBRA-TE QUE O TEMPO PASSA A CORRER...
Se não procuras ser feliz
com receio de falhar,
corres o sério risco
de viver apenas e sempre a sonhar,
de construíres futuros
onde nunca irás habitar,
de erigires pedregosos muros
que te irão impedir
de ver o Sol da vida sorrir
também para ti!

Oh! Insano Ser Humano!
Se não tentares ser feliz
com medo de sofrer,
lembra-te que o tempo passa a correr
diante dos teu receoso olhar,
e que a felicidade só se faz presente
de quem da vida não se ausente!

Viver assim é não viver!
É querer respirar sem ter ar,
é querer sentir sem ter alma,
é sofrer por não querer sofrer,
é não ser amado por não amar,
é ter uma dor que nunca acalma!

Respira a brisa que se te oferenda,
inala o momento e… vive!
Permite que a felicidade se acenda
e brilhe em ti como uma prenda!

Autor: Vítor Costeira
Imagem Vladimir Kusch

QUE VELAS TRAZES TU NO OLHAR...?
De que lado do azul vens tu?
Em que página do livro me procuras?
Quem és tu que eu não conheço
e que tens um outro lado de ti?
Em que instante te encontras, agora?
Qual o destino da tua viagem?
Para fora do que está dentro de mim 
ou para dentro de quem queres que te espere?
Como sabes que não tem fim esse voar,
que se fez vida, que te derrama luar?

Tens resposta para estas perguntas
e tempo para me olhares,
enquanto escrevo mais um verso
numa página para desfolhares?
Contaste o tempo que passou
entre um livro que eu escrevi
e um outro que o tempo devorou,
à beira-mar de um voo
em que te rasgas em mar
no preciso e precioso instante 
em que voltas a este lugar?

Lembras-te ainda de mim? 
Sim… Eu sou aquele barco ferrugento 
com as amarras presas ao cais, 
desligados os cabrestantes 
e preso aos instantes
que auxiliariam a sair do local 
onde o lodo da marina modelou a quilha
num silêncio sinuoso e letal...

Que velas trazes tu no teu olhar
para podermos navegar
nestes distantes mares?
As que me iluminam o caminhar
ou as que me levarão a outro lugar?
Tomarás tu o comando do leme
ou esperarás que eu reme?
E se o vento não se fizer amigo…
quererás, ainda assim,
fazer viagem comigo
nesta tolhida espera sem fim?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Vladimir Kush

OFERENDA (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Pendura-me no teu pescoço
como um lindo fio dourado;
prende-me nos lóbulos das tuas orelhas
como brincos de cigana;
usa-me nos teus dedos
como anéis com gemas raras;
aperta-me dentro do teu vestido
como seios dóceis e sensuais;
perfuma a tua pele macia
com o aroma da minha pele;
fecha-me entre os teus lábios
como batom silvestre carmim;
veste-te de mim
e respira os meus sonhos;
guarda-me na tua bolsa
como bilhete de amor escondido;
passeia-me com a tua sombra
como se os corpos fossem um só...

Inventa-me em ti,
no teu quarto,
no teu espelho de mão,
no teu frasco de perfume preferido,
no teu bornal de sonhos e ilusões,
no teu poema mais querido...

Serve-me em ti,
sorve-me em ti
e deixa uma parte de ti
sentir-se em mim...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

ERA EU...? (Poema inserido no meu livro SOU TEU)
Era eu quem, em tuas preces, pedias?
Era eu quem tu desejavas?
Era mesmo eu quem tu querias?
Era comigo com quem sonhavas?
Continuo eu a ser quem queres?
Sou eu quem ainda desejas?
Preenchi os teus sonhos?
Consegui tornar real a tua ilusão?

Tens razão,
eu devia saber todas as respostas,
devia saber e sei,
mas ouvi-las por ti repetidas
sabe-me sempre tão bem...
vezes sem conta,
onde conta bem mais o bem que sabe
do que as vezes que se conta…
cada vez mais sentidas
de cada vez que as repetes,
as palavras são melodias queridas!
As palavras são sorvidas
em gotículas de prazer,
uma a uma,
sem uma perder...

Sabe bem ouvir-te dizer
que ainda sou eu,
que sempre serei eu,
e apenas eu,
a quem o teu eu se deu,
por quem o teu todo cedeu,
e cantas-me as palavras mais lindas que sei,
as que contigo aprendi
e aquelas que contigo ainda aprenderei…
…e, quando com elas me cantas,
encantas-me
e em ti me encontro!

Sim, eu sei as respostas
mas sabe muito bem ouvi-las de ti…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

O AMOR FAZ-TE AINDA MAIS LINDA!
Qual moça namoradeira,
sorridente e prazenteira,
a felicidade assoma-se à janela da tua alma
contando incontida
uma história sentida,
cantando e encantando,
querendo ser vida,
degustada, saboreada e servida,
rebrilhando-te o olhar,
corando as maçãs do teu rosto
como vermelhos cravos,
e desenhando um doce sorriso
que nenhum pintor sabe descrever
nem algum poeta se atreve a pintar…

… e o sorriso, atrevido e sorrateiro,
como moço alcoviteiro,
desvenda o teu segredo,
desenrola o novelo dos sonhos suaves
do teu mais belo credo,
como o planar tranquilo das aves
rumando ao finito do infinito do humano imaginar,
em bruxuleantes e ardentes fogueiras
soletrando em fagulhas o verbo amar…

… e um novo e tranquilo brilho
desponta no hemisfério esférico do olhar,
como quem olha os primeiros passos de um filho
e, no murmúrio de um delicioso respirar,
aos céus agradece e brinda!

O Amor, amor, faz-te ainda mais linda!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

LEVA-ME CONTIGO, A PASSEAR (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Leva-me contigo, a passear.
Agarra a mão,
abandonada na tua,
e guia-me, com os olhos vendados,
através de caminhos que só tu conheças,
atapetando o meu ansioso caminhar,
sobre um manto romântico de folhas outonais caducas e macias.
Ampara-me os passos
e deslumbra-me
com tudo o que não sei,
até me fazeres sentir rei
de algo que não saberei se existe
senão na capacidade que tens em mo mostrar.
Leva-me a passear contigo,
até à enésima curva do caminho
e, suavemente,
como o leve tombar de mais uma folha, apenas,
abandona a minha mão
e desvanece a tua imagem
nos olhos que não vês,
transformando-te em memória
aos meus sentidos.
Serei, então, desafiado
a encontrar o meu próprio caminho
de volta a um princípio
que não sei se ainda existirá,
no preciso momento em que me desvendar.
Até sair do ponto onde me deixares ficar,
poderei sentir a amargura
em estar só
e reconhecer na tua ausência
a essência da minha solidão.
Chegarei?
ainda, não o sei,
mas apenas o saberei
se um dia me levares a passear
e, suavemente,
me convidares a ficar só,
numa qualquer curva
de um caminho
que apenas tu conheças…

Autor: Vítor Costeira

A COR DOS TEUS SONHOS...
Disseste-me que pintavas os teus sonhos
com a tinta das latas que restaram
de quando colorias os momentos
mais felizes da tua existência…
Prometeste-me que um dia
me dirias a cor dos teus sonhos,
juraste que me contarias
e eu descansei na minha espera,
com um sorriso cor de quimera
brilhando no castanho dos meus olhos,
na felicidade do meu ser criança!

Disseste-me que pintavas os teus sonhos
e que guardarias esse segredo para mim
e eu esperei, na minha esperança,
com um sorriso suavizado em carmim,
bailando na ansiedade da minha bonança
e convidando a minha alma para uma dança…

Juraste que me contarias um dia,
mas o tempo fez de conta que não ouvia
e a tinta certamente desapareceu, descoloriu,
da quimera que sempre crente anoitecia
e que se fez flor que em mim não abriu
e, por fim, a espera desiludida desistiu…

Será que ainda pintas os teus sonhos?
Será que ainda juras que um dia dirás?
Pintas com tinta e sobrepões aguarrás?
Quantos como eu estarão esperando sofridos?

Os meus sonhos viveram docemente coloridos
com a cor que imaginava pintada nos teus,
e agora apenas tento imaginar a cor dos céus
como sendo a cor linda dos sonhos meus!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

POEMA DE QUALQUER DIA! - Feliz 2016 para todos nós!
Hoje, o céu vai acontecer pincelado de azul,
o Sol brilhará ouro com simpatia
e as nuvens vão ausentar-se com delicadeza;

hoje, vão haver bandos de pombos bravos
subindo em suaves e fantasiosas espirais no ar
e o vento beijará os olhos dos caçadores;

hoje, os sorrisos vão ser longos como oceanos,
as mão serão ternas e acolhedoras
e as palavras aquecerão as almas mais frias;

hoje, ficarão no passado, como lição,
a injustiça, a crueldade, o ódio, a indiferença
e surgirá, de uma árvore recém-nascida, o perdão;

hoje, porque somos iguais, mesmo sendo diferentes,
aceitaremos, como pessoas felizes e sorridentes,
todos aqueles que na vida para trás ficaram;

hoje, a música da esperança vai alegrar os mendigos,
os palhaços não vão chorar no fim do circo
e as armas de angústia ficarão por disparar;

hoje, a semente da Paz vai ser semeada
nas famílias, nos hospitais, nas prisões, nas fábricas
e em cada pessoa haverá um sonho realizado;

hoje, o lobo virá confraternizar com a ovelha,
os jovens falarão e escutarão a gente velha
e o rico guardará um lugar à mesa para o pobre;

hoje, será possível afagar a juba do leão,
repartir o pouco que resta do pouco que já havia
e encarar a vida de frente, sem receios!

Hoje, será tudo lindo e belo,
apenas porque estamos aqui,
e é aqui que começam as coisas lindas e belas…
em nós!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

VISTO-ME POEMA
Alinhavo umas palavras,
coso umas ideias,
abotoo inspirações,
pesponteio emoções,
remendo acasos,
dispo ocasos,
desalinho tristezas,
costuro vivências,
acolchoo sonhos,
embainho esperanças,
caseio alegrias,
chanfro pesadelos,
dobro planos,
drapeio lágrimas,
remendo amarguras,
entrelaço sorrisos, 
descoso ternuras,
forro abraços,
arrumo ilusões,
franzo amores,
acrescento saudades,
rasgo derrotas,
cirzo desilusões,
passo a ferro frustrações,
corto contradições,
ziguezagueio hesitações,
perfumo ideais
e, por fim,
acrescento uma pena
e visto-me poema!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

DIZ-ME, ONDE ESTÁS? (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Onde estás tu?...
Tu que aqui me semeaste,
que me deste uma vida inteira
como um desafio para resolver,
que aqui me deixaste sem um código
para decifrar tudo o que não sei,
e é tanto que nem sei dizer!

Por vezes, sinto que atravesso um deserto
em busca de algo
que nem sei se estará longe ou perto,
porque é tão fácil eu perder
a noção do ínfimo ser que sou,
apenas sabendo que quando estou perdido
tenho que encontrar o meu caminho
nesta demanda, nesta provação,
para um destino que me é desconhecido…

Não quero que me salves,
pois eu sei que essa é minha função,
gostaria apenas de sentir
que estás lá, sempre que no chão eu cair,
e que terás estendida a tua mão,
quando eu para cima olhar
esperançado em te encontrar,
em te ver sorrir…

Preciso de força,
preciso da tua força,
preciso do teu olhar,
preciso saber que existes em mim
tanto quanto eu quero sentir-me em ti!
Preciso saber que estás comigo,
preciso sentir-me acompanhado
e que a tua mão segura a minha,
como guia apaixonado…
não sei encontrar-me abandonado!

Deixa-me sentir abraçado,
alimenta a minha esperança,
faz do meu sonho uma tua criança,
faz de mim o teu sonho!

Dá-me paz, acalenta o meu amor!
Onde estás tu, por favor!?...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

QUE ÁGUA QUERES TU COMIGO RESPIRAR? (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Por onde andam os teus pés?
Por que mares?
Por que marés?
Que mergulhos tens ousado?
A que profundidade te tens aventurado?
Que ar respiras tu
na água que o teu peito ingere?
Qual a sabedoria dos teus olhos
que sabem ver através da salmoura
das moléculas da água salgada,
sem que a íris do teu olhar
se negue a repetir o espasmo?

Ultrapassas a barreira dos corais
sem que as moreias te molestem,
sem que as caravelas te inflamem a pele,
sem que a escuridão te esmoreça?
Quais os fluídos que te atraem?
Serão aqueles que mais te maltratam?
De que sonhos te alimentas tu?
Porquê essa urgência tão premente
em testares as leis da gravidade,
em te aproximares do que já sabes
que inevitavelmente te ferirá
e que descobrirás, uma vez mais,
a sua diminuta importância?

Por onde andam os teus pés
que nunca têm chão?
De quanta inocente coragem
é revestido o teu atrevimento?
Por que maravilhosas metamorfoses
já os teus dias passaram?
Em que posição adormecem os teus sentidos
quando extenuados cedem ao cansaço?
Como consegues tu descansar a alma?
Que calma ofereces tu ao teu viver?

Se me levares contigo a passear,
será à beira-rio ou à beira-mar?
Que água queres tu comigo respirar?

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

ESTOU NAS TUAS MÃOS
Cheguei…
Finalmente, consegui encontrar o trilho
dos passos peregrinos
na luz dos caminhos que levam a Ti.
Não foi difícil entender qual a vereda a percorrer
mas foi, sim, a caminhada,
pois eu sabia muito bem 
que era a mim mesmo que eu iria enfrentar,
nas forças que me iriam faltar,
e na aridez das palavras que eu gritaria
de dentro da descrente alma
que vazia se encontrava na partida…

Sei que me esperavas…
Sinto que a tua espera era a minha
e que me recebeste no teu todo,
com um sorriso que eu não sei ver,
mas que sei valer a pena
ter acreditado que aqui chegaria,
porque aqui continuarias esperando,
apesar da minha dolorosa incerteza…

Acolhes-me como a um filho,
com compreensão e benevolência,
num abraço envolvente,
e eu assim me deixo ficar
no calor que de Ti se desprende,
e, sem reservas, me entrego,
sem nada saber explicar,
em silêncio, sem nada pedir,
mas tendo tudo para dar!

Cheguei..
fui deixando os sinais dos meus passos
no pó dos caminhos e veredas que percorri,
abençoei as árvores deixando-lhes o meu olhar
e descansei no fresco das suas sombras,
perfumei o ar que me envolvia com poemas de esperança,
derramei palavras de amor pelos riachos
e tornei-me, desta forma, peregrino de mim,
encontrando-me no fim de uma caminhada
que nunca antes pensei iniciar…

Cheguei…
Aqui estou eu, agora, olhando para Ti sem te ver
mas sabendo que estás aqui, também, comigo
como sempre estiveste e estarás.

Cheguei e estou grato por me receberes!
Obrigado, pelo Teu sorriso!
Estou nas tuas mãos!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Rodolfo Ledel

APENAS HOJE... (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Deixa-me sentar a teu lado,
sentir que hoje sou o teu protegido,
o teu menino querido,
aquele que perto de ti estaria
e para quem tu olharias com carinho,
num desvelo meigo e terno,
bem para além do eterno
de onde sinto que, finalmente, me vês…

Deixa-me sentar perto de ti,
sentir que o calor do teu corpo
se fez nascer todo ele para mim,
que os teus braços são fitas de cetim
esvoaçando, truque ilusionista,
enlaçando-me como oferenda de Natal,
e fazendo com que os meus olhos infantis
fiquem maravilhados perante a magia
e recusem deixar de fazer parte da ilusão
e do momento inesquecível que criaste…

Deixa, apenas hoje, eu ser o teu único
e sentir que nasci para estares comigo…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Tomasz Alen Kopera

APENAS DE PASSAGEM...
Adormeceste no céu
e acordaste na praia,
tapada pela areia
e descoberta pelas ondas,
descansas de uma caminhada
que ainda não começou,
indiferente ao momento,
saboreando o lugar…

Adormeci na praia
e acordei no céu,
tapado pela noite
e descoberto pela manhã,
descanso de uma demanda
que há muito terminou,
indiferente ao lugar,
saboreando o momento…

…estamos ambos de passagem,
não iremos aqui ficar,
eu sou apenas um homem em viagem
mas tu és uma estrela, estrela-do-mar!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

...E A NOITE FEZ-SE LUZ -- Feliz Natal a todos, amigos e amigas!
…e a noite de todas as noites,
aquela há muito esperada,
subiu docemente ao céu do nosso olhar,
vestiu-se Sol e luar,
anunciou esperança
e soou aos mortais como um hino,
anunciando o nascimento de uma criança,
trazendo nos braços um menino
com o nome de Jesus
… e fez-se luz!

Um imenso clarão de alegria
apagou a negritude dos dias,
iluminou os corações adormecidos,
alimentou a Fé eliminando a dúvida
e deu vida aos esquecidos da vida,
reconfortando a alma dos famintos de Amor,
oferendando a Paz tão apetecida
nas mãos erguidas em clamor
e entregou-se enternecida em bondade
nos mistérios dolorosos de uma cruz
… e fez-se luz!

No auge de uma suave emoção
deixou, como sua, a dádiva do perdão
como sendo o caminho que à salvação conduz
… e a noite fez-se luz!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: www.shutterstock.com

O NOSSO AMOR, AMOR...
O nosso amor
é seiva que aumenta
a cada momento,
é sangue que alimenta
o sangue dos nossos dedos,
é brisa que voa para além do tempo,
é voz que ecoa sem segredos,
sem medos,
é força que agarra as palavras “amo” e “posso”!

O nosso amor, amor, é apenas isto,
é apenas nosso!...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Adam Martinakis

CHEGASTE...
Chegaste…
Chegaste como parte resiliente
e resistente
de um fragmentado
e ínfimo todo,
algures perdido
numa distância longínqua,
numa partida
que apenas o tempo saberá onde reside…

Chegaste…
Chegaste apenas uma parte de ti
mas, a parte que de ti chegou,
chegou inteira,
não sobranceira
mas confiante
de que, aquele que agora és,
é muito mais forte do que era,
mais humano
e menos a fera
que era o teu ser insano…

Chegaste…
Não te perdeste,
nem te abandonaste
em delírio desatino…
Chegaste ao destino,
bem-vindo!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

PODE A MINHA LÁGRIMA JÁ TER SIDO A TUA?
… e a tua lágrima corre,
escorre,
tomba no chão,
perfura a terra
que a espera,
que a acolhe,
que a sorve
e a oferenda aos rios,
onde se junta a outras,
múltiplas, muitas,
que correm para o mar
num festim,
num suave manjar,
num ciclo sem fim,
onde se eleva aos céus,
lágrima feita ar,
adormecendo numa nuvem,
que a leva mais além
e a devolve água…

… e deixa-se cair,
suavemente fluir,
precipitar-se gota,
alma devota,
suavizada,
purificada,
deliciada em deliciar
a minha boca sequiosa,
que a sente deliciosa,
doce licor,
suavizar a dor…

…e dos meus áridos olhos
uma lágrima se solta
que corre,
escorre
e tomba no chão,
onde outras cairão,
quente e crua…

Pode a minha lágrima
já ter sido a tua?...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

POEMINHA DOS DOIS...
Tu e eu,
apenas os dois…
crente e ateu,
ilha e ilhéu,
frio e calor,
terra e flor,
pólen e mel
pelo e pele,
estrela e planeta,
arco e seta,
oceano e continente,
nunca e sempre,
antes e depois,
mar e céu,
apenas os dois…
tu e eu!

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet

TUDO COMEÇA UM POUCO ANTES...
Tudo começa
um pouco antes de começar,
com uma conversa,
um gesto, um toque ou um olhar
e, nesse precioso momento,
a luz do Sol faz-se luar,
a pele aumenta o transpirar,
a respiração salta selvagem do peito,
nada do que se faz
se faz com preceito
e a paz…
a paz é éter que sublima,
magia e obra-prima,
por entre as eternidades
a que chamamos segundos,
quando perdemos toda a noção
e o sentir em qual dos mundos
estará a tamborilar o coração,
que samba estará ele a dançar,
que agitação tão longe da bonança,
enquanto está tão maravilhado
que, talvez, não seja uma dança
mas apenas a doce voz do seu fado…

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Retirada da Internet e editada por mim

COMO SE ESPERASSES POR MIM...
Apreciando as formas voluptuosas das tuas costas,
acerco-me de ti,
como se já esperasses por mim,
com ternura, suavemente,
num deleite sem fim,
mas tu recebes-me quase indiferente,
majestosa, estática, quase imperial,
diria mesmo, algo fria,
mas tão feminina e tão sensual
que eu senti que em gelo fervia!

Não resistindo a tamanha tentação,
encosto-me a ti,
como se já esperasses por mim,
e com ternura, suavemente,
sentindo-me sendo o teu delfim,
sigo o desenho das curvas lentamente
enquanto cerro os olhos, doce pecado,
esperando que nunca impeças
os meus dedos em rendilhado bordado
ansiarem que de prazer estremeças!

Por fim, numa ansiedade e abandono total
entrego-me a ti,
como se já esperasses por mim,
e com ternura, suavemente,
volto a minha frente para a tua frente
e possuo-te sentando-me como num selim
acariciando as tuas costas com as mãos
e a cabeça encostada ao teu peito
enquanto os meus dedos artesãos
não encontram em ti nenhum defeito!

Amiga, amada, doce companheira,
onde descanso o meu dócil corpo,
tão cansado da viagem, quase morto,
não me abandones, querida cadeira!

Autor: Vitor.C
Imagem: Internet

ENQUANTO A ÁGUA NÃO APAGAR OS TEUS PASSOS...
Sento-me contigo
à beira do mar,
enquanto leio Kafka,
e colho, deste lírico pomar
de vozes ressonantes
e sombras de bronze,
um poema
que ofereço à presença
da marca ausente na areia
que aquece o instante
e que a alma incendeia…

Mergulho nas águas amigas
que abraçam o meu corpo,
numa entrega total,
e refresco-me na brisa
que te faz companheira
e me beija a pele,
enquanto o piar das gaivotas
se dilui em versos
e desagua na chama
do relevo da praia que se faz cama
permitindo o nosso serenar,
o olhar um no outro,
e, assim, residirmos os dois num só…

Espero a tua chegada,
enquanto a água não apagar os teus passos,
entre mim e o mar,
entre o ser e o estar,
e, mesmo sentindo que, não estando, aqui estás,
preenchendo a imensidão do meu Universo,
timidamente, construo o meu verso,
pedindo-te singelamente: “Não vás!...”

Autor: Vitor.C
Imagem: Internet

O LIGEIRO ESTREMECER DO TEU QUEIXO
Hoje, passei por ti…
numa voragem que apenas o tempo
sabe deixar marcas tão profundas,
numa viagem com destino marcado, 
entre uma partida constante
e uma chegada sem fim…

Talvez me tivesses pressentido,
(saboreio essa imagem docemente!),
talvez tivesses o olhar fixo no rio
e o rio parado em ti
ou, talvez, o ruído do comboio nos carris
te tenha atraído a atenção para o nascente,
por onde hoje o Sol não se mostrou
e onde hoje olhei para ti…

Entre dedos, seguravas a xícara do café
e, entreabertos, os teus lábios carnudos
sorviam os aromas da manhã
enquanto distraías o vago olhar
pelo caminho onde me sentias estar
e apenas eu iria notar,
se mais perto pudesse apreciar,
um ligeiro estremecer do teu queixo
quando ouviste o grito apelativo
da máquina desalmada que me transportava
para os lados do Sol que não vias
e do rio que te não leva ao mar…

Poderia ter sido do quente café
ou do lamento doloroso do amigo canino
que fiel mas já impaciente te esperava
esse leve e sensível tremor
entre o coração e o lábio inferior
mas eu prefiro pensar
que pressentiste o meu passar…

Hoje, passei por ti,
como já antes tinha passado…
será que eu fiquei em ti
ou já só existo entre o Sol que hoje não vês
e a porta da tua alma que não abres?...

Autor: Vítor Costeira
Imagem: Internet

APENAS MAIS UM...
Já não ficas com o corpo a ferver
e dos teus olhos perdi o brilho…
os teus joelhos não voltaram a tremer
e o traçado nervoso do teu queixo,
decidido, desapareceu também…
já não guardas algum tempo para mim,
perdeste o gosto de me dizer sim
e remeteste a paixão para além do Além!

Deixei de ser aquele que dizias teu
e passei a ser unicamente eu.
Agora, sou apenas parte do comum…
agora, sou apenas mais um…
aquele que se dilui na multidão,
que se confunde com as sombras no chão,
o que desaparece sem que ninguém
se aperceba que ali esteve antes,
mas que nas suas rudes mãos tem
gestos puros e generosos como diamantes!

Já não ficas como sempre ficavas
e, mesmo que por perto de mim estejas,
sei bem que já aqui não estás…
as tuas palavras queimam como lava,
a tua flor preferida deixou de ser o lilás
e tudo aquilo que eu fizer ou disser
será sempre algo para negar ou desfazer,
antes de o ponteiro dos segundos
perfazer uma volta inteira ao teu mundo
e eu mergulhar bem fundo
no frio da tua presença sempre ausente,
no quente que essa ausência se faz presente!

Já não és quem eras e eu também já não o sou…
quem sabe se um dia não voaremos,
de novo, o mesmo ousado voo!
Quem sabe se um dia, de novo, seremos!

Autor: Vitor.C
Imagem: Adam Martinakis http://adamakis.blogspot.pt/

JOGO DE CONTRASTES (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Tu és o Sol e eu sou a Lua,
és fechadura e eu sou gazua…
eu sou a noite e tu és o dia,
és alegria e eu melancolia…
tu és o calor e eu sou o gelo,
tu és a pele e eu sou o pelo…
eu sou a sombra e tu és a luz,
tu és a face e eu sou capuz…
tu és um mar e eu sou um rio
tu és amar e eu sou o cio…

Tu és sinónimo e amor ameno,
eu sou antónimo, eu sou veneno…
és Universo e eu sou apenas
um verso inverso nos teus poemas…
somos diferentes, somos iguais,
somos sementes e nada mais!

E é assim que somos os dois,
um sempre antes e um já depois…
um que diz não, outro que diz sim,
a algo lindo que não tem fim!!!

Autor: Vitor. C
Imagem: Internet

NUNCA DESISTAS DE TI!
Sempre que a solidão
invadir a cabeceira da tua cama
e se instalar entre a pele e o pijama,
num frio arrepio,
no silêncio vazio
que nenhum sonho poderá aquecer,
nas noites em que os teus braços
não encontrarem abraços
e regressarem resignados ao corpo hirto,
que se afunda na imensidão do colchão,
lembra-te de que és apenas aprendiz
de algo que ninguém te ensinou
e não desistas de ser feliz!

Sempre que a tristeza
te desequilibrar o alimento da alma
e se sentar cruel contigo à mesa,
num apetite faminto e voraz,
para o qual não encontras um nome,
para além de fome,
nos infinitos compassos do tempo
que prolongam o sofrimento
e avinagram de dor as feridas abertas
que se tatuam em eternidade,
como marcas impressas numa matriz,
que não pediste nem quiseste,
não desistas de ser feliz!

Sempre que a vida se fizer em ti cicatriz
ergue os olhos ao céu, sorri
e não desistas de ser feliz!

Sorri! Nunca desistas de ti!

Autor: Vitor. C
Imagem: Internet

SILVESTRE AMOR
Colho-te fruto
em silvestre amor…
beijo-te amora
no hiato que demora
o fruto a colher,
nos dedos tintados,
de entrededos te ter,
em escarlate suados,
com o suco a escorrer
que depois vou sorver…

Amor, amora,
aqui e agora,
fruto que o olhar namora
desde o amanhecer
até outro dia nascer,
deixa-te acontecer…

Autor: Vitor.C
Imagem: Da internet

REGRESSO A NÓS...
Prepara esse sorriso gentil
com sabor a frutos frescos
e cheiro de plantas silvestres;
prepara o teu quente abraço
com asas brancas de anjo
e malícia ardente de mulher;
prepara esses olhos lindos,
como estrelas sedutoras de paz
e oásis pleno de amor!

Prepara o mais bonito vestido
e permite os ombros espreitarem,
perfuma o mais quente tecido
e deixa-os de mim se esconderem,
ondula as madeixas do cabelo
e, nervosa, enverniza as unhas
que irão percorrer a pele e o pelo
até a noite se unir com o dia
e as vozes serem doce melodia!

Prepara todos os teus sentidos,
prepara todas as tuas forças,
prepara os desejos contidos,
prepara o corpo e a alma,
para te perderes no meu peito,
e acendermos uma chama calma
que aquecerá o nosso leito
sustendo a nossa rouca voz,
no nosso regresso a nós!

Autor: Vitor.C
Imagem: Adam Martinakis

IMAGINA
Imagina…
o ar que respiras
transportar corpúsculos meus
e o cheiro da minha pele
infiltrar-se nas tuas narinas,
enquanto eu te imagino
inebriares-te,
embriagares-te de mim
e ansiares que a imaginação
possa ser pura realidade…

Imagina…
ouvires o eco de palavras
que já foram ditas
muito antes de nós
e saboreares ser eu a dizê-las,
enquanto eu te imagino
deliciares-te,
fantasiares com a minha voz
e esperares ouvir-me chegar
no abrir da fechadura da porta…

Imagina-me…
abraçar-te,
cobrir-te como um lençol,
descobrir-te aos meus olhos,
amar-te!...

Imagina-me…
Imagino-te…

Autor: Vitor.C
Imagem: Vladimir Kush
http://www.mdig.com.br/?itemid=3373

BOM-DIA... (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
...e, assim, amanheceste os teus sentidos em mim
e acordaste o torpor da madrugada,
acariciando o momento,
enchendo o silêncio com ternura
e despertando os meus sentidos em ti...
Não sei se tinhas as pálpebras cerradas
porque os meus olhos fechados não vêem
mas senti as pontas dos teus dedos
redescobrindo caminhos já conhecidos,
folheando as páginas de um livro
como se fora a primeira vez que o lesse...
Não trocámos palavras entre os dois
porque para amar não é necessário dizer
nem para ser amado é necessário ouvir!
E a vida, o Mundo inteiro,
tudo recolheu àquele ponto do Universo,
ao vórtice infinito daquele instante!
Serenamente cansados,
repousámos os corpos na doce manhã
que despertou os seus sentidos em nós
e, num sussurro, disseste-me:
-- Bom-dia...

Autor: Vitor.C
Imagem: http://www.chobirdokan.com/2061/love-and-rain/

...APENAS ISSO ME CHEGA! (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Recebe-me…
não necessito de euforias,
flores ou fantasias,
apenas preciso
que me recebas de alma aberta,
sem nenhuma palavra certa
mas com um simples e lindo sorriso…

Recebe-me no teu universo,
sintetiza-me num só verso,
idealiza-me como teu querubim,
deixa-me aconchegar em ti,
permite-me pernoitar
onde o Sol se costuma aconchegar,
e, assim, manter o calor
que ele amanhã virá buscar,
precisamente a este mesmo lugar
onde restará apenas o meu odor…

Como um doce licor,
saboreia a minha chegada
como se não houvesse amanhã
e o amanhã não tivesse uma madrugada,
para que a partida não seja desejada
nesta ventura pura e sã…

Recebe-me…
aconchega-me…
apenas isso me chega!

Autor: Vitor.C
Imagem: Internet

VIESTE DO FIM DE UM MUNDO SEM TEMPO!
Vieste do fim de um mundo
tão distante e distinto do meu,
tão livre e tão profundo…
missionária de um jubileu,
portadora de uma boa-nova,
melodia em doce trova,
que desfibrilhou o meu coração,
que batucou em loucas sinfonias
e que arritmaram as pulsações
dos meus quietos dias,
transbordando em emoções
aquecendo as manhãs frias!

Vieste do fim de um tempo
que eu não sabia existir,
por dentro do suave aroma a incenso,
no degustar da especiaria do porvir…
pacificadora com gestos de gratidão,
vieste como um anjo flutuando,
salmos de paz e amor cantando,
preenchendo brechas no coração
que tão abertas gritavam solidão…
e com simples palavras de magia
descobriste em mim um sorriso
onde antes apenas gelo havia!

Vieste de um mundo sem tempo
e fizeste do meu tempo o teu mundo!

Autor: Vitor.C
Internet: Tomasz Alen Kopera

SE UM DIA TU NÃO ME QUISERES...
Se um dia tu não me quiseres,
escreverei um poema feito de água
com sabor a sal,
um poema de lágrimas, sim,
mas sem pingos de mágoa,
prenhe de felicidade imortal,
não pelo que não vou ter
mas por tudo aquilo que me deres
até que esse momento aconteça
e quero que saibas que não vou sofrer
sempre que esse poema voltar a ler,
porque fui o homem que nunca pensou ser,
porque fui o ser a quem ofereceste o teu ser…

Se um dia tu não me quiseres,
não conseguirei evitar chorar,
os meus olhos serão mais dois oceanos
e a minha dor será um mar,
mas no instante suave da partida
sorrirei e abençoarei toda a vida
por ter sido por ti escolhido,
por ter contigo vivido e repartido
os mais lindos sonhos e ilusões,
os piores desencantos e as desilusões
que desenhámos em cada olhar do tempo,
enquanto o tempo condescendeu ser nosso,
enquanto o tempo quis ser sentimento…

Se um dia tu não me quiseres,
não vestirei o meu sorriso com solidão,
nem viverei os meus dias com amargura,
num rosário de lástimas e saudade
pois serei o homem a quem ensinaste a felicidade
e tu a mulher que dançou comigo no Paraíso,
enquanto a orquestra divina assim o quis,
enchendo e abençoando toda a minha vida
fazendo de mim, até ali, um ser muito feliz…

Se um dia tu não me quiseres
olharemos para as estrelas sorridentes,
e, por razões bem diferentes,
seremos ambos melhores seres!

Autor: Vitor.C
Imagem: Internet

... APENAS UM DIA FEITICEIRO
Às células de um,
juntaram-se as células de outro
e entrecruzaram-se as veias
e confundiram-se os cabelos e os pelos
e misturaram-se os suores
e saborearam-se os odores das axilas
e morderam-se as línguas
e uniu-se a carne
e contiveram-se os gritos,
aflitos por não gritarem,
e, num êxtase final,
aconteceu o momento,
o pecado sublime
a corpo inteiro!

Lá fora,
dos corpos ausente,
apenas mais um dia feiticeiro
respirava discretamente…

Autor: Vitor.C
Imagem: Internet

ADÁGIO PARA UMA NOITE DE INSÓNIA
Se chegares enamorada,
levitando como um anjo,
descalça e cansada,
ligeiramente embriagada
e com um perfume adulterado
volatizando do teu corpo…
simplesmente, não digas nada,
faz de conta que não reparas
que eu finjo estar a dormir
e que não ouço o teu bocejar
nem as roupas a despir,
um pouco antes de deitares
o teu corpo abandonado,
ao lado do meu já deitado,
meio trôpego, desajeitado,
e adormeceres o teu fado,
sem saberes do meu sorrir,
nem medires o meu prazer,
na hora de eu adormecer
a insónia já cansada,
doce e esperada madrugada…

Autor: Vitor.C
Imagem: Retirada da Internet

OLHOS NOS OLHOS (Poema inserido no meu livro "SOU TEU")
Vamos conversar…
Vamos falar, por vezes, sem falar…

Olha bem no fundo do meu olhar
e descodifica o que há para decifrar
nos mistérios que em mim residem.

Despe a minha alma e lê o meu corpo,
segue-lhe os sinais que não fui a tempo de desvanecer,
aprecia muito mais o que sentires
do que aquilo que a visão te oferecer…
despe-me o corpo e lê-me a alma,
rasga os tecidos desprotegidos
e tenta encontrar algo já esquecido
nas artérias e veias que mapeiam a minha pele…

Suaviza e eterniza este momento,
cristaliza as gotículas do salgado suor
que da minha fronte se desprenderão
como chuva quente no Verão,
para a concha da palma da tua mão
e faz delas parte dos teus segredos,
guarda-as como cristais diamantizados,
em valiosos quilates lapidados…

Quando, por fim, eu estiver descodificado
na imensa enciclopédia dos termos sem significado,
fala-me, finalmente, das coloridas paisagens
que tão ansiosamente em mim desbravaste,
das empolgantes e subtis panóplias de imagens
que por todo eu em tela de linho pintaste
e dá-me um pouco do teu valioso tempo
para continuarmos neste doce momento…

Vamos conversar…
deixa-me olhar bem no fundo do teu olhar
e descodificar o que há para decifrar
nos mistérios que em ti residem…

Permite-me despir-te a alma e ler o teu corpo…

Autor: Vítor.C
Imagem: Tomasz Alen Kopera

ESTOU EM TI...
Se queres saber onde eu estou, amor,
procura bem por entre as páginas
do último romance que juntos lemos,
procura bem no meio das cartas
que de mim, apaixonado, recebeste,
procura bem no aroma das flores
que as minhas mãos te ofereceram,
procura bem na última roupa
que contra o meu peito aqueceste,
procura bem entre os dedos
que nos meus cabelos perdeste,
procura bem no mais gentil dos poemas
e das palavras de amor que me escreveste!...

Se queres mesmo saber de mim, meu amor,
procura bem dentro de ti mesma
e não te sintas confusa nem sobressaltada
quando em ti me encontrares
pois é mesmo em ti que eu estou!...

De que vale magoares-te,
de que vale acusares-te,
de que vale chorares por erros
de que nenhum dos dois é culpado…
estou em ti da forma que sempre estive,
estou em ti e nunca me ausentarei,
viverás, por mim e por ti,
todos os sonhos que desenhámos
e eu por ti esperarei
numa curva de um tempo sem fim.
Viverás por ti e por mim e eu feliz serei
apenas e só se fores feliz também…

(Estas palavras são inteiramente dedicadas a alguém que muito sofreu e que continua sofrendo, pela perda de seu companheiro... Lene Conti! Peço, o respeito total, como sempre tem havido!!!)

Autor: Vitor.C
Imagem: Internet

AGORA, BEBO O LUAR NA PRAIA...
Deste-me o Sol,
deste-me a Lua,
cobriste-me o corpo com estrelas
e fizeste de conta que sentiste
o agradecimento que eu não dei,
o sorriso que esqueci,
a mão que no bolso ficou.
Tudo o que tinhas para dar,
a mim deste…
tudo o que sabias fazer-me feliz
arrancaste de ti
e, nesse todo, me vesti,
pavoneando um eu
que, dia a pós dia,
se distanciou mais do céu!

Oferendaste-me um Universo,
partilhaste-te por inteiro,
doaste-me a dádiva maior
que apenas uma mulher pode doar,
inventaste em mim alguém
que jamais soube ser,
construíste-me,
edificaste-me,
sublimaste o quase nada
neste tudo que agora sou
e eu…?

Eu continuei a olhar sem ver,
olhando a praia e não vendo o mar,
não entendendo o luar
e ficando à espera
que continuasses a fazer de conta que sentias
o sorriso que não vias,
o agradecimento que não ouvias
e o carinho que não fiz,
enquanto dormias…

E eu…?
Eu agora bebo o luar na praia,
sempre que a noite me vem lembrar
que já não há ninguém
para me cobrir o corpo com estrelas…

Autor: Vitor. C
Imagem: Internet

SÓ DE PENSAR QUE ESTOU AÍ!...
Só de pensar que eu estou aí,
nas entrelinhas de um texto
que um dia será escrito como um romance
onde seremos protagonistas,
leitores, autores e solistas,
indiferentes às regras de pontuação
que junto com o sangue fluirão
sem um artístico rendilhado enredo,
desbravando caminho pelos dias sem fim
colorindo a ventura em tons de carmim,
esquecendo o tarde, degustando o cedo…

Só de pensar que eu estou aí,
fazendo parte de um acróstico,
ou projectado num acrónimo,
como sendo um intérprete anónimo,
formado pelo cruzamento de linhas e de palavras,
onde o meu nome apenas é visível pelos teus olhos
e o cheiro da minha pele se mistura com o teu,
indiferentes à Lua e ao Sol,
ao verde do mar e ao profundo do céu,
à misteriosa noite e ao esperançar do dia...

Só de pensar que eu estou aí,
nas dobras das coloridas capulanas
perfumadas com açafrão e canela,
trazidas em sonhos por uma caravela
que rumou além da Taprobana,
e desaguou nos braços de um abraço
de que se conhece apenas o momento inicial
e o cristalino do seu sal,
na transpiração da minha emoção,
no acelerar do batimento do meu coração…

Só de pensar que eu estou aí,
entre as sementes de mostarda
e o aroma do óleo de gergelim,
a minha felicidade sorri e se guarda
e tu fazes parte integrante de mim!

Autor: Vitor. C
Imagem: Zeca de Oliveira